sábado, 17 de agosto de 2019

Sonhos em cinzas

Eis-me de regresso aos Enxidros, depois de uma ausência mais longa do que o planeado.
Tive ecos do fogo em volta da barragem do Pisco, mas não conhecia a dimensão da tragédia. Ontem soube pelo jornal Reconquista e hoje fui ver. A realidade é bastante mais trágica do que o pouco que se avista da estrada.
A família inglesa viu destruído o fruto do seu trabalho durante os cinco anos que durou o sonho de fazer da Fonte da Pipa o seu lar. O fogo entrou-lhe pela quinta e levou tudo: árvores, estufas, equipamentos agrícolas, tubagens de rega e uma carrinha. Fornecera água à empresa florestal que chegou em socorro, mas esta levou-a para as chamas nos eucaliptos...


Outro sonho desfeito foi o do Lugar do Ainda, na quinta do padre Sarafana. A zona habitacional ficou a salvo, mas ardeu parte do pinhal e desapareceu a paisagem que atraía os turistas, já receosos depois da catástrofe de Pedrógão. Não lhes chegava, e também a nós, nunca se ter concretizado, de facto, a rota pedestre circular em torno da barragem do Pisco, ligando o Lugar do Ainda à Praça de São Vicente...
E o sonho do dr.º Lino, não menos importante por já não estar connosco. Tantas vezes o vi com o jipe carregado de grandes vasilhas cheias de água com que regava os sobreiros que ia plantando, no Valouro. Muitos perderam-se com o fogo, que foi atalhado no meio deles. Felizmente são de uma espécie que rebentará daqui a meses. Os sobreiros são perenes, tal como o exemplo que o dr.º Lino nos deixou.

José Teodoro Prata
Imagem da notícia do jornal Reconquista, de 08.08.2019

terça-feira, 23 de julho de 2019

As riquezas inauditas do Paulino


 
Exposição nos antigos Paços do Concelho, visitável nas tardes das Festas de Verão ou noutra data a combinar com o João Paulino, pelo telemóvel 969 525 298.

Fotos do João Paulino
José Teodoro Prata

segunda-feira, 22 de julho de 2019

A barragem do Barbaído/Tripeiro

Este era o artigo mais importante do jornal Reconquista de 11 de julho. Alguns terão ficado ofuscados pelo sanvicentismo do artigo da Libânia e não deram por ele, embora estivesse na mesma página.
É um texto todo virado para o futuro, do planeta à nossa freguesia. Mas para captar toda a sua riqueza é preciso ler para lá do que vem explícito!

 

José Teodoro Prata

quinta-feira, 18 de julho de 2019

Vocações


A minha terra é quase só uma rua, enfiada no fundo duma barroca. Hoje em dia já mal se lá vê gente. Não tarda, há de ser só silvas, telhados no chão e cães estendidos ao sol. Mas nem sempre foi assim. Antigamente todas as casas tinham gente; algumas até pareciam cortiços. Com tantas bocas a pedir pão, não ficava uma leira por tratar. Não eram tempos de grandes farturas, mesmo a trabalhar de sol a sol, mas também não se passava fome. E sempre havia alguma coisa para alguém mais necessitado que batesse à porta. Naquele tempo andava por lá muita gente a pedir esmola; chegavam de cesta vazia, que diziam que nos outros lados lhes davam pouco, mas ali, antes de acabarem o Pai Nosso pelas alminhas, já tinham alguma coisa na mão, nem que fosse só uma fatia de broa ou uma malga de azeitonas.
A sala da escola estava sempre à cunha; uma fiada de cachopos e outra de cachopas. No ano em que eu entrei, a professora era uma rapariga de fora. Quando a víamos chegar, nas segundas-feiras de manhã, montada num burro, até parecia a Nossa Senhora; só lhe faltava o Menino ao colo, como naqueles quadros da igreja. E ensinava bem: aluno que levasse a exame não fazia má figura ao pé doutro qualquer. Mas um ano, tinha eu feito a terceira classe, quando chegou o primeiro dia de escola, não apareceu; nem ela nem ninguém para o lugar dela. Mais tarde ouviu-se dizer que tinha havido para lá umas políticas, mas nunca se chegou a saber ao certo o que é que tinha sido.
Pela minha mãe, que não sabia uma letra, ficava-me por ali, mas o meu pai queria que eu fizesse pelo menos o exame da quarta. Sempre era uma enxada mais leve que me deixava, como ele dizia, e não de acomodou. Um dia, já perto do Natal, levantou-se cedo e disse que não contássemos com ele senão para a ceia, que ia tratar dumas vidas. E eu que fosse com as cabras para o mato, se o tempo levantasse. Quando chegou, quase noite, vinha feito num pito, mas até os olhos se lhe riam:
- Para o ano que vem vais para o Casal da Serra. Fui lá a falar com a minha irmã e ela diz não se importa que fiques em casa dela até ao exame.
Quando chegou a altura, lá abalo com a bolsa dos cadernos ao ombro, para casa da minha tia. Naquele ano estava lá um professor muito exigente: aquele que não tivesse a tabuada ou os rios e as serras na ponta da língua, eram logo duas ou três reguadas em cada mão. A mim não me deu muitas, que eu também era esperto e aprendia bem; às vezes até me punha a ensinar as contas aos que iam mais atrasados.
Quando chegou ao fim do ano mandou recado ao meu pai, que fosse lá a falar com ele. Nunca foi homem de grandes falas, o meu pai, mas, depois dessa conversa, mal abria a boca. Até cheguei a ter medo que o professor lhe tivesse feito queixas de mim. Mas um dia à noite ouvi-o a falar baixo com a minha mãe:
- O professor diz que o rapaz é esperto, e é uma pena se não continuar; mas o dinheiro mal dá para as décimas, como é que o mandamos Castelo Branco?  
- Manda-o para o seminário, que é capaz de ser mais em conta.
- Olha que não é mal pensado. Se calhar ao domingo já vou à Vila a ver o que é que se arranja.
Naquela altura nem sabia o que era um seminário e até julguei que fosse algum daqueles ricos que davam trabalho a toda a gente. Fiquei logo a pensar que era bom era que me metesse como pastor, que era o que eu mais gostava de ser. E até já me via, na serra, atrás de um grande rebanho de cabras. A semana passou-se e quando foi ao sábado à noite, depois da ceia, disse-me ele assim:
- Amanhã salta da cama cedo, que tens que ir despejar a presa; vai num pé e vem no outro, que ainda hemos de ir à missa do meio-dia.
À missa? Ele, que era tão mal amigo de lá ir, para arrelia da minha mãe! Algum santo estava para cair do altar…
- Vossemecê nunca vai à missa, o que é que lá vai a fazer amanhã?
- Isso agora não são contas do teu rosário; logo vês.
Quando chegámos à Vila já era quase meio-dia. A igreja estava à cunha, mas vi um sítio com umas grades, que até parecia um bardo, e perguntei ao meu pai se não podíamos ir para lá. Ele disse logo que não, que aqueles lugares eram só para a gente fina. Bem me pareceu, só pelas caras…
No fim da missa entrámos numa taberna já cheia de homens encostados ao balcão. Deviam-se conhecer todos, que quando viram o meu pai ofereceram-lhe logo de beber:
- Bota aqui mais um copo para este homem, que não há olhos que o vejam há que tempos!  
-É assim a vida... O pão não vai a ter sozinho a casa.
Depois de dois ou três copos, saímos da taberna e metemos por uma rua acima. Mais ou menos a meio, o meu pai bateu a uma porta e disse que era para falar com o Senhor Vigário.
- Ah, mas ele ainda está a almoçar. Têm que esperar um pouco.   
Passado um bom bocado mandaram-nos entrar. O meu pai foi à frente e eu fiquei à espera, à entrada. A seguir chamaram-me a mim. Era uma sala grande, com uma mesa no meio. O Senhor Vigário estava sentado à cabeceira, numa cadeira que parecia a dum rei; cheirava tão bem que até fazia crescer água na boca.
- Chega-te aqui para o pé de mim, meu filho.
Aproximei-me e ele deu-me a mão para lha beijar. Depois pôs-me a mão na cabeça:
- Com que então queres ir para o seminário… Muito bem! Muito bem! Do que a Igreja precisa é de muitas vocações como a tua. E vais dar um belo padre! Ai isso é que vais… Mal possa, vou tratar do assunto; fica descansado que hás de entrar já este ano.
Assim que lhe ouvi estas palavras, compreendi logo quais eram as intenções do meu pai, mas não abri a boca. Quando me apanhei na rua, pernas para que vos quero; nem via o caminho. Só parei já para lá do cemitério.
Vocações como a minha? Não queria ele mais nada! Eu, que com os doze acabadinhos de fazer, já me punha a olhar para as cachopas, rua acima, com o cântaro à cabeça… 
Vocações?

Maria Libânia Ferreira

terça-feira, 16 de julho de 2019

Tirar o mel

Já crestei. 
Os dois enxames que comprei nos inícios de março ficaram a reproduzir-se todo o mês e só lá para meados de abril é que começaram a recolher néctar a sério.
Entretanto, o frio e a chuva de abril criaram problemas numa das colónias, que por isso perdeu a época alta da floração.
Resultado: 1 alça (caixa) de mel num dos enxames, incompleta porque dois dos quadros tinham criação e por isso tiveram de ficar na colmeia.
Foi uma festa! No apiário (às 6 horas) foi tudo fácil, apesar das expetativas que me tinham sido dadas. Depois, em casa, foi o maravilhamento face ao produto do trabalho de seres tão pequenos, mas com uma organização exemplar.





Os favos cheios de mel são tão maravilhosos que tinha pena de os esmagar e por isso guardei muitos (além de terem qualidades medicinais superiores ao mel). Depois esmaguei e espremi o resto com as mãos. Ficou tudo a escorrer num coador, para um balde.
Este mel da Gardunha é leve e muito aromático. 

José Teodoro Prata

sábado, 13 de julho de 2019

Foi há 100 anos


Jornal Reconquista, 11.07.2019

José Teodoro Prata

quinta-feira, 11 de julho de 2019

Enxertias

Há uns tempos, mostrei-vos um pessegueiro nascido do tronco de uma amendoeira que ardeu no fogo. Fora enxertada num pessegueiro.
Hoje trago-vos algo parecido. Há anos reparei que rebentavam marmeleiros da base de uma pereira. Transplantei-os, pois tinham raiz. Este ano enxertei-os de pereira e pegaram.
São de uma variedade que andava a namorar há que tempos, mas não conseguia encontrar. Então fui à Horta de Estêvão da minha irmã Fátima buscar uns garfos de uma pereira que o meu pai ali plantou. É daquelas que dão peras pequeninas, em forma de pera, muito docinhas!


José Teodoro Prata