A minha mãe (digo mãe porque ao pai cabia ganhar dinheiro
para o sustento da família) semeava o milho de uma forma que comecei a
considerar anárquica, quando cresci e julgava que sabia tudo.
Milho, feijão grande (de trepar) e botelhas, tudo misturado.
As botelhas estendiam-se pelo cultivo, com os seus longos braços. O milho dava
jeito ao feijão, que trepava por ele acima, dispensando as empas. Na colheita,
tínhamos grão de milho para as galinhas, folhas de milho para as cabras, feijão
para comer, verde ou seco, e botelhas para a sopa e para o porco. Uma fartura!
Mas eu, conforme crescia, ia achando aquela mistura incorreta
e eventualmente menos produtiva, pois os modernos métodos de cultivo separavam
todas as plantas e modernidade seria sinónimo de sabedoria.
Até que ontem, um documentário que passa na RTP 2 à hora dos
noticiários, “As Américas antes de 1491” me deixou de boca aberta. O milho foi
domesticado na América Central, há 10 000 anos. Os Maias cultivavam-no à
mistura com o feijão, a pimenta de chili e as abóboras. As plantas apoiavam-se
umas às outras, por exemplo o feijão enriquecia a terra com nitrogénio,
ajudando o milho a crescer.
Exatamente como a minha mãe fazia! O mesmo método de cultivo
durante milhares de anos! Será que as vantagens da mistura foram sendo descobertas
pelos nossos antepassados ou elas passaram da América para a Europa, nos
testemunhos orais de quem o trouxe nos barcos comerciais?
Os nossos avós eram mesmo cientistas! Criaram saber
científico antes ainda de haver Ciência (séc. XVII) ou de saber que ela existia
(séc. XX).
E conheciam as vantagens da biodiversidade na Natureza, coisa
que os humanos atuais tanto ignoram, seja a diversidade animal, vegetal ou
humana.
José Teodoro Prata
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