sábado, 2 de maio de 2015

Mulher MÃE

As mulheres
São vaidosas
Belas e formosas
Limpas e cuidadosas
Destemidas e corajosas
Espertas e famosas
Belas e maravilhosas
Fadas do lar, ambiciosas
Respeitadoras e atenciosas
Puras e carinhosas
Não são preguiçosas
Simples e amorosas,
Muito estudiosas
Nossas mães ditosas
São muito cautelosas
Bastante meticulosas
Sempre preocupadas
Com seus familiares.
Mulher coragem
Mulher miragem
Mulher espoliada
Mulher castrada
Mulher guerreira
Mulher solteira
Mulher casta
Mulher casada
Mulher violada
Mulher viciada
Mulher calada
Mulher mãe
Mulher esposa
Mulher amante
Mulher atraente e possante
Mulher criadora
Mulher vencedora
Mulher sofredora
Mulher encantadora
Mulher educadora
Mulher doutora
Mulher sedutora
Mulher senhora
Mulher rainha
Mulher minha
Mulher; tua beleza
Afasta a tristeza
Enches o lar de alegria
Sem ti a casa está vazia.
Só tu sabes perdoar
Só tu sabes amar
Tens um grande coração
Gostas de partilhar o pão
Amas a paz e a união
Mulher aflição
Mulher virginal
Quantas vezes caluniada
Honesta, mas mal tratada
Trabalhadora, mas invejada
Quantas vezes enganada
Mulher amada
Mulher perdoada
Mas antes de mais...
São todas maternais.

Zé da Villa



José Teodoro Prata

sexta-feira, 1 de maio de 2015

1.º de Maio


Procurei, procurei e cheguei à canção do costume. Quem melhor que o Che para simbolizar a utopia de um mundo melhor? Ele que era de todos, sem ser de ninguém?

Depois encontrei esta do Zeca. Atenção ao final do poema. Parece que ele já sabia quem ia lixar os trabalhadores, nestes tempos.
Esta semana, na televisão, o António Barreto dizia que nos últimos 10/20 anos a classe política se apropriou da riqueza do Estado em proveito próprio, expoliando os dinheiros públicos.
Dias depois, também na TV, Viriato Soromenho Marques interrogava-se onde estaria o dinheiro que existia nos agora países em dificuldades.
Esse dinheiro foi roubado dos países, estes entraram em crise  e quem sofre são os trabalhadores, sobretudo os mais pobres.



SÓ OUVE O BRADO DA TERRA

Só ouve o brado da terra
Quem dentro dela
Veio a nascer
Agora é que pinta o bago
Agora é qu'isto vai aquecer

Cala-te ó clarim da morte
Que a tua sorte
Não hei-de eu querer
Mal haja a noite assassina
E quem domina
Sem nos vencer

Cobrem-se os campos de gelo
Já não se ouve
O galo cantor
Andam os lobos à solta
Pega no teu
Cajado, pastor

Homem de costas vergadas
De unhas cravadas
Na pele a arder
É minha a tua canseira
Mas há quem queira
Ver-te sofrer

Anda ver o Deus banqueiro
Que engana à hora e que rouba ao mês
Há milhões no mundo inteiro
O galinheiro é de dois ou três

José Teodoro Prata

quinta-feira, 30 de abril de 2015

A Fonte Nova do Louriçal


Um dos méritos destas publicações é o de nos fazer ir um pouco mais além.
Sempre que passava pelo Louriçal interrogava-me sobre a razão de terem mantido a inscrição «OBRA DA DITADURA» naquela fonte (realmente deve ser caso único em Portugal). O José Teodoro já deu alguns esclarecimentos; hoje fui até lá para fotografar a fonte e tentar obter mais algumas achegas. Não consegui muita coisa, mas uma das pessoas com quem falei disse que a fonte tinha sido mandada construir pelo Dr. Campos, médico da terra, contra a vontade do Dr. José Ramos Preto que não a queria naquele lugar. No dia da inauguração estiveram presentes todas as individualidades do concelho, mas o Dr. Ramos Preto não apareceu. Quando estavam a meio dos discursos ouve-se um homem, já bêbado, a gritar: «Viva o Dr. Ramos Preto que é o pai de todos os pobres da terra!». Toda a gente se calou.


M. L. Ferreira

Nota: Aconselha-se a leitura da publicação anterior e respetivos comentários, para uma melhor compreensão da questão aqui abordada.

terça-feira, 28 de abril de 2015

LUGARES AONDE SE TORNA – 4



T, de Talassa, ou os Guês pelos Esses

Há nomes que encerram enorme complexidade. Jesus e Eugénio são exemplos que baste.
Jesus, vai para um ano que o conhecemos – um episódio insignificante. Nas palavras do próprio (reproduzem-se de memória, não vá a realidade desmentir-me) o personagem propôs-se à militância em favor dos maltratados pelo capital e outro necessitados, mas os profissionalões da causa olharam-no de lado porque a missão pedia nomes de guerra consequentes. Querendo ser verdadeiros, há que declarar que conhecíamos o dito Jesus por outro nome – um prosaico José, que também é nome com peso bíblico, mas, vamos lá, de segunda linha; entre nós, para nos defendermos da dificuldade em pronunciar algumas sílabas – eg, Jogé, por Jozé – tratávamos o pobre por Zé.
Foi uma vocação que se perdeu, vamos lá. Banalizando, mais um tiro na causa da redenção dos humildes que o nosso poeta se propunha servir.
Cabe aqui outro José, o rimador, que dizem colega de Ernesto Hipólito, um outro poeta nosso conhecido de há muitos anos. Fontinhas, o versejador, fez-se gente na Atalaia e poeta no Porto, onde o dão como profissional dos serviços médico-sociais (outro escriba, em meu lugar, escreveria “modesto funcionário”). Foi o próprio que explicou como se fazem versos: “Toda a ciência está aqui, na maneira como esta mulher dos arredores de Cantão, ou dos campos de Alpedrinha, rega quatro ou cinco leiras de couves: mão certeira com a água, intimidade com a terra, empenho do coração. Assim se faz o poema”, lia-se em 1992 no Rente ao Dizer. Como diz o Martinho, poeta sem obra escrita, que vende livros usados, não pode ser feliz quem não tenha lido versos do Eugénio. Pode ser exagero, mas quem conhece o Martinho – e o Eugénio, vamos lá – compreende o que o homem quer dizer. Poesia à parte, recentremo-nos na razão de trazer aqui o rimador: fosse porque o José lhe fugia para Jogé, fosse para separar o funcionário do poeta, o companheiro de escola Zé Fontinhas é, para toda a gente, o Eugénio de Andrade, poeta.
Mais um José que se fez outro.
E há um terceiro que tal. Vem no jornal e, para que conste, aqui vai em meia dúzia de linhas. Havia notícia de que ZTP iria dar uma lição de História na única terra do país (que eu saiba) que conserva uma fonte/chafariz de duas bicas que evoca a capacidade realizadora da Ditadura Nacional – “Obra da Ditadura, 1932”, está lá gravado na pedra. Organizado por monárquicos – coisa que agora não tem o peso que teria quando se fez a Fonte Nova ou Fonte da Ditadura – o anúncio do evento declinava um único nome na coluna dos oradores, o Teodoro da Tapada. Porque a alguns cai mal que ainda deixem andar os monárquicos por aí à vontade, porventura temerosos de uma bernarda restauracionista, vitimaram o pobre com uma catadupa de recados e mensagens, não poucas com ameaças, basicamente exigindo a retractação do melro, se o homem era dos nossos, isto é um irrepreensível republicano, ou se era um convertido à causa dos cacetismo miguelista ou outra especialidade do tempo dos reis. Inclusive, um que conheço, nascido e jurado detractor de “raposões” e “talassas” (termos amigáveis com que morde, palavras dele, “a canalha monárquica”, seus “declarados inimigos”), esse artista se me declarou esperançado em ascender a algum título ou prebenda, quando fosse tempo, pela mão do bondoso da Tapada. À-vontades que eu não tenho, meus senhores!
Sosseguei quantos pude e como soube – “acompanhar com, não é o mesmo que ser”, pareceu-me argumento bastante, ainda que fraco. Só que a glória estava guardava para quem a havia de ter – no caso, os tipos da má-língua, os detractores do costume, que vieram aí ontem, atirando-me às ventas (o termo é forte, mas adequado, dadas as evidências) a página do jornal da paróquia, desta sexta-feira. Pintaram a manta lá à porta, “talassa” para aqui, “talassa” para acolá, as palavras como balas dirigidas ao mestre dos Enxidros, brandindo o jornal, aberto na notícia com o título assassino: “Monárquicos contam a história do Louriçal”, com foto do mestre palestrando para uma plateia de utentes da Fonte da Ditadura.
Foi gente rija, aquela com que me bati, que a mim tanto se me dá se o homem é talassa ou outra coisa política. Para ser prático, vou-me preparando, que já sei de uns quantos plebeus que a história tornou titulares – saibam quantos… que eu pedir, não peço, pois não está no meu feitio, mas se sua excelência quiser lembrar-se de mim para um título ou imunidade, não sou eu quem o vai decepcionar: tem aqui um soldado às suas ordens.
Seja ou não seja, amigos como dantes. Se é que me faço entender.
Vosso, do c.,

Sebastião Baldaque