Requisitei este livrinho na biblioteca da minha escola, a fim de fazer um podcast para a Rádio Castelo Branco, rubrica "História num Minuto", sem saber que ia encontrar algo sobre a nossa terra.
Aqui vos deixo as duas partes do livro onde estão as recolhas realizadas em São Vicente da Beira, pela minha sobrinha Adélia dos Santos, e texto do podcast (não consigo publicar um ficheiro áudio), que foi transmitido pelo RACAB na semana passada.
A investigadora Adelaide Salvado
publicou, no ano 2000, um livro intitulado Remoinhos, Ventos e Tempos da
Beira, a partir de recolhas realizadas pelos alunos da Escola Superior de
Educação.
Nele escreveu sobre o clima das
regiões do interior da Beira: «...impedida a entrada das brisas marítimas pelas
cadeias montanhosas a ação moderadora das águas do Mar não exerce o seu papel
de fator equilibrador das temperaturas do ar. Deste modo, a temperatura
atmosférica atinge, no verão, elevados valores ocasionando uma descida
acentuada da pressão. O ar quente e leve sobe, então, em rápidos turbilhões
para as altas camadas da atmosfera.
A rápida subida o ar levanta
folhas e ramos e arrasta a poeira dos campos e dos caminhos.
Nesta atmosfera de elementos em
fúria, de céu subitamente toldado e enegrecido e envolto numa temperatura
escaldante, temores ancestrais brotam do coração dos homens.»
Os antigos chamavam-lhes
remoinhos, esponjinhos, borborinhos, vulvurinhos ou borborinheira. Acreditavam
que eram manifestações do diabo e contra ele apelavam ao Senhor e à Senhora do
Carmo, a São Bento, ao Menino Jesus, a Deus Pai, ao Senhor da Cruz, à Virgem
Maria, a São Jerónimo e à Santa Bárbara.
No Vale da Sertã, os antigos
diziam: Vai t´imbora porco sujo, vai à missa.
E em Castelo Branco: Foge,
diabo da cruz, que lá vem o Menino Jesus, com uma faquinha amarela, para te
cortar a goela.
No Ferro eram mais moderados e mandavam o borborinho para o mar largo, a medir areia com alqueires sem fundo.
José Teodoro Prata