José da Silva Lobo
José da Silva Lobo, filho único de Cipriano da
Silva Lobo e Emília Maria Jerónimo Lopes, nasceu no Casal da Fraga, a 23 de Agosto
de 1895.
Frequentou a escola primária e teve como
professor o Padre José Antunes que, para além de o ter ensinado a ler, escrever
e contar, o ensinou também a falar línguas estrangeiras.
Na juventude, aprendeu a tocar requinta, na
filarmónica de São Vicente da Beira, e aprendeu também o ofício de alfaiate,
profissão que tinha quando assentou praça.
Após ter concluído a instrução da recruta, foi
mobilizado para integrar o Corpo Expedicionário Português e embarcou para
França, no dia 21 de Janeiro de 1917, integrando a 1.ª Companhia do 2.º Batalhão
do Regimento de Infantaria 21, como soldado com o n.º 438 e a placa de identidade
n.º 8894.
Do seu boletim individual de militar do CEP constam,
entre outras, as seguintes informações:
a)
Promovido
a 2.º Cabo, em 1 de abril de 1917, e a 1.º Cabo, a 12 de maio do mesmo ano;
b)
Em
setembro de 1917, iniciou serviço no S.B.F. (Serviço de Bandas e Fanfarras?) onde
continuou até julho de 1918;
c)
Licença
de campanha de 1 de maio até 23 de junho de 1918;
d)
Promovido
a 2.º Sargento Miliciano, em 18 de outubro de 1918;
e)
Entre
o final de 1918 e março de 1919, foi em várias diligências a Paris, a fim de
ali desempenhar um serviço dependente da comissão de codificação das
disposições de execução permanente em vigor no CEP (contava que acompanhava os
seus superiores servindo de tradutor);
f) Regressou a Portugal, em 4 de maio de 1919.
Louvores e condecorações:
·
Louvado
em 17 de abril de 1918, pelo diretor do S.B.F., «pelas muitas qualidades demonstradas durante a ofensiva alemã de 9 de
Abril, desempenhando dedicada e serenamente o serviço de que estava incumbido,
contribuindo valiosamente para que se tivesse salvado o arquivo do S.B.F.»
(boletim individual do CEP);
·
Medalha
comemorativa das campanhas do Exército Português em França;
·
Medalha
da Vitória;
· Cruz de Guerra pelos actos heróicos praticados em França.
Para além destas, recebeu ainda outras condecorações que não foi possível identificar e terá estado na primeira fila do Desfile da Vitória, nos Campos Elísios, após a assinatura do armistício.
Família:
Depois de regressar a Portugal, José da Silva Lobo
ainda permaneceu algum tempo em Lisboa, fazendo parte do quadro privativo da
Escola de Guerra. Foi lá que conheceu Maria da Piedade Dinis Mendes, a
companheira da sua vida. Tiveram três filhos:
1.
Cipriano
Dinis Mendes da Silva Lobo, que casou com Celeste Apolinário e tiveram dois
filhos;
2.
Alfredo
Dinis da Silva Lobo, que casou com Aurelina Afonso e tiveram dois filhos;
3. Zulmira Mendes da Silva Lobo (herdou do pai as mãos e a voz de artista), que casou com Manuel Barata Lopes e tiveram três filhos.
Passados alguns anos, o casal fixou residência
no Casal da Fraga onde, além de carteiro, José da Silva Lobo foi também
alfaiate. Mas do que ele mais gostava era de tratar da sua horta e do pequeno
rebanho de cabras que tinha. Dizem que às vezes até se esquecia das horas, e
tinham que o chamar para regressar a casa. Foi também secretário da Santa Casa
da Misericórdia de São Vicente da Beira durante alguns mandatos e pertenceu à Banda
Vicentina.
Para além de ser um bom tocador de requinta,
cantava muito bem, sobretudo o fado. Tinha um amigo, o Hermenegildo Marques,
que tocava guitarra, e juntavam-se muitas vezes para tocar e cantar numa
taberna que havia no Casal da Fraga. Era farra até altas horas. Outras vezes,
de verão, quando ia regar de manhã ou à noite, ao serão, punha-se a cantar.
Assim que o pressentiam, muita gente da Vila corria para a Estrada Nova só para
o ouvir. Alguns até traziam bancos de casa para se sentar. De tão bem que
cantava, chamavam-lhe o “Passarinho da Ribeira”.
José Cipriano foi toda a vida uma pessoa boa, e
por isso muito querida dos seus conterrâneos. Faleceu no dia 11 de Abril de
1955. Ainda não tinha completado 60 anos.
(Pesquisa feita com a colaboração da filha
Zulmira da Silva Lobo e da neta Susana Lopes)
Maria Libânia Ferreira
Do livro: Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra