A
menina dança? E o menino?
Tem os
seus riscos passar por estes Enxidros.
Não é novidade, todos o sabemos; sabem-no os amigos de Alex que aqui arcam com a despesa.
Reputações
firmadas, inquestionavelmente boas, já eu vi, por esta via, pouco menos que
arruinadas. Desde já, de quem escreve: o bom do Pachorra, Jesus numa
clandestinidade de há anos, atazanado precisamente por tal veleidade; ou o
Francisco, que andou para pastor de almas e a prazo conheceremos como pastor a sério,
entrementes castigado por a piscina na serra ser apenas um tanque, por sinal
bem pequeno; ou a Maria Libânia, de quem um dia se saberá por quantas expulsões
do seminário foi responsável; ou o Hipólito, o Teodoro do Casal e a Gramunha,
há um tempo mudos e sossegados; mesmo o Santos, o incensado poeta, a quem se
teima em vilipendiar pelo tom profético da frequente invocação do Pai; e o
Barroso e o … Estes, enfim, tenham lá paciência, pensassem antes, aguentem-se, não
se metessem nisto. Mas há os outros, inocentes apenas nomeados nestas prosas, a
propósito de um dito, de uma maneira de ser ou uma acção, maltratados por terceiros,
desapropriados da sua intimidade, a vida devassada – baste como exemplo terem
feito a vida negra (forma de dizer) ao Zé Miguel, de quem aqui se revelou uma
secreta tatuagem.
Seja, é
um risco, pois, a exposição nos Enxidros.
Isso
explica (será?) que em terra de tão frescas águas, notabilidades várias e
sumidades como poucas, o que se deseja é que a praça seja praticamente um clube privado,
com vista do exterior (o Santos teria escrito, neste passo, «tantos chamados,
tão poucos comprometidos!») Que se percebe, pois – o tal risco de não se poder
beber um café sem ser importunado. Para vossências entenderem: num café, na
Vila (continuamos com esta presunção, talvez morra connosco), em modo soprano,
atira-me à queima-roupa a Maria, lá de trás do balcão: «Ouve lá» (provavelmente
éramos conhecidos) «então tu é que és o Baldaque?» Assim. Um pecador fica
estarrecido, não é verdade? Outra: o Zé Miguel (ele outra vez), desafiado, em
plena praça, a mostrar o sítio secreto onde tem tatuada a imagem da antiga
namorada. Ali naquele sítio, na nossa
Praça? Já não há respeito pelo lugar, pelo dr. Raposo? Intimado daquela forma?
Poupem-me!
E, no
entanto, não há razões para se ficar inactivo, que o risco não é de morte de
homem.
Hora de
fechar isto, que não é mais que um convite à dança, um sinal subtil para que o
leitor ou leitora levante o rabo da cadeira, se junte aos amigos de Alex e dê corpo à festa da partilha, pela escrita,
indiferente às mães, tias e conhecidas (sentadas à volta da sala, dignas,
serenas, sobretudo zeladoras) e nas tintas para pais, tios e conhecidos (ocupados
na sueca, fiéis do Camilo Alves, da Central de Cervejas ou, agora, do Facebook).
À dança,
pois, que se dá um queijo da Soalheira, comprado na Paula Rola, a quem aqui
trouxer as razões da professora desesperada que descolou, puxando-a com
elegância, a orelha direita do Luís. Um bocadinho.
Sebastião Baldaque