sábado, 6 de fevereiro de 2021

Já recebi!

Encontrei esta campainha que os meus antepassados me deixaram há mais de 100 anos. Estava dentro da parede do palheiro do Ribeiro Dom Bento. Está partida e por isso tem som de cana rachada. Tem colar de cabedal preso com cavilha de madeira.



Digo mais de 100 anos, pois a zona pertencia toda ao Conde de São Vicente, que vendeu as suas propriedades na segunda metade do século XIX. O tio da minha avó Doroteia era dono disto, nos finais do século XIX, talvez até tenha sido ele a comprar. Ele é que terá mandado contruir o palheiro, onde alguém meteu a campainha. Era também dono da Oriana que a minha avó herdou dele. Em volta há propriedades de primos meus, pois os seus avós herdaram igualmente deste Guilherme dos Santos ou dos pais dele. A Oriana fora também do Conde de São Vicente.

José Teodoro Prata

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

O seminário na pandemia

Como a família verbita é numerosa pelas nossas bandas, aqui deixo informação do jornal Notícias da Covilhã (imagem) e do boletim interno da SVD, que reproduz uma informação do VIVA SERRA.pt.

É com orgulho que constatamos o facto de os nossos missionários não ficarem à margem do combate à pandemia.


A “célere” evolução da pandemia de COVID – 19 na região da Cova da Beira obrigou a uma expansão de recursos para prestação de cuidados de saúde. Este facto esteve na origem da criação de uma nova “Unidade de Apoio Pós-Alta”, nas instalações do Seminário do Verbo Divino, na freguesia de Tortosendo, concelho da Covilhã, a qual se prevê abrir “muito em breve”, segundo comunicado enviado pelo Centro Hospitalar Universitário Cova da Beira (CHUCB).

A infraestrutura “estará dotada, com todas as amenidades e condições logísticas, que lhe permitirá receber utentes com alta clínica, provenientes dos internamentos não-covid do CHUCB”, de acordo com a mesma nota. O espaço está preparado para receber um máximo de 30 doentes.

O objetivo é tratar doentes que já não necessitem de cuidados especializados, mas que podem ainda “não dispor de alguns preceitos elementares, tais como: autonomia para a realização de atividades básicas diárias, condições de salubridade ou estruturas adequadas no domicílio, apoio familiar ou de terceiros, e outras, que até aqui eram asseguradas pelo Hospital, até se alcançar uma resposta social adequada”.

“Esta solução irá beneficiar aqueles que dela verdadeiramente precisam, mas permitirá especialmente aliviar a pressão, que se faz sentir nas áreas de internamento do CHUCB”, segundo a mesma fonte.

O CHUCB lança o apelo para a “participação cívica de todos” para suprir a “necessidade extraordinária de recursos humanos, a que uma estrutura desta natureza obriga”. Por isso lança “desde já o apelo, a quem queira colaborar de forma livre e voluntária neste projeto, para que se manifeste, na certeza de que por esta via estará a ajudar a cuidar de concidadãos, que se encontram em situação de maior vulnerabilidade socioeconómica e a ajudar o Hospital a libertar camas, para quem delas realmente precisa”.

Assim todos aqueles que tenham alguma experiência ou apetência na área da prestação de cuidados e se pretendam voluntariar para este projeto, de grande responsabilidade social deverão contactar o Serviço de Comunicação do CHUCB através do email: eventos@chcbeira.min--saude.pt, informando o nome completo, idade, situação profissional ou ocupação e contacto telefónico.

In VIVA SERRA.pt

José Teodoro Prata

sábado, 30 de janeiro de 2021

A festa de aniversário

 Era novembro. O dia acordou frio, mas tornou-se mais ameno, à medida que o sol ia subindo no céu. Uma boa ajuda para que a festa corresse bem.

Deram-lhe banho logo de manhã. Agora, despida do pudor que carregara desde menina, já não protestava quando lhe tiravam a roupa e metiam na banheira, tinha-lhe até tomado gosto; mas ao princípio, quando a filha mais velha a trouxe para casa dela, depois da morte do marido, era um castigo, agarrada à combinação:

 - Há lá precisão duma pessoa ficar toda encarrapata para se lavar? Foi preciso chegar a velha para me verem nestes preparos. Até é pecado! É por isto que o mundo anda como anda, que Deus Nosso Senhor não dorme…

Depois vestiram-lhe a melhor saia, preta desde há muitos anos, e a blusa, também preta com uma mosquinha branca. Fizeram-lhe a trança, já toda branquinha e muito minguada, uma sombra do que tinha sido, e enrolaram-lha na nuca, presa com ganchos, como usara desde nova. E sentaram-na no sofá da sala, onde ultimamente passava a maior parte das horas, de terço na mão, muitas vezes a dormitar. Daí a pouco viram-na de pé, a olhar à roda:

 -Precisa de alguma coisa, minha mãe? – Perguntou-lhe a filha da porta da cozinha.

 - Falta-me o avental. Onde é que ele se meteu?

 - Hoje é dia de festa, minha mãe! Fica mais bonita assim, sem avental.

 - É dia de festa porquê?

 - Então não é o dia dos seus anos? Noventa! Que conta tão linda! Já lhe cantei os parabéns quando a fui levantar. Não se lembra? Vai ser uma grande festa!  

 - Ah, não me lembrava. Esta minha cabeça já anda muito esquecida. Mas põe-me o avental, que não me sei ver sem ele. E traz-me também o terço e um lenço, que já tenho o nariz a pingar.

Dai a pouco chegou outra das filhas, a que vivia mais perto.

 - Dê cá um beijinho minha mãe. Muitos parabéns!

 - Parabéns porquê?

Tiraram tudo da sala de jantar, estenderam a mesa elástica e aumentaram-na com a da cozinha. Cabiam à vontade umas vinte pessoas sentadas; os mais novos comiam em pé.

Ao longo da manhã foram chegando os que viviam mais longe; alguns vieram até de Lisboa. Dos nove filhos só não estava o primeiro, que morreu à nascença, e mais outros dois, que morreram antes de chegar a velhos, levados por um mal ruim. E vieram também muitos dos mais de trinta netos, quase todos já casados e com filhos.

Chegaram alegres, ruidosos, aos abraços e beijos uns aos outros, depois de terem felicitado a aniversariante e oferecido os presentes que traziam. Alguns já não se viam desde o enterro do avô, há três anos. A vida nem sempre é o que a gente quer, e chega uma altura em que as famílias já quase só se encontram nos funerais. Mas desta vez não era o caso. Nem toda a gente se pode gabar de festejar os noventa anos duma mãe ou duma avó, e não queriam perder a oportunidade de se juntarem todos à roda dela; quem sabe se seria a última vez, que a saúde e a cabeça viam-se fugir de dia para dia.

A última a chegar foi uma das netas. Trazia uma criança ainda de colo. Uma menina que mais parecia uma boneca, com um vestido de veludo verde e um grande laço na cabeça, a condizer.

 - Olhe aqui, minha avó, é a minha filha. Chama-se Mariana, como vossemecê.

 - Que cachopinha tão desenxovalhada! De quem é que ela é?

 - É minha, avó. Fez seis mesinhos.

 -- Não sabia que já te tinhas casado.

 - Então não se lembra de ter ido ao meu casamento? Ainda o avô era vivo, e foram os dois; estavam tão bonitos que até pareciam os noivos.

 - O teu avô, onde é que ele se terá metido? A casa cheia de gente e ele ainda por lá. É capaz de ter ido deitar as cabras, que não se calam na loja.

 - Se calhar foi… – respondeu a neta, sem saber se eram estas as palavras mais certas.

 

Cada um trouxe a sua especialidade culinária: salgados, doces, pratos frios, pratos quentes, bolos de toda a qualidade; e tudo com fartura. À medida que iam chegando iam compondo a mesa, que em pouco tempo se encheu com tudo o que era bom. Ao centro, o bolo de aniversário, grande, colorido, as noventa velas cor-de-rosa a toda a volta. Nem um banquete de casamento!

Sentaram a aniversariante à cabeceira da mesa e serviram-lhe um prato:

- Coma, minha mãe. Está tudo tão bom! Vai ver.

E cada um tomou também o seu lugar. Provavam um bocadinho daqui, um bocadinho dali e conversavam e riam alto, lembrando histórias antigas, muitas alegrias e algumas tristezas, fazendo promessas de novos encontros. Passado um pouco repararam que a aniversariante mal tinha tocado no que lhe tinham posto no prato.

- Então não come, minha mãe?

 - Tenho tempo de comer. Temos que esperar pelos que ainda não chegaram.

 - Mas já cá estamos todos. Não falta ninguém.

 - Ai isso é que falta. Ainda cá não vejo a minha mãe.

 - A sua mãe já morreu há tanto tempo!

 - Como é que ela morreu e ninguém me disse nada? E o que é que lhe vestiram, se eu é que lá tenho a mortalha na mala da roupa.

 - Vá comendo, minha mãe. Está tudo muito bom! Vá lá.

E ela foi comendo, devagarinho, de olhos quase fechados a saborear. De vez em quando abria-os e olhava à roda, como se lhe faltasse alguma coisa ou estivesse à espera de ver aparecer alguém que se tivesse atrasado. E o que muitos não viram foi que, à medida que lhe iam pondo comida no prato, ela ia escondendo alguns pedaços nos bolsos do avental.

 - É para os que cá faltam, que também precisam de se consolar – respondeu, quando a filha lho perguntou, depois de todos terem abalado.

 

M. L. Ferreira

quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

Albufeira de Santa Águeda

João Carvalhinho, vereador da Câmara Municipal no anterior mandato, publicou um artigo no jornal Reconquista, aquando da aprovação, pela Câmara, de um projeto de regadio para Santa Águeda.

Ele opunha-se ao projeto, caso avançasse sem que fosse construída a barragem do Barbaído, na ribeira do Tripeiro. Desta vez volta ao assunto, agora que o Governo inscreveu o projeto nas obras a realizar. E desmonta os falos argumentos da equipa que defende a nível local o avanço do regadio apenas com a água de Santa Águeda. Por ele soube que a nossa barragem do Pisco já foi desligada do sistema de abastecimento público.

A argumentação de João Carvalhinho baseia-se no quadro a seguir apresentado, que prova a descida gradual da água armazenada na barragem ao longo dos anos, consequência do aquecimento global. Caso ao regadio avance sem a barragem do Barbaído, em certos verões não haverá água suficiente para pessoas e pomares.

Concordo com ele, pois no ano de 2015 bebemos água em Castelo Branco a saber a lodo, todo o verão. Caso existisse já o regadio, as árvores teriam morrido de sede.

E já nem falo dos pesticidas e adubos, que João Carvalhinho não refere...

José Teodoro Prata

segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

Presidenciais 2021

Como "sempre", isto é, desde que este blog existe, que os nossos resultados locais coincidiram com os totais nacionais.

Desta vez com um sabor especial, pois fomos quase os únicos no concelho, com a honrosa companhia do Salgueiro do Campo, a resistir ao voto na intolerância e na mentira (embora 1% já seria demasiado). É um sinal de maturidade democrática que nos deve orgulhar.

Marcelo Rebelo de Sousa - 66,67%

Ana Gomes - 13,00%

André Ventura - 11,35%

João Ferreira - 4,02%

Vitorino Silva - 2,60%

Marisa Matias - 1,42%

Tiago Mayan Gonçalves - 0,95%

Abstenção - 58,21%

José Teodoro Prata

domingo, 24 de janeiro de 2021

Bom Dia!

Fui votar bem cedo, para evitar as filas que se viram no domingo. Cheguei ao Cine-Teatro às 08:15 horas e como eu tinham feito muitos.

Votava na mesa 15, situada no hall inferior. A fila descia pela avenida e avançava lentamente. Ao chegar à porta, vieram chamar para a mesa 14, mas a 15 não despachava ninguém. Aguardámos longos minutos, até um eleitor ultrapassou uma data de gente e foi postar-se em frente à mesa. Já outro fora reclamar pela paragem, que soubemos depois se dever a terem de meter na urna os votos de há oito dias.

Entrei finalmente no hall. O eleitor que nos ultrapassara foi votar e ficou a discutir a demora com os membros da mesa, agora sem pressas.

Estava um clima tenso, pela demora e porque as regras de segurança devido à pandemia eram uma anedota: entrava-se pela porta principal para duas mesas, passando os eleitores da mesa 14 pela fila da mesa 15, e mesmo em frente a esta mesa.

Cheguei e disse Bom Dia! Todos me saudaram aliviados, pela trégua que eu lhes trazia. À saída, fui premiado com novos bons dias por rostos que exprimiam alegria e agradecimento.

Como pode um banal e ingénuo Bom Dia ganhar tal relevância! A que ponto chegámos? Andamos todos zangados e descarregamos em cidadãos generosos que não têm culpa de nada?

Uma última nota sobre o eleitor que ultrapassou outros e ficou a discutir com a mesa no momento em que devia estar na cabine de voto. Há cada vez mais destes chico-espertos, centrados nos seus umbigos.

Nas escolas isso está em crescimento. Há vários anos que nos admiramos por as crianças do 1.º ciclo só saberem falar aos gritos. Esta semana que passou estive numa turma do 6.º ano e questionei-os sobre essa realidade, pois ainda não se tinham desabituado. Os alunos concordaram que era verdade, mas não sabiam porquê.

Penso/pensamos que gritam para se fazerem ouvir acima dos outros, pois só eles contam. Se um colega está a falar, fala-se mais alto que ele, para abafar a sua fala e fazer-se ouvir. São como o umbiguista de hoje de manhã, que parou na infância.

José Teodoro Prata

terça-feira, 19 de janeiro de 2021

Janela manuelina

 
A informação que me deram estava errada, tal como me avisou o João Craveiro. A casa desta janela não foi comprada pela inglesa a viver no Ribeiro Dom Bento. Terá sido uma das hipóteses e por isso a pessoa com quem falei julga que o negócio se consumou, mas de facto ela comprou na rua do Eiró (duas casinhas a seguir à do Zé Teté).
O meu obrigado ao João, pelo reparo.

Mas voltando a esta janela manuelina. Desconheço se há alguma igual na Beira Baixa, mas é possível que não. A casa terá sido de Manuel Lopes Guerra, no século XIX, familiar dos Simões, que por via feminina deram origem à Casa Cunha. Mas porquê uma janela do século XVI aqui?
No século XVIII, o palácio dos Costa (do século XV/XVI), situado mesmo ao lado da casa da Câmara, no sítio da casa que foi de Dona Bárbara, já estava arruinado e é possível que nessa altura alguns elementos decorativos se tenham espalhado pela Vila.
Aliás, o nosso espólio artístico gótico-manuelino e renascentista é muito significativo! Algum é visível/conhecido, mas outro não. Eu afirmo que é valioso, porque já o conheço bastante bem, graças a uma visita que me fizeram as técnicas que recuperaram a arte sacra a integrar no futuro museu. Faço votos para que todos o possamos conhecer em breve!!!

Nota: Esta publicação foi alterada no dia 15 de janeiro.

José Teodoro Prata