O Manel Rodrigues seria
um rapaz irrequieto, travesso, amigo de pregar partidas. Como, na época, muito
da vida se resumia à dicotomia Deus-Diabo, o povo do Mourelo alcunhou este
Manel de diabinho, uma alcunha carinhosa com que o nosso povo costuma(va)
mimosear os seus membros mais irreverentes (equivalente a diabrete).
O miúdo fez-se um homem
e casou, no dia 9 de abril de 1750, com Francisca Fernandes. No assento do
casamento, o vigário acrescentou ao seu nome a alcunha que o povo lhe dera e
ficou Manoel Rodrigues diabinho, para que não houvesse dúvidas de quem se
tratava. Manoel Rodrigues havia muitos!
Os seus filhos e depois
netos adotaram a alcunha familiar, como se de apelido se tratasse. Nos registos
de 1800 a 1818, já aqui publicados, os Diabinhos eram muitos e haviam-se
espalhado pelas terras em redor, onde foram casar e fixaram residência.
Depois, alguns netos e
sobretudo bisnetos começaram a rejeitar a alcunha, ficaram só Rodrigues, e os
Diabinhos tornam-se raros até desaparecerem (acho que hoje não haverá nenhum).
Também, quem quereria carregar com tal apelido em tempos de tão grande
religiosidade, esquecida que estava a origem da alcunha e o orgulho por aquele
antepassado longínquo?
Foi assim ou parecido.
Como se pode ver no assento de casamento acima apresentado, este Manoel
Rodrigues, filho de Manoel Rodrigues e Brites Rodrigues, do Mourelo, terá sido
o primeiro Diabinho. O vigário até foi cuidadoso, pois escreveu a alcunha em
minúscula, para a distinguir do nome próprio (Manoel) e do apelido familiar
(Rodrigues ou Roiz).
José Teodoro Prata
Nenhum comentário:
Postar um comentário