domingo, 11 de outubro de 2015

Diabinho


O Manel Rodrigues seria um rapaz irrequieto, travesso, amigo de pregar partidas. Como, na época, muito da vida se resumia à dicotomia Deus-Diabo, o povo do Mourelo alcunhou este Manel de diabinho, uma alcunha carinhosa com que o nosso povo costuma(va) mimosear os seus membros mais irreverentes (equivalente a diabrete).

O miúdo fez-se um homem e casou, no dia 9 de abril de 1750, com Francisca Fernandes. No assento do casamento, o vigário acrescentou ao seu nome a alcunha que o povo lhe dera e ficou Manoel Rodrigues diabinho, para que não houvesse dúvidas de quem se tratava. Manoel Rodrigues havia muitos!

Os seus filhos e depois netos adotaram a alcunha familiar, como se de apelido se tratasse. Nos registos de 1800 a 1818, já aqui publicados, os Diabinhos eram muitos e haviam-se espalhado pelas terras em redor, onde foram casar e fixaram residência.

Depois, alguns netos e sobretudo bisnetos começaram a rejeitar a alcunha, ficaram só Rodrigues, e os Diabinhos tornam-se raros até desaparecerem (acho que hoje não haverá nenhum). Também, quem quereria carregar com tal apelido em tempos de tão grande religiosidade, esquecida que estava a origem da alcunha e o orgulho por aquele antepassado longínquo?

Foi assim ou parecido. Como se pode ver no assento de casamento acima apresentado, este Manoel Rodrigues, filho de Manoel Rodrigues e Brites Rodrigues, do Mourelo, terá sido o primeiro Diabinho. O vigário até foi cuidadoso, pois escreveu a alcunha em minúscula, para a distinguir do nome próprio (Manoel) e do apelido familiar (Rodrigues ou Roiz).

José Teodoro Prata

Nenhum comentário: