Edmundo Pedro faleceu ontem e vai hoje a sepultar. Estava casado com Maria de Lurdes Ricardo, filha dos sanvicentinos Amélia de Jesus (Teodoro) e João Ricardo (este combatente da Grande Guerra).
Ler esta pequena resenha da sua vida, tirada de:
https://www.dn.pt/portugal/interior/edmundo-pedro-morreu-tive-uma-vida-fantastica-9079455.html (com cortes)
Antifascista, foi preso pela primeira
vez aos 15 anos e estreou o campo do Tarrafal.
Começou a trabalhar aos 12 anos numa
oficina de serralharia e aos 13 já estava no Arsenal da Marinha, onde conheceu
dois "vultos" do movimento operário, que o levaram nesse ano para a
Juventude Comunista Portuguesa. Com 15 anos foi detido no dia 17 de janeiro de
1934 pela primeira vez, quando da preparação de uma greve geral, em abril de
1935, depois de libertado, foi eleito para a direção da JCP com Álvaro Cunhal,
e aos 17 anos acabou preso uma segunda vez em fevereiro de 1936 - e em outubro
desse ano foi estrear (com o seu pai, Gabriel) "o tristemente
célebre" campo de concentração do Tarrafal, prisão em Cabo Verde para
presos políticos da ditadura de Salazar.
Poucos, como Edmundo Pedro (nascido no
Samouco, Alcochete, em 8 de novembro de 1918), podem apresentar um parágrafo
biográfico da sua adolescência tão intenso como este. Antifascista, afastou-se
do PCP e juntou-se ao PS no ano em que este partido foi fundado - em 1973.
Depois do 25 de Abril foi deputado socialista, presidente da RTP e um contador
da sua história. Morreu ontem em Lisboa, aos 99 anos, revelou fonte do partido.
A vida de Edmundo Pedro é de espanto.
Esteve dez anos no Tarrafal e, com o seu pai, foi o preso que mais tempo esteve
na "frigideira". "Eu bati o recorde da frigideira porque tentei
fugir. O castigo era 70 dias. Eu e o meu pai estivemos 70 dias. Não se pode
imaginar o que era aquilo. A temperatura lá dentro chegava a atingir quase 50
graus. À noite havia uma condensação e a humidade escorria pelas paredes e nós
lambíamos aquilo. Tiraram-nos a água. Não se faz ideia do que era aquele
sofrimento", recordou na referida entrevista.
Não se armava em herói sobre esses dez
anos preso sem culpa formada e sem ser julgado (cortesia da ditadura).
"Tive momentos em que me fui abaixo." Não foi isso, no entanto, que o
fez baixar os braços quando voltou a Portugal. "Regressei a Lisboa para
ser, de novo, julgado no Tribunal Militar Especial", contou ele sobre o
seu "percurso existencial", uma nota autobiográfica escrita para o
blogue Caminhos da Memória.
Depois da Segunda Guerra Mundial e até à
Revolução de 1974, Edmundo Pedro conspirou "sempre contra a
ditadura". Esteve na campanha presidencial de Humberto Delgado, em 1958,
num movimento insurrecional "que pusesse fim à ditadura", primeiro no
12 de março de 1959 (onde escapou à polícia) e no "golpe de Beja", em
1 de janeiro de 1962.
Uma vez mais acabou detido, em Tavira,
para onde tinha fugido depois do falhanço deste movimento. Só foi libertado em
1965, com os seus "direitos políticos" inibidos por 15 anos. O 25 de
Abril chegaria antes.
Edmundo Pedro tinha cortado com o PCP
quando do tempo de prisão no Tarrafal. Em setembro de 1973 cruzou-se com Mário
Soares e aderiu ao PS, que tinha sido fundado em abril desse ano em Bad
Munstereifel, na Alemanha.
Já na democracia, ainda passou pela
prisão, em 1978, depois de terem sido encontradas 150 armas num armazém de uma
empresa sua em Setúbal. Essas armas, revelou no terceiro volume das suas
memórias, em novembro de 2012, foram-lhe entregues por ordens diretas de
Ramalho Eanes, na noite do 25 de novembro. "O Eanes, aqui nesta mesa
(aponta para uma mesa na sala de sua casa), pediu o apoio do PS para a
resistência e comprometeu-se a entregar 150 armas ao PS para que colaborasse
com eles", contou ao i. Nunca foram usadas e Edmundo Pedro não
revelou porque as tinha. "Bastava ter dito que Eanes as tinha dado",
mas achou que "não o devia fazer" por ser ele então o presidente da
República.
"Tive uma vida fantástica",
sintetizava ao i em 2017. Teve mesmo.
José Teodoro Prata