sábado, 26 de novembro de 2022

Da azeitona ao azeite








 Verde foi meu nascimento

E de luto me vesti

Para dar a luz ao mundo

Mil tormentos padeci

 

José Teodoro Prata

terça-feira, 22 de novembro de 2022

Palestra conversada

a Orada na Biblioteca


com Elsa Ligeiro


Domingo, 27 de Novembro, às 15 horas

Maria Libânia Ferreira 

domingo, 20 de novembro de 2022

A desertificação do mundo rural

 A desertificação e abandono de determinados lugares não são fenómenos novos nem exclusivos de regiões específicas; sempre existiram ao longo da História da humanidade, pelas mais diversas razões: alterações climáticas, cataclismos, guerras, epidemias, busca de solos mais produtivos, necessidade de proteção, etc. A testemunhá-lo estão os vestígios de antigos aglomerados populacionais que têm sido encontrados, alguns ainda a céu aberto, outros preservados debaixo do solo.

Já mais recentemente, com as mudanças introduzidas pela Revolução Industrial ao longo do século XIX, nos países que mais rapidamente desenvolveram novas tecnologias e inovaram os métodos de produção, as alterações na organização social e económica foram enormes: a deslocação de uma parte significativa da população das zonas rurais para a periferia das cidades, onde se situavam as fábricas, provocou grandes desequilíbrios demográficos.

Em Portugal, o abandono das zonas rurais fez-se sentir mais intensamente a partir da segunda metade do século XX, com a saída de grande parte da população das aldeias do interior para as cidades do litoral ou para África. Seguiu-se depois o movimento de emigração para outros países da Europa, sobretudo para França e Alemanha. Nesta altura a motivação principal para o abandono do campo era, quase sempre, a dureza e sazonalidade do trabalho, os baixos salários, e a consequente miséria em que uma parte significativa da população vivia. As pessoas partiam à procura de melhores e mais justas condições de vida.

Para muitos não foi fácil, principalmente em termos da integração social: vivendo muitas vezes na periferia das grandes cidades, frequentemente em bairros e casas sem grandes condições de habitabilidade, não se sentiam parte das comunidades locais; por outro lado, a falta do suporte familiar e da vivência quotidiana das práticas comunitárias próprias da vida das aldeias, fazia-os sentirem-se desenraizados. Seria por isso que, por exemplo em Lisboa e noutras cidades dos países de acolhimento da emigração portuguesa, foram nascendo associações onde os naturais das várias pequenas cidades, vilas ou aldeias do interior se encontravam regularmente para matar saudades e partilhar aspetos da cultura das suas terras (a gastronomia, a música, as festas, os jogos, etc.).

Mais tarde, já depois do 25 de Abril de 1974, o acesso mais fácil à educação escolar para todas as crianças e jovens, e a abertura de fronteiras e de mentalidades, criou em muitos jovens das zonas rurais a necessidades de ganhar asas e procurar um mundo em que os seus sonhos e expetativas se pudessem cumprir.

São Vicente da Beira, à semelhança da maior parte das aldeias do interior do país, até meados do século XX apresentava ainda uma estrutura económica e social muito atrasada. Um número reduzido de famílias ricas possuía grande parte das terras à volta da povoação. Essas terras, porque alguns dos proprietários não viviam em São Vicente, eram administradas por feitores, pessoas de algum prestígio social a quem competia a gestão do trabalho ao longo do ano agrícola. Eram eles que contratavam os trabalhadores de acordo com as necessidades, e, num tempo em que a mão-de-obra era muita e o trabalho nem sempre abundava, as jornas eram baixas e incertas. A situação piorava se, por motivos quase arbitrários, um trabalhador caia em desgraça; era certo que muito dificilmente conseguiria fazer mais um dia naquela propriedade, pondo em risco o sustento dos filhos.

Algumas famílias tinham pequenas propriedades ou alugavam terras aos mais ricos, que não queriam tratá-las. Mas as rendas, pagas geralmente em dinheiro e em géneros, eram quase sempre tão altas que, em anos de má produção, a colheita mal dava para pagar aos donos da terra.

Para além do trabalho na agricultura, ou como pastor ou ganhão, alguns homens trabalhavam também como resineiros e serradores. No inverno, por altura da apanha da azeitona, muitos ocupavam-se dos vários lagares que havia ao longo de ribeira. Para além destas profissões, havia na freguesia alguns carpinteiros, sapateiros, pedreiros, moleiros, ferradores, alfaiates e comerciantes.

As mulheres, para além de cuidarem da casa e dos filhos, também trabalhavam no campo, ao lado dos homens, sobretudo na apanha da azeitona, na sacha do milho e do feijão e no cultivo das hortas e dos linhares. Muitas tinham em casa teares artesanais e teciam peças de linho ou mantas de orelos para uso da própria família e para vender.

Até aos anos 50 do século XX muitas crianças não iam à escola e começavam a trabalhar muito cedo. Os rapazes, ao lado do pai, ajudavam nos trabalhos do campo ou guardavam os pequenos rebanhos familiares. À medida que iam crescendo iam-se complexificando também as tarefas que lhe eram atribuídas, quer a trabalhar para a família ou à jorna, para fora. As raparigas eram criadas de servir em casa de gente rica. Começavam, meninas ainda, a fazer trabalhos mais simples ou a cuidar dos filhos dos patrões, muitas vezes pouco mais novos que elas; muitas só deixavam esse trabalho nas vésperas do casamento.

Mas, como acontecia por todo o País, a perceção do mundo rural também se altera em São Vicente: as pessoas começam a sonhar com alternativas de vida melhores para si e para os seus filhos, e muitos partem, para Lisboa, mas sobretudo para o estrangeiro. De início partiam os homens, sozinhos, mas a pouco e pouco foram famílias inteiras que por lá criaram raízes e novos modos de vida; algumas já só regressam à terra para visitas breves e cada vez mais adiadas.

E a sangria não parou: uns anos depois muitos dos mais jovens também tiveram que procurar outras paragens na necessidade de encontrarem empregos compatíveis com a formação escolar que a democracia e as melhores condições económicas das famílias lhes permitiram.

E as ruas foram-se esvaziando; e as gentes ficam cada vez mais velhas. Em certos anos, morrem mais pessoas do que as crianças que nascem numa década. Estes dados mostram-nos uma realidade preocupante:

 

POPULAÇÃO DA FREGUESIA DE SÃO VICENTE DA BEIRA

(1900/ 2011)*

 

1900

 

1911

 

1920

 

1930

 

1940

 

1950

 

1960

 

1970

 

1981

 

1991

 

2001

 

2011

 

2 803

 

3 282

 

3 013

 

3 239

 

4 000

 

4 185

 

3 881

 

2 501

 

2 265

 

1 871

 

1571

 

1 259

·         Documento disponível no sítio da Junta de Freguesia SVB. De acordo com o último censo, em 2021 éramos apenas 958.

Se a tendência não se inverter, o que dificilmente acontecerá, corremos o risco de, dentro de poucos anos, algumas aldeias da freguesia, e mesmo São Vicente, ficarem desertas de gente, como já acontece em muitas outras por todo o País rural.

M. L. Ferreira

sábado, 19 de novembro de 2022

Cogumelos

 Fui ao Ribeiro de Dom Bento colher a azeitona. O caminho desde o Caldeira começa a estar complicado, depois de 5 anos sem qualquer arranjo.

A azeitona é pouca, inchada de água e muita podre, como a de quase toda a gente. O clima quente e húmido criou o fungo que a faz apodrecer (gafa).

O ribeiro estava tímido há duas semanas, mas hoje já corria bem.

Havia muitos cogumelos, mas não sei se algum será comestível. O especialista é o Albano de Matos do Casal da Serra.




José Teodoro Prata

terça-feira, 15 de novembro de 2022

O magusto do São Martinho

Também nós tivemos o nosso magusto, tradicionalmente organizado pela Junta de Freguesia. 

É um bom momento de convívio entre os vicentinos. 








Margarida Pereira

domingo, 13 de novembro de 2022

Os Sanvincentinos na Grande Guerra

 José de Matos 

José de Matos nasceu no Casal da Serra, em 30 de agosto de 1894. Era filho de Simão de Matos e Leonor Maria.

Assentou praça em Castelo Branco, a 9 de julho de 1914, no Regimento de Artilharia de Montanha. De acordo com a sua folha de matrícula, era analfabeto, solteiro e tinha a profissão de jornaleiro.

Destacado para integrar o contingente de reforço militar das fronteiras de Moçambique, embarcou para essa província ultramarina, no dia 7 de outubro de 1915, fazendo parte da 2.ª Expedição enviada para essa província ultramarina. Nessa altura um dos irmãos, José Simão de Matos, encontrava-se destacado na província de Angola. Regressaram os dois com vida à terra, mas, segundo contam, já não a tempo de voltarem a ver o pai, a coisa que eles mais temiam. José de Matos regressou à Metrópole, no dia 26 de Setembro de 1916.

Licenciado em seis de Junho de 1919, passou ao 2.º Escalão do Exército e ao Batalhão de Reserva em 31 de Dezembro de 1924. Passou à reserva ativa em 31 de dezembro de 1935.

Condecorações:

·        Medalha Comemorativa da Campanha em África;

·        Medalha da Vitória.

Família:

José de Matos casou com Maria do Rosário Cruz, no dia 21 de Abril de 1932. Tiveram vários filhos, mas faleceram quase todos ainda crianças. Sobreviveu apenas uma filha, Maria Irene, que chegou à idade adulta, mas faleceu sem deixar descendência.

Quem o conheceu, diz que tinha alguns problemas de saúde, provavelmente consequência daquilo que passou durante o tempo em que esteve em Moçambique. Toda a vida trabalhou na agricultura, quase sempre como jornaleiro, e no cultivo de alguns pedaços de terra que herdara dos pais.

Faleceu no Casal da Serra, a 7 de novembro de 1974. Tinha 80 anos de idade.

(Pesquisa feita com a colaboração do sobrinho José António de Matos)

Maria Libânia Ferreira

Do livro: Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra

quarta-feira, 9 de novembro de 2022