O Santiago todo flausino, com a roupa nova.
Dizem os antigos que em primeiro a capela do Santiago
não era aqui; era lá em baixo nas lameiras; mas o santo vivia muito desgostoso porque
aquele sítio não tinha grandes vistas e havia lá muitas formigas que lhe davam
cabo dos pés. Por causa disso, sempre que podia, amontava-se no cavalo e subia pela
encosta arriba, até ao cimo do cabeço, aonde tinha vistas mais largas.
Um dia, numa nessas saídas, deu com uma velhinha, que
até diziam que era santa, e que lhe perguntou:
«O que é que vossemecê anda aqui a fazer, ó Santiago?»
E ele respondeu-lhe:
«Olá, ando aqui a espairecer, porque já estou muito
desgostoso com a capela que me fizeram lá em baixo! Sem vista nenhumas e ainda por
cima são tantas as formigas que ando desacorçoado de todo. Vê lá se me mandam
fazer uma capela lá em cima, no cabeço, donde possa avistar os meus irmãos que
estão no Sobral e no Barbaído e me possa ver livre de tanta formiga.»
«Ó meu santinho, o povo é tão pobre, aonde é que nós vamos
arranjar dinheiro pra vos fazermos outra capela nova?»
«Olha, tu bem vês que não sou muito grande, por isso
basta-me uma capelinha humilde e pequena como eu. Ainda pra mais há aqui tantos
povos ao redor que podeis ajuntar-vos e mandais fazer a capela por todos».
A velhinha andou de terra em terra a contar as
palavras do santo e toda a gente se uniu para ajudar a fazer a capela nova no
cimo do cabeço. Ficou pequena e humilde, como Santiago pediu, mas ele ficou
todo contente porque de lá podia avistar o São Brás e a Santa Cruz, os seus dois
irmãos.
A festa
realiza-se sempre no 1.º de Maio e em cada ano é organizada por uma das quatro
povoações mais próximas: a Partida, o Violeiro, o Mourelo e o Vale da Figueira.
Este ano coube
à Partida e houve festa rija quase como antigamente.
A capela, no cimo do cabeço, com sino e tudo, em dia de festa.
Dizem que, quem puser o chapéu do Santiago, fica livre de
males da cabeça e mau-olhado.
A afinar os bombos.
Os bombos acompanhados pela concertina e pelo pífaro.
M. L. Ferreira