Em resposta ao desafio colocado pelo José Teodoro,
pedi à minha aluna da Partida, Filipa António, para perguntar à avó o que sabia
sobre o assunto, e a resposta foi a seguinte:
Entre os anos de 1960 a 1970, o povo da
Partida andava revoltado com a situação do padre.
O povo queria um padre que estivesse
sempre a viver na Partida. Os habitantes não eram contra o padre Branco, porque
este também não tinha culpa desta situação.
O povo, para manifestar o seu
descontentamento, deixou de ir à missa e o padre deixou de celebrar a missa na
Partida. Quanto ao apedrejar do jipe do padre Branco, a minha avó já não se
lembra.
Através desta revolta, conseguiram
então um padre chamado Artur Campos. Assim, os povos da Partida e do Vale de
Figueira construíram uma casa para ele. Os habitantes ofereciam hortaliça,
azeite, fruta, para mostrarem o seu contentamento.
Filipa
António
A resposta desta senhora fez-me recordar a generosidade e o dinamismo
das gentes do pinhal (curiosamente, a partir dos Pereiros, aqui tão perto, a
personalidade e a gastronomia são já muito diferentes das nossas). Talvez
devido ao isolamento e o desejar não ter menos regalias ou privilégios que os
das outras terras, fez com que, ao longo dos tempos, valorizassem muito a
presença de quem fosse para lá viver, principalmente se fosse padre ou
professor.
Há cerca de 15 anos, estive colocada
por dois anos no Sobral de Cima concelho de Oleiros, entre Álvaro e Madeirã.
Daqui lá, 76 km de curvas, 150 diários. Quando lá cheguei, ainda tinham a casa
do professor em frente à escola, embora já sem condições de habitabilidade. A
oferta de produtos agrícolas e até animais, principalmente na matança do porco,
eram frequentes.
Um dia, convidei a minha colega das
Sardeiras de Baixo (a Maria José, também de São Vicente), a ir lá com os alunos
dela visitar os moinhos de água ainda a funcionar. Duas mães ofereceram-se para
nos dar o almoço. No total, não éramos mais de 12, mas o banquete chegava para
50.
Relativamente ao comentário da
Libânia acerca do padre Branco, recordei que também estive um ano em Janeiro de
Cima, onde idolatravam o padre Branco, que tem uma fotografia grande no Centro
Paroquial (penso que cá não há em nenhum local) e diziam que ele nunca devia de
ter saído de lá, que tinha sido o bode expiatório (o mais novo de três padres
que viviam nas Bogas de Baixo) e que era mentira o que diziam dele, o culpado
tinha sido outro!
M.ª
da Luz Teodoro
3 comentários:
Parabéns, Filipa, por mais esta colaboração! E continua a conversar com a tua avó, que ela tem muitas histórias para contar. Sabes que foi ela que me contou aquela do menino que nasceu com a boca aberta?
Quanto à guerra ao Padre Branco, cá para mim as pessoas da Partida têm alguma dificuldade em lembrar esses tempos, provavelmente porque foram tempos de que não se orgulharão muito. Também já tentei trazer o assunto à baila em conversas com utentes do Lar, mas não se descosem...
Quanto ao Padre Campos, lembram-se muito bem dele, principalmente da sua bondade, simplicidade e frugalidade. Dizem que ajudava toda a gente; que não tinha medo de pegar numa enxada ou numa picareta e fazer o que fosse preciso. As pessoas retribuíam com o que tinham na horta e na salgadeira, mas ele só aceitava uma cesta de batatas ou uma chouriça quando já tinha comido o que lhe tinham levado antes. Um bom exemplo para muitos de nós que gostamos tanto de acumular coisas que não nos fazem falta para nada.
Há dias vi o nome Padre Campos numa rua do Louriçal. Será a mesma pessoa?
M. L. Ferreira
Embora não sem conhecimento, quase garanto que o Pe. Campos do Louriçal não foi o mesmo Pe. Campos que esteve na Partida.
Muito dificilmente uma pessoa com as caraterísticas do Padre Artur Campos (Partida) tem direito a nome de rua.
Normalmente, os nomes de rua são dados a pessoas que acumulam e têm poder. Este não acumulava e não mandava, fazia.
Claro que há raras e honrosas exceções...
As pessoas da Partida têm razões para se orgulharem da luta que travaram e venceram! Nem todos os atos os honrarão, mas da outra parte aconteceu o mesmo. Por isso a memória que a Filipa aqui nos trouxe é tão importante.
Cara Maria da Luz Teodoro.
Gostei do teu esforço para complementar através de gente da Partida a história em que fomos encorridos.
A avó da Filipa tua aluna, filha da Alzira e do Jorge, ou não se lembra ou não quis falar sobre o que ocorreu naquele tempo.
Para falar com mais certeza, liguei hoje a uma pessoa amiga, da Partida, a Maria Delfina Ana Alves, (Telef. 272487339), uma pessoa muito ligada à Igreja naquela localidade e não só.
Explicou-me tudo sobre os padres que passaram pela Partida e lá habitaram, a começar por um tal Padre Virgílio que ali esteve muito antes destes feitos e que habitava uma casa que pertencia à madrinha desta Delfina. Depois de um interregno grande, o Padre Sílvio ia lá celebrar e promover algumas actividades mas não vivia lá. Veio então o Padre Manuel Oliveira Campos que começou por viver na casa da madrinha da dona Delfina e que é agora pertença da Maria dos Anjos Alves, avó da Filipa António.
O Padre Manuel construiu a casa paroquial da Partida e ainda lá residiu até que foi desterrado para a Fatela.
O povo da Partida zangou-se e deixou de ir à missa e aconteceu aquilo que foi contado no " Fomos encorridos". No entanto este povo foi fazendo sempre pressão para que a Partida tivesse um Padre.
Um Padre da Covilhã deslocou-se à Partida a convencer as pessoas de que para terem um Padre teriam que começar a ir à missa do Padre Branco.
A madrinha da Delfina e mais algumas pessoas começaram a ir a pouco e pouco e daí veio ordem para o Padre Artur Campos se estabelecer na Partida como coadjutor.
Em relação ao Padre Artur Campos gostaria que reflectissem sobre os dois comentários anteriores da Libânia e do Zé Teodoro. O povo da Partida não o tratou bem e ele não merecia.
Tenho na minha frente um pequeno envelope com um pequeno bilhete que diz:
-Ao Sr. Ernesto e família com votos de um Ano Novo Feliz e Próspero em benção de Deus. O sempre amigo e grato Artur Campos.
Era um homem bom.
E.H
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