Não se sabe ao certo quando é que os
Judeus chegaram à península Ibérica, mas há vestígios que indicam que já por cá
andariam há vários séculos, antes da fundação de Portugal. Pelos vistos
conviviam bem com os Mouros, e depois também com os cristãos, após a Reconquista,
embora ocupassem espaços específicos: as judiarias.
No século XIV os reis Católicos
decretaram a expulsão dos Judeus de Castela, e a maioria fugiu para Portugal. Muitos
acabaram por se fixar nas povoações junto à fronteira, na região da Beira
Interior. Belmonte, Castelo de Vide, Covilhã e Castelo Branco foram cidades com
comunidades judaicas muito importantes, e onde atualmente ainda vivem algumas
famílias.
Embora não fosse verdadeira a ideia de
que os Judeus eram todos muito ricos, existia na comunidade gente de grande
prestígio social e importância financeira: banqueiros, médicos (Amato Lusitano
e Garcia de Orta, por exemplo), cientistas, etc.; mas a maioria eram pequenos
comerciantes e artesãos que, apesar disso, davam um enorme contributo para o
desenvolvimento das regiões onde se fixavam.
Em Castelo Branco, dentro da muralha,
existem ainda as ruas dos Ferreiros, dos Oleiros, dos Peleteiros e dos Lagares
que certamente devem o nome ao facto de lá terem existido oficinas ligadas a
essas atividades, muito provavelmente propriedade de judeus.
Para além dos nomes, também o traçado
labiríntico das ruas é resultado da presença judaica em Castelo Branco. Este
desenho urbanístico, a par dos alçapões, desníveis e ligações escondidas entre
as casas, teria uma função protetora contra possíveis perseguições,
principalmente após o decreto de D. Manuel I que, a mando dos Reis de Espanha,
exigiu também a conversão e expulsão dos Judeus em Portugal.
Num passeio pela judiaria encontrámos
ainda muitos vestígios da presença judaica em Castelo Branco:
Provavelmente a porta de entrada da antiga
sinagoga;
Portadas biseladas, com sulcos (em baixo);
Lintéis Manuelinos, frequentes nas casas mais
abastadas;
Duas portas de entrada: uma de serventia da
habitação (a mais estreita), outra da oficina ou comércio. Inscrições sobre as
portas;
Nesta casa terá existido uma olaria que
empregava para cima de cinquenta pessoas, entre as que trabalhavam o barro e as
que o acartavam às costas, do cimo do monte, no castelo;
Símbolos cristãos gravados nas ombreiras a
atestarem ou simularem a conversão ao cristianismo (Há tempos, em Alpalhão, vi
uma porta que tem onze cruzes gravadas.
Disse-me a proprietária que é a que tem
maior número destes símbolos em toda a Europa);
E tantas outras coisas a merecerem uma visita!
M. L. Ferreira