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sexta-feira, 30 de abril de 2010
A ponte de Alcântara
Volto sempre à ponte romana de Alcântara, passagem para a capital da Lusitânia, Emerita Augusta (Mérida), situada nas margens do rio Guadiana, a pouco mais de meia centena de quilómetros de Badajoz e Elvas.
Mas por aqui faço a viagem de regresso. Na ida, é obrigatória a passagem por esta extraordinária obra de engenharia que maravilhou o Mundo Antigo.
A ponte romana de Alcântara situa-se a escassos quilómetros da fronteira de Segura, no concelho de Idanha-a-Nova. Foi erguida, no ano de 106, a fim de facilitar a travessia do Tejo, ligando a via romana que de Mérida e Cáceres seguia para norte, com a via que depois levava até Conímbriga, Viseu e Braga, por Idanha-a-Velha, Belmonte, Valhelhas…
A ponte foi construída no tempo do Imperador Trajano, por Caio Julio Lacer. Tem 194 metros de comprimento, 61 de altura e 8 de largura.
Na época árabe (após 711 até à Reconquista Cristã) a ponte deu nome à povoação que nasceu junto dela, pois, em árabe, “a ponte” diz-se al-quantarat (Alcântara).
A ponte romana de Alcântara diz-nos respeito, porque foram os povos, os municípios, das duas margens do rio que pagaram a sua construção, logo, os nossos antepassados de há cerca de 1900 anos.
Chamávamo-nos, na altura, Lancienses, segundo uns, Tapori, segundo outros investigadores. Talvez os Tapori fossem um subgrupo dos Lancienses. A nossa capital de então é ainda desconhecida.
Pormenor da inscrição, em pedra mármore, no arco do triunfo, à esquerda, com os nomes dos municípios que pagaram a ponte. Em primeiro, na sexta linha, vêm os Igaetani (Idanha-a-Nova).
Deixo-vos com a divisão dos povos da Lusitânia, segundo Jorge de Alarcão, na sua obra Novas perspectivas sobre os Lusitanos (e outros mundos), publicada pela Revista Portuguesa de Arqueologia, volume 4, número 2.2001.
Mas está on-line, no site http://www.apocalipse.us/forum/index.php?topic=895.0;wap2
A parte referente aos habitantes desta zona vem no final do trecho citado.
«Já em diversas ocasiões considerámos as posições geográficas e limites destas civitates (com excepção da dos Elbocori), civitates que possivelmente mantiveram, e sem grande alteração, na época romana, as fronteiras entre populi proto-históricos (Alarcão, 1990a, ultrapassado por Alarcão e Imperial, 1996 e Alarcão, 1998). Vamos manter essas fronteiras, com algumas correcções derivadas de mais atento exame do quadro oro-hidrográfico.
Referiremos, em primeiro lugar, que a proposta de situar os Lancienses Transcudani na margem esquerda do Côa, apresentada por muitos autores, assenta na ideia de que o Côa se chamava Cuda. Fernando Curado (1988-94, p. 216) observou já que o nome antigo do rio seria Cola, ainda atestado na época medieval. J. P. Machado (1993, voc. Côa) considerou Cola dos documentos medievais como um falso latinismo mas não cremos, neste particular, que o autor tenha razão.
Situados no planalto da Guarda/Sabugal, os Lancienses Transcudani viriam até ao rebordo desse planalto ou, mais concretamente, até às alturas de Cabeço das Fráguas (1018 m), S. Cornélio (1008 m) e Mosteiro (939 m), três elevações que se observam na paisagem a muitos quilómetros de distância. A sul, o limite passaria pela serra da Malcata (que, aliás, poderia ter sido a Cuda romana, nome não atestado literária nem epigraficamente mas pressuposto pela própria designação de Transcudani).
A norte, os Lancienses Transcudani confrontavam com Aravi e Cobelci, embora não possamos propor uma linha muito provável (vid. todavia Alarcão, 1998, onde se traça essa fronteira).
É também incerta a raia oriental, bem como a localização da capital desta civitas, capital que poderá corresponder à Tutela do Parochiale suévico.
Na Cova da Beira ficariam os Ocelenses Lancienses, cuja capital também permanece, por enquanto, desconhecida, já que as escavações de Terlamonte, sítio proposto por nós como provável sede administrativa, não revelaram núcleo urbano.
É muito possível que o vale da ribeira de Meimoa integrasse ainda os Ocelenses Lancienses, cujo limite meridional poderia correr, de nascente para poente, pelos actuais marcos geodésicos de Santa Marta (804 m), Cabeça Gorda (525 m), Ferreira (578 m) e Enxames (604 m). Entre os dois últimos há uma passagem por onde corre a ribeira de Taveiró e, hoje, a estrada n.º 346 de Penamacor a Capinha. Na área dessa passagem, numerosos topónimos em que entra a palavra "vale" sublinham o seu carácter afundado. Vale das Ovelhas poderá referir-se a rota de transumância para as campinas de Idanha.
Em Salvador, um terminus augustalis entre Igaeditani e Lancienses Oppidani, CIL II 460, permite situar estes últimos para além da serra de Penha Garcia. Por ficarem sediados maioritariamente em território hoje espanhol, consideraremos os limites dos Lancienses Oppidani mais adiante. Diremos aqui apenas que, ao contrário do que já propusemos, não nos parece que Penamacor tenha sido o lugar da capital destes Lancienses (Alarcão, 1998, p. 149).
O topónimo Penamacor não derivará de Pena+Macur ou Macurium? Pena é topónimo medieval comum. Macur ou Macurium conteria uma raiz Mac- ou Mag- e uma componente -ur-, que surge em Verurium e Elbocoris. A raiz Mac- ou Mag-, também observável na Beira central, onde se situariam os Magareaicoi (Vaz, 1997, p. 188), encontra-se no suposto território dos Ocelenses Lancienses, donde temos menção de um Silo, Angeiti filius, Maguacum (Alarcão, 1993, p. 37). Pelas imediações do local onde foi encontrada a inscrição que regista este Silo corre a ribeira de Mogo. A alternância o/a verifica-se em época romana, como se prova pelo nome de Copori, que Ptolemeu chama Capori, e em português medieval, porque o nome de Penamacor também aparece grafado Penamocor (Machado, 1993, voc. Penamacor).
Se esta proposta de etimologia for correcta, Penamacor, chamada Macur ou Macurium, não pode ter sido capital dos Lancienses Oppidani, visto que esta se chamava Lancia Oppidana. Penamacor seria apenas vicus ou castellum, aliás possivelmente importante, no limite entre Oppidani e Ocelenses.
A sul da serra da Gardunha ficavam os Tapori, que confinavam com os Igaeditani. Propusemos, em trabalho anterior (Alarcão e Imperial, 1996, p. 42), uma fronteira entre estas duas civitates correndo pela ribeira de Alpreade até à sua confluência com o Ponsul e descendo depois por este rio até ao Tejo. Não podemos, hoje, deixar de perguntar-nos se a fronteira entre Igaeditani e Tapori não poderia coincidir com a extrema oriental da enorme herdade da Cardosa, doada aos Templários, em 1214, por D. Afonso II (documento publicado por Cardoso, 1940, p. 27-29).
Infelizmente, não conseguimos localizar os topónimos que no documento de 1214 se citam entre o Tejo (talvez não longe da sua confluência com o Salor, rio da sua margem esquerda, em território espanhol) e Escalos (não importa se o documento se refere a Escalos de Cima ou de Baixo, dada a proximidade a que se encontram as duas povoações). Podemos, todavia, com alguma verosimilhança, fazer passar a extrema da herdade pela actual freguesia do Ladoeiro e pela Ponte da Munheca, onde se encontra, numa gravura possivelmente proto-histórica, uma cruz demarcatória, talvez feita por ordem de Rodrigues Mendes e Mendo Anaia, com outros bonis hominjbus, encarregados, segundo o documento de 1214, de assinalarem a extrema per petras et per signos (Figs. 4 e 5). Neste caso, a fronteira entre Tapori e Igaeditani, que voltaremos a discutir mais adiante, seria um limite artificial, não coincidente com linha orográfica ou hidrográfica.
A localização dos Tapori na área de Castelo Branco parece-nos suficientemente credível. Talvez a cidade de Verurium, citada por Ptolemeu, tenha sido a sua capital.»
Templo romano em honra do arquitecto da ponte Caio Julio Lacer, que ali foi sepultado. Após a conversão dos romanos ao Cristianismo, o templo foi dedicado a S. Julião.
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