A burra é um dos engenhos mais antigos e mais
simples de tirar água dos poços.
Ainda não há muitos anos, havia muitas por todo
o lado, principalmente se houvesse uma horta para regar. Atualmente ainda se
vêem algumas, mas a maior parte já é pouco utilizada.
Eram de fácil construção: bastavam duas varas
cujo comprimento variava de acordo com a fundura do poço, unidas uma à outra de
forma a poderem articular-se. Uma delas era apoiada num poste de madeira que
terminava em V (na da fotografia, o poste de madeira foi substituído por um de
granito), e na ponta da qual, rente ao chão, era presa uma pedra que servia de
contrapeso. Na ponta da outra vara pendurava-se um caldeiro que se fazia descer
dentro do poço, até à água, puxando a vara para baixo com as duas mãos. Fazia-se
depois o movimento contrário e despejava-se a água do caldeiro num tanque ou
diretamente na regueira.
Este trabalho, aparentemente simples, era feito
muitas vezes por mulheres e até por crianças. Fi-lo algumas vezes, e gostava. O
pior era quando a água era muita e as costas começavam a doer. Mas nem me
queixava porque sabia que a resposta era sempre a mesma: «Ainda bem que há
muita aguinha, filha, que sem ela havia de haver muita fome no mundo!».
M. L. Ferreira