Em finais de 2011, já lá
vão 4 anos, dei-vos a conhecer a minha grande tristeza com o estado de
degradação de um dos locais mais nobres e vetustos da Vila numa crónica aqui
publicada: A Fonte Velha. Volto hoje ao tema.
Não se pode dizer que nada
foi feito, de lá para cá, para inverter a situação. Temos a casa da música, que
reabilitou, com bom gosto, um espaço degradado e que faz com que só o Porto
rivalize connosco, com uma casa da música ainda maior e com melhor programa que
a nossa. E temos também o compromisso, por parte da Câmara Municipal, do
acabamento da casa paroquial e da demolição do barracão contíguo, que foi
construído com a participação de muitos de nós.
Mas cumpridas que sejam
as promessas da Câmara, representando um passo enorme para a reabilitação
daquele local mágico que é a Fonte Velha, local privilegiado de namoros
antigos, onde os nossos pais esperaram pelas nossas mães, antes de o serem, com
o coração ao pulos; onde se celebrava a festa da inspecção, entre amigos e irmãos,
que a embelezavam com vazos de flores e cabeleiras
amarelas, que muitas mulheres da Vila cultivavam com carinho especial, na
escuridão, para nesse dia os oferecerem àqueles jovens. A quantos encontros
simbólicos assistimos com o coração amassado, pelo Pe. Leal, entre Jesus, sua
Mãe e o amigo inseparável João?
A fonte velha vos digo eu,
além do lugar mágico que é, devia ser um local de culto. Um espaço cheio de
dignidade e por isso é com o coração amassado que venho assistindo à degradação
da casa Cunha, sem que o fenómeno pareça incomodar ninguém, quando nos devia incomodar
a todos.
O grupo informal dos Amigos da Praça, a que tenho a honra de
pertencer, que ali reúne regularmente durante o mês de agosto de cada ano,
tendo como um dos assuntos recorrentes a reabilitação daquele espaço, deliberou
tornar publica a deliberação tomada e que é a seguinte:
- A Junta de Freguesia (curadora dos
interesses colectivos) deverá envidar esforços junto da Câmara Municipal para notificar
os proprietários ao abrigo do artigo 89.º do Regime Jurídico da Urbanização e
Edificação, republicado pelo Dec.-Lei n.º 136/2014, que estabelece: as edificações devem ser objecto de obras de
conservação pelo menos de 8 em 8 anos…destinadas a manter a edificação nas
regras de segurança, salubridade e arranjo
estético.
- A intervenção destina-se a conferir
alguma dignidade àquele espaço urbano, que provavelmente estará até
classificado como núcleo histórico e por isso sujeito a regras mais apertadas.
- No caso de não ser feita qualquer
intervenção por quem de direito, a Junta/Câmara deverá obter destes
autorização para que qualquer delas possa intervencionar o espaço.
- A reparação consistirá em pintar a
fachada principal e a lateral da Rua da Costa, substituir os vidros partidos
das janela, retirar os estores que se encontram num estado de degradação total
e dar um jeito às portas. Sendo que o mais difícil será suportar o telhado
visível da Fonte.
- Foi ainda deliberado oferecer para
já os seguintes contributos: Francisco Barroso, José Craveiro e Tó Luis,
artista de lápis de carvão, mas também de nível e fio-de-prumo, dois dias de
mão-de-obra, cada. O João Craveiro ofereceu-se para instalar o sistema de
suporte do telhado em questão, o das águas para a Fonte.
Este contributo é disponibilizado
para o mês de agosto, que é quando o pessoal se encontra de férias, mas estou
certo que se a ideia for agarrada outros aparecerão. Não é uma questão
megalómana…está perfeitamente ao nosso alcance.
Lanço o desafio a todos
os que gostam muito de São Vicente. Àqueles que o assumem publicamente e aos
leitores desta nossa Praça virtual que, não se revelando, nos lêem porque
gostam também de São Vicente.
O meu grito está lançado.
Há alguém desse lado?
Fevereiro, 2016
Francisco Barroso