Naquele
tempo… melhor, no nosso tempo, contemporâneo, tecnológico; tudo é consentido,
os fazedores das artes ou estilos são livres de criar.
Enquanto
naquele tempo o artista se preocupava em fazer tal qual era a coisa que queria
criar, na contemporaneidade a arte a meu ver é um bocado insipida para o meu
gosto, nomeadamente no que toca à pintura, à música…
No
que à pintura diz respeito “que respeito”; há uns anos andava em Belém de
Lisboa admirando a monumentalidade que por aquelas bandas abunda. Mosteiro dos
Jerónimos; Torre de Belém; monumento que nos recorda os descobrimentos; os
célebres pastéis, por ai fora.
Em
frente ao mosteiro encostado ao rio foi construído na época em que vivemos um
edifício que não destoa nem desfeia, pelo contrário, embeleza, enriquece e
dignifica os arquitectos da nossa praça. À medida que me aproximava do Centro Cultural
ouvia uma bonita música tocada por alguém que sabia da poda com certeza.
Aproximei-me, à minha frente um magote de pessoas, a maioria idosas, trajadas a
rigor; elas com vestidos pretos cheios de lantejoulas. Eles; com um fatinho
preto; o cheiro a naftalina imperava. Dançavam ao som do órgão de um simpático
músico cabelo grisalho; tocava magistralmente as nossas melodias de sempre.
Estacionei
um pouco as pernas ouvindo e observando aquelas pessoas que dançavam quem sabe,
tirando a barriga de misérias “talvez por não balharem no tempo devido”.
Por
ali fiquei alguns minutos mais, a família escutando o órgão do Shegundo Galarza.
Numa
praça contígua, uma árvore de plástico ou de outra matéria, carregadinha de
garrafas verdes, sem folhagem, em frente um grande portal com um reclame que
dizia: Exposição Berardo. Entrámos, grandes espaços ocupados pela mostra de
arte do nosso tempo.
Gosto
mais da arte daquele tempo, mas respeito a arte do nosso tempo. Rabiscos para
aqui, vidros partidos aos bocadinhos para ali, uma tela completamente nua,
telas cobertas de pinceladas matizadas com várias cores…
Eu
sou suspeito, mas comigo iam pessoas deste tempo, vi-os torcer o nariz, não era
o único “bota-de-elástico”.
Quando
saímos, a tarde já ia velha, Shegundo Galarza continuava a dar música aos
dançarinos. Naquele tempo a autarquia alfacinha aos domingos à tarde organizava
tardes dançantes.
Seguimos
o nosso destino.
Aqui
para nós que ninguém nos ouve, não é necessário ir a Lisboa ver exposição tão
valiosa; Em Castelo Branco, a autarquia também construiu um Centro
Contemporâneo onde se exibe arte do nosso tempo.
Querem
saber a verdade! Gosto mais da arte do tempo da Josefa de Óbidos; Miguel
Ângelo; Rafael; Da Vinci; Nuno Gonçalves; Vasco Fernandes; João de Ruão…
Mas,
como o mundo avança cada dia um bocadinho, respeito.
No
parque da cidade prantaram umas escadas de ferro que comunicam com o passadiço
de granito; junto ao antigo edifício do comando do quartel de Cavalaria 8,
existe um “monumento”…
Em
Lagos existe uma estátua do rei D. Sebastião que não se parece com nada.
No
Terreiro do Paço em Lisboa quem não pára, para olhar a estátua equestre! E a
estátua equestre de D. João IV que se encontra no Terreiro do Paço de Vila
Viçosa? E o monumento aos Descobrimentos construído no nosso tempo, que se
situa em Belém de Lisboa!…
Abençoadas
mãos; que nunca lhes doam, como dizia a minha mãe.
E
a música! Os tímpanos ficam “danados” quando escutam músicas, sons sem nexo,
sem sumo, barulhentas, sem alma.
Como
se sente bem o espírito quando escuta uma melodia que acalma, relaxa; o artista
que a canta e os músicos que a tocam conseguem agarrar os espectadores que não
se enfadam
A
Verdadeira arte “música, escultura, pintura, literatura”… será sempre lembrada,
admirada; a outra não passa de uma moda passageira, fugaz, morre a geração,
desaparece esta.
Por
aqui me fico.
J.M.S
3 comentários:
E há lá coisa melhor que a liberdade?
Concordo contigo quando elogias as obras dos artistas clássicos: É de facto impossível não nos maravilharmos com a pintura ou escultura de Miguel Ângelo, pelo que pressupunha de sensibilidade e habilidade, para além de conhecimentos técnicos e científicos; não nos emocionarmos com a música de Mozart ou entramos no Mosteiro da Alcobaça ou da Batalha, na Sé de Lisboa, da Guarda ou de Lamego sem nos espantarmos e perguntar como é que foi possível construir aqueles monumentos, num tempo em que as técnicas e os meios eram tão diferentes dos atuais.
Mas é como se costuma dizer: gostos não se discutem, e se alguma vez pudesse sequer sonhar que poderia ter em casa uma obra de um reconhecido artista, acho que optava por algum que, a todas as qualidades que reconhecemos aos clássicos, aliasse a imaginação e a fantasia, qualidades mais frequentes nos artistas modernos e contemporâneos.
Admirar os clássicos não são só "gostos" (como diz o título), mas "bons gostos". No entanto, as artes, evoluem como todas as outras áreas da actividade humana. Os artistas pegam na realidade, recorrem à imaginação e alteram-na para, justamente, fazer arte!
Um exemplo: se olharmos para a "Mulher Chorando" do Picasso (representante do cubismo), percebemos logo que, no nosso mundo material não existe qualquer mulher como aquela. Porém, a imagem sugere-nos imediatamente, com grande intensidade, uma mulher, quiçá viúva, a chorar convulsivamente! E é isso que nos surpreende! Pois, apesar da (quase) ausência do real, podemos intuir que todas as mulheres (desde logo, as viúvas) se parecem um pouco com a que o artista retratou naquele quadro! E, ter a capacidade de fazer isso, é sua faculdade.
Isto quer dizer que, mesmo quando se entra no surrealismo (representação de coisas irreais, embora a partir do real), a arte pode produzir obras espetaculares! Por outro lado, saber se o homem só pode ter imagens tiradas do real (sendo, portanto, desprovido de qualquer imagem inata), é coisa a ver noutra altura...
Mas, por vezes, a coberto de que alguém está a fazer arte, chega-se a um ponto em que não há limites estéticos ou racionais. O que nos pode levar a pensar que "aquilo não quer dizer nada!" Por isso, há muitas manifestações de arte moderna que tenho dificuldade em entender (pelo menos, como arte). A não ser que alguém mo consiga justificar cabalmente. O que admito. Mas, até lá, estou na minha. E, neste particular, dou razão, em parte, ao JMS.
Mas este é um daqueles temas que, se estivéssemos aqui a dicutir, nunca mais acabávamos...!
Abraços, hã!
JB
Há uma história engraçada que pode justificar um pouco as características da coleção Berardo. Ouvi-a numa entrevista que deu a uma televisão, na altura em que se discutia a sua ida para o Centro Cultural de Belém:
Questionado sobre a formação e sensibilidade que motivaram o investimento em obras de arte, respondeu o entrevistado mais ou menos isto:
- Antes de me casar, vivia na África do Sul, fui com a minha noiva a uma casa de móveis escolher a mobília para o quarto. Depois de termos escolhido o principal, vi uma pintura muito bonita, com um menino a chorar, pendurada numa parede. Gostei tanto do quadro que perguntei se estava à venda e quanto custava, que também o queria levar. A desilusão que tive quando a empregada, à certa altura, me disse que o quadro era cópia duma pintura famosa cujo original estava no Museu do Louvre!...
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