Um estudo recente projeta para 2100 um clima semiárido para dois terços do território português, com subida da temperatura média em 6 graus e metade da chuva atual, pois em cada 10 anos haverá 7 de seca. Castelo Branco terá um clima semelhante ao do sul de Beja.
Perante este cenário,
só temos uma saída: não é reclamar água para a agricultura que se quer fazer, é
fazer a agricultura que se pode fazer com a água que se tem.
Nesse sentido, as
universidades e alguns agricultores têm apostado num novo conceito para o
aproveitamento dos solos: a agricultura regenerativa, baseada nas práticas
agrícolas tradicionais da bacia do Mediterrâneo.
As chuvas serão cada vez menos frequentes e mais
intensas. O solo é o maior reservatório, mas em Portugal os solos são pobres e,
por isso, têm pouca capacidade de retenção da água. O que a agricultura
regenerativa defende é aumentar a matéria orgânica na terra para esta criar as
condições para uma maior absorção da chuva.
Os animais da pastorícia comem as ervas e deixam o
estrume. A matéria orgânica comporta-se como uma esponja na absorção da
humidade e tem de se apostar em árvores pouco exigentes em água.
Por outro lado, é aconselhável lavrar a terra o menos
possível, pois a consequente exposição da terra nua ao sol descontrola por
completo a microbiologia, uma vez que no tempo quente a superfície da terra lavrada
atinge uma temperatura muito superior à terra com cobertura vegetal.
PS: Fiz este texto para um podcast recentemente emitido na Rádio Castelo Branco. Podia indicar-vos links para lerem notícias interessantes sobre este tema, mas os jornais não dão acesso livre ao público, pelo que é preferível escrever agricultura regenerativa no Google e escolher de entre o que aparecer.
Há anos, nos Cebolais, o senhor que costumava ir lavrar a pequena horta dos meus sogros disse-me que só lavrava um pedacito para fazer horta e nas oliveiras bastava cortar a erva. Depois comecei a fazer a mesma coisa no Ribeiro Dom Bento e já concluí que é o mais correto, pois a terra absorve mais água, retem por mais tempo a humidade e não aquece tanto.
José Teodoro Prata
3 comentários:
Estas e outras alterações no tratamento das terras parecem fazer sentido. Para além disso, por alguns artigos que tenho lido e uma entrevista que ouvi há dias a uma investigadora em biologia, o agravamento da falta de alimentos para toda a população mundial, passa também pela alteração genética de algumas plantas, principalmente os cereais, tornando-as menos dependentes da água, adaptadas a terrenos pouco férteis e mais produtivas. Necessitarão também de menos fertilizantes e inseticidas.
Talvez a ciência nos ajude, mas temos que fazer a nossa parte…
Duas coisas que estão nas nossas mãos são reduzir ou mesmo acabar com a agricultura intensiva de regadio e com o uso de fertilizantes químicos, pesticidas e herbicidas.
A agricultura intensiva de regadio garante boas produções e exportações (por isso os nossos governos estão a autorizar a destruição de parte do Alentejo e do litoral algarvio), mas acaba com a biodiversidade, pois onde ela se pratica nem uma ervita cresce (nem insetos há para fazer a polinização) e usam-se os químicos em larga escala. Uns anos depois, a terra está esgotada.
Quanto aos químicos (adubos, pesticidas e herbicidas), eles são perigosos para a saúde e contaminam as águas que bebemos. E se alguma coisa aprendi do debate sobre o o projeto de cultura intensiva de regadio em volta da barragem de Santa Águeda/Marateca é que as entidades do Estado que deviam velar pela qualidade da nossa água nem fazem análises específicas para detetar os químicos que são usados nos pomares e depois escorrem para a barragem (o que já acontece agora e será multiplicado por muito se o projeto avançar).
Há quantos anos se sabe que os herbicidas que câmaras e juntas usam para matar as ervitas das ruas provocam doenças? Continuam a usar-se, porque quem manda são os gigantes económicos e não os políticos que nos representam. Este ano, a Câmara já não os usou no meu bairro, vieram cortar as ervas com uma máquina. Mas não sei se isto é geral em toda a cidade e o que se passa nas freguesias.
Andam nesta região, cidade e arredores, as gentes aflitas com tantos cancros que aparecem (desconheço se esta perpeção tem rigor científico). É verdade que é uma doença da velhice e por isso com tendência a aumentar com a subida da esperança de vida. Mas o número é grande entre pessoas de meia idade. Temos a central nuclear de Almarraz, na fronteira de Espanha, a cerca de 100 quilómetros de Castelo Branco, que deixa escapar as águas contaminadas para o Tejo, do qual se consome em grande quantidade o peixe do rio nas famosas migas de peixe. E bebemos a água da Santa Águeda/Marateca, adubada com as escorrências de todos os químicos usados nos já existentes pomares das envolvências da barragem, os tais que os laboratório do Estado não têm capacidade para detetar.
Como canta o Fausto: E assim vai Portugal... (e o Mundo, digo eu).
Pode parecer que sou um radical neste campo, mas tal como noutros, sei que a verdade quase nunca está toda num só lado.
Por exemplo, sei que os produtores das estufas usam muito menos herbicidas e pesticidas, pois estão em ambientes protegidos e controlados. Até produzem zangãos para depois fazerem a polinização dentro das estufas.
Pelo contrário, em estudo do verão passado, foi revelado que a nossa fruta de pomares é das que tem maiores concentrações de perticidas na União Europeia.
A ciência e a técnica estão a descobrir/fazer coisas boas, mas é preciso um equilíbrio e sobretudo respeitar a Natureza, que não precisa de nós para a protegermos, precisa é que nós não a destruamos.
E não esquecer dos humanos, que também pertencem á Natureza e que estão a ser escravizados em muitas plantações de agricultura intensiva portuguesas.
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