Enxidros era a antiga designação do espaço baldio da encosta da Gardunha acima da vila de São Vicente da Beira. A viver aqui ou lá longe, todos continuamos presos a este chão pelo cordão umbilical. Dos Enxidros é um espaço de divulgação das coisas da nossa freguesia. Visitem-nos e enviem a vossa colaboração para teodoroprata@gmail.com
quarta-feira, 25 de janeiro de 2023
domingo, 22 de janeiro de 2023
Homens e bichos
Acabei de ler este livro que tem dois aspetos relativos a
nosso património local já aqui referidos.
O primeiro diz respeito ao nosso hábito antigo de os irmãos
mais velhos serem padrinhos de batismo dos mais novos. Uma das razões será o comodismo
da situação: não ter de ir pedir “favores” a ninguém e ainda ter a vantagem de
ser a própria família a escolher o nome da criança. Mas este hábito ancestral poderá
ter ainda outra origem, já perdida na nossa memória coletiva (ou talvez não).
O livro refere, nas páginas 99 e 100, a propósito de lendas e
crenças relativas à interação entre humanos e lobos:
«…Na zona de Bragança, o povo crê que o lobisomem é o
resultado de uma relação pecaminosa entre padrinho e afilhada. Ainda na raia,
mas na Beira Baixa, as gentes culpavam os padres. Bastava que o pároco se
confundisse com as fórmulas do batismo para condenar a criança a este negro
fado. Nas aldeias de Pitões das Júnias, em Riba de Mouro ou em Parada do Outeiro,
o lobisomem seria o sétimo filho varão de um casamento. E a única forma de
quebrar a maldição era a criança ser batizada pela mão do seu irmão mais velho.
Apesar de menos
frequente, o malefício também acontecia às irmãs. O investigador Leite de Vasconcelos,
no Tomo II da sua Etnografia Portuguesa, recolheu testemunhos no Minho que se
referiam às lobeiras ou peeiras. «E quando se perguntava ao povo o que
significa “peeira”, ele responde: a que vive ao pé dos lobos», conta o
investigador. Esse fenómeno, segundo a tradição popular, era semelhante ao dos
rapazes: quando nasciam sete raparigas numa mesma casa, a mais nova acabaria
lobeira. Isso só seria evitado se a irmã mais velha aceitasse ser madrinha de
batismo da mais nova.»
O segundo aspeto diz respeito aos cavalos. No meu livro “O concelho
de S. Vicente da Beira na Guerra Peninsular” dei notícia da entrega aos
franceses, logo no início da 1.ª invasão, de um cavalo de lista, por João Leitão,
de Tinalhas.
Em publicação posterior, aqui no blogue, referia a existência em Portugal de antigos cavalos listados ou zebrados, espécie ainda sobrevivente através do cavalo Sorraia, de que restam poucos exemplares.
Sorraia é um tipo de cavalo de origem portuguesa, redescoberta em 1920 por Ruy d'Andrade e cujos indícios remetem para a zona de confluência entre as ribeiras de Sor e da Raia (daí o seu nome), charneca de Coruche, onde haveria uma extensa população, popular entre criadores de gado para trabalhos do campo. Admite-se que estes cavalos no estado selvagem tenham sido conhecidos em Portugal por "zebro".
Continuar a
ler em: https://www.wikiwand.com/pt/Sorraia
O livro “Feras e Homens” fala da caça ao zebro, na época
medieval, um cavalo selvagem então muito abundante do nosso país. E conta que
os portugueses, nos séculos XV e XVI, ao verem em África um animal também
listado como o zebro, lhe chamaram zebra, nome e grafia por que passou a ser
designado em todo o mundo.
José Teodoro Prata
quarta-feira, 18 de janeiro de 2023
O nosso falar
Recebi de um estudante do Porto o comentário que apresento no final desta publicação, por isso achei interessante partilhá-lo convosco e recordar a questão de se dizer ganal ou ganau.
Publicação de 1 de abril de 2020:
A minha mulher insistiu comigo para que substituísse a palavra ganal da publicação anterior por ganau.
Eu teimei, porque ela não está dentro do espírito da coisa, mas fiquei na dúvida.
Os dicionários online nada dizem sobre ganal, mas informam que ganau é um piolho, um chato, um conjunto de aves de capoeira ou um conjunto de crianças turbulentas.
E que ganau vem do castelhano ganado, que significa gado, enxame e conjunto de pessoas. Já estamos mais próximos do meu ganal!
Na minha infância, os meus pais sempre se referiram aos nossos animais domésticos como o ganal. Ou diriam ganau e eu percebi ganal? Talvez isso tenha acontecido, com os nossos antepassados, há muitos anos atrás, pois tentem dizer em voz alta as duas palavras e verão que elas de facto soam parecido.
O que me dizem? No nosso falar, é ganau ou ganal?
Comentário 1
Não
é um termo muito utilizado atualmente (só o ouvi ao Zé Pasteleiro
e ao João da Amália), mas é pena que se esteja a perder, à
semelhança de tantos outros. Para mim também é ganal, pelo menos é
o que ouço (acomodar o ganal), mas pode muito bem ser ganau, porque
o som é de facto tão semelhante, que só um ouvido muito apurado é
que consegue distingui-los. Não nos esqueçamos que estes termos
eram usados num tempo em que a maio parte das pessoas não sabia ler
e a oralidade era o principal veículo de transmissão das
mensagens.
Mas consultei o “Pequeno dicionário de
regionalismos, expressões idiomáticas e alcunhas” da Soalheira
(organização do Joaquim E. de Oliveira), e “Como se fala na minha
terra” (Gavião do Ródão) de Aníbal da Cunha Belo, e, por lá, o
termo usado é ganau. Ganal pode ser uma especificidade nossa…
Comentário 2
- Francisco Magueijo disse...
Ganau. no Violeiro
Comentário 3
- José Barroso disse...
Para
uma simples opinião, pegaria desde logo, na questão da confusão
entre o som do "l" e do "u" finais (ganal ou
ganau?); devo dizer que os brasileiros não só os confundem, como
expressamente trocam o "l" pelo "u", embora isso
se verifique apenas na linguagem falada e não já na escrita.
Ouçam-nos! Eles dizem "Portugau" em vez de Portugal,
"legau" por legal, etc.
A idéia que tenho acerca das
palavras em questão, é exatamente a mesma que o ZT e a MLF. Sem
dúvida, que sempre me pareceu ouvir dizer "ganal" e não
"ganau": "Vou dar de comer ao ganal".
O
certo é que "ganal", pelo que averiguei, não consta nos
dicionários; e estes dizem que "ganau" é uma variedade de
piolho. Porém, outras fontes afirmam que "ganau" é "um
conjunto de aves de capoeira" ou "um conjunto de crianças
barulhentas". Ora, nenhuma destas definições, incluindo a das
aves, parece corresponder ao nosso termo "ganal". Já, do
castelhano "ganado" (gado) vem, com certeza, a palavra
portuguesa "ganadeiro", aquele que cria (ou guarda) gado;
mas não "ganal" ou "ganau".
Cito, porém,
um pequeno excerto de um texto de um blog da Estremadura
espanhola:
"... tamién ties cantidá de frutas de
cuasi toas las clasis, grandis jesas pa crial ganau...".
Mas,
atenção, isto não é castelhano, mas sim um dialeto
estremeño.
Sobre "ganal" nada descobri, pelo que
talvez seja mesmo um termo nosso engendrado de sons próximos; mas
deixo em aberta a hipótese de melhor perquisa.
Comentário 4
- José Teodoro Prata disse...
O minha irmã Maria da Luz contou-me que "...ainda há pouco tempo uma aluna que tive do Sobral (terminou no ano passado o quarto ano), dizia muita vez a expressâo: "Fui com a minha avó acomodar o ganalo", ( referindo-se aos coelhos, galinhas, ovelhas) o que achei muito engraçado, pois não ouvia essa expressão desde pequena."
Comentário 5
Boa
tarde caro professor Teodoro
Hoje numa aula de Engenharia
de Software 2 no ESTG do Politécnico do Porto o seu post foi de
grande ajuda, visto que não conhecíamos o termo. Estamos bastante
agradecidos por esta explicação.
Continuações
André
Almeida
3º Ano, Engenharia Informática
quinta-feira, 12 de janeiro de 2023
Melhoramentos
Caixa Multibanco/ATM
Ei-la toda catita, ali junto ao ring (campo de futebol de cinco)
Como disseram à Libânia (que me enviou a foto), “Está ali uma coisa como é dado; até fala e tudo!”
É bom que Câmara e Junta de tenham entendido para resolver este problema que afetava muito a vida das pessoas.
Novo mural decorativo
E teve a colaboração das crianças do nosso infantário!
Nesta última foto, tal como no painel principal, assinalam-se todas as povoações da freguesia.
A obra é da Junta de Freguesia, que está de parabéns!
José Teodoro Prata
sábado, 7 de janeiro de 2023
Os nossos avós eram cientistas
A Escola Superior de Castelo Branco tem um projeto que se chama "Os nossos avós eram cientistas", implementado anulamente junto as crianãs do 1.º ciclo. Foi dele que tirei roubei este título.
Encontrei este interessante artigo (https://www.tempo.pt/noticias/actualidade/comeca-o-calendario-das-plantacoes-o-que-podemos-cultivar-em-janeiro-semear-portugal.html) e não resisto em partilhar parte dele convosco.
Plantar com a Lua
Desde os tempos
mais ancestrais que existem pessoas que acreditam que a Lua tem uma
influência direta no desenvolvimento das culturas agrícolas.
Inclusivamente, são muitos os povos que atualmente ainda acreditam que a Lua tem muito poder na agricultura, e fazem as
suas sementeiras respeitando as fases da Lua.
Desta forma, a Eng.ª Agrónoma Rosa Moreira, num artigo publicado na Agricultura e Mar, explica que a força gravitacional influencia na quantidade de seiva que percorre no caule das plantas, assim como a própria luminosidade da lua que, apesar de menos intensa do que a luz solar, penetra no solo e acelera o processo de germinação das sementes.
Na Lua Nova, o plantio é
desaconselhado uma vez que a seiva se concentra
maioritariamente no caule e, segundo a crença dos mais antigos, as culturas
nesta fase da lua são mais fracas e apresentam baixa resistência às pragas. Em
contrapartida o Quarto Crescente é um
dos melhores momentos para se semear, uma vez que esta fase
permite um crescimento mais vigoroso.
Na Lua Cheia os frutos encontram-se mais suculentos
devido à maior quantidade de seiva encontrada nos mesmos, por isso é uma boa altura para fazer a colheita dos frutos e hortícolas.
No Quarto Minguante deve-se iniciar o plantio de raízes, como beterraba, cenoura,
cebola e batata. Devem-se colher as raízes e as vagens, uma vez que se
encontram com menos seiva, o que facilita na cozedura. Esta é uma boa altura para podar, tal como combater pragas e
doenças das plantas, eliminar plantas infestantes ou preparar o solo para novas
sementeiras ou plantações.
segunda-feira, 2 de janeiro de 2023
A desertificação continua
O assunto é daqueles que nos deixa tristes.
Enquanto
a agricultura foi a atividade principal na nossa região, a vida corria sem
grandes novidades. Os nossos avós deixavam as terras aos filhos e estes, por
sua vez, aos seus descendentes. O progresso, nestas condições, era mínimo,
quando não mesmo estagnado!
Como
se depreende do livro "Salazar e a Escola Primária - Concelho de Castelo
Branco", do Prof. Florentino Beirão, tirando alguns episódios em que
alguma mão de obra foi empregada na indústria de tecelagem da lã de ovelha ou
na mineração do volfrâmio (esta já no séc. XX durante a II Guerra Mundial), foi
a agricultura que sempre prevaleceu como principal atividade por séculos.
Melhor, por milénios, se pensarmos nos primórdios da ocupação da região pelas
primeiras tribos!
Todos
nós queremos evoluir, melhorar economicamente a nossa vida, ter melhor
qualidade alimentar, melhores cuidados de saúde, acesso aos estudos e à
cultura. E é verdade que o progresso, mais que um desejo, é uma
inevitabilidade, visto que aparece à medida que se verifica o aperfeiçoamento
das técnicas do homem na sua caminhada sobre a Terra.
Foi
há pouco mais de 100 anos que se inventaram mecanismos movidos a energia do
vapor de água, a combustíveis fósseis, a eletricidade, a energia atómica, desde
quando fomos levados à chamada estandardização, ou uniformização de etapas, em
virtude da qual uma máquina pôde passar a operar o trabalho de muitos homens!
Falo
em "etapas" e não em "atos" porque o "ato" é
próprio da vontade humana e, assim sendo, a máquina não pode praticar atos
ainda que integrada numa linha produtiva. Sobre este processo de mudança e,
para dar um exemplo que conhecemos muito bem no nosso meio, lembremo-nos de que
em S. Vicente da Beira havia 8 (!) lagares de azeite, junto e ao longo da
Ribeira, 7 deles a trabalhar! Hoje, o moderno lagar do Sobral do Campo pode
moer toda a azeitona da região e de outras regiões e até a que vem de Espanha!
Recordemos que no Sobral do Campo havia apenas 1 lagar (na Ponte do Ramalhoso).
Mas foi nesta povoação, nossa vizinha, que um lagar automatizado apareceu
quando seria de esperar que fosse em S. Vicente da Beira!
O
avanço tecnológico tem sempre as suas duas faces: a boa e a má! E, por isso,
tudo isto, como se sabe, tem os seus custos, a sua pegada, pelo que se vê nos
nossos dias, com o problema das alterações climáticas, pese embora os
negacionistas que vão aparecendo um pouco por todo o lado, mas sempre em
minoria!
Como
já há dias deixei implícito num comentário, neste blog, os países desenvolvidos
têm apenas cerca de 10 a 11% da mão de obra ativa na agricultura. E digo
"implícito" porque, na altura, não expliquei a razão destes números.
De facto, pode perguntar-se, se a agricultura continua a ser tão importante
para a comunidade (haja em vista as quantidades impressionantes de produtos
agrícolas que invadem os nossos supermercados), como se explica que esses
países, precisamente por serem desenvolvidos, tenham tão pouca gente nessa
atividade?
Mais:
por que razão essa baixa percentagem de população ativa na agricultura (chamada
setor primário) é, aliás, um indicativo desse desenvolvimento?!
É
que isso significa que o país atingiu um nível de progresso tal, que lhe
permite deslocar a mão de obra para a indústria e os serviços, setores onde as
pessoas trabalham em atividades que requem maiores conhecimentos técnicos,
aumentando (ou, pelo menos, não diminuindo) a produção do setor primário (de
onde tinham saído) porque, entretanto, já está mais mecanizado e
estandardizado.
Convém
refletir, por exemplo, sobre a razão por que o azeite (uma das riquezas mais
importantes da Beira Baixa, afinal, o nosso ouro!), depois de desaparecerem as
pessoas (mão obra) e todos os lagares da nossa Ribeira, é oferecido nos
supermercados (consideradas as devidas distâncias), a preços inferiores aos de
antigamente! Simples: põem-se 200 ou 300 mil oliveiras (!) de uma espécie em
que a azeitona pode ser tratada e colhida por máquinas e é possível baixarem-se
os custos!
Foram
estas circunstâncias, no fundo, devidas ao próprio progresso, ainda que possa
não parecer, que levaram à fuga das pessoas e que contribuíram para a
desertificação do Interior, o grande quebra cabeças de quem se importa com
estas questões. Um quebra cabeças que ninguém, nem sequer os próprios governos,
conseguem resolver!
Um
processo de fuga que, permanecendo, como permaneceu, por muitos anos, mais ou
menos estagnado (pese embora a emigração cá para dentro e lá para fora), foi
altamente acelerado com a Revolução do 25 de abril de 1974 e, mais ainda, com a
entrada de Portugal para a então CEE.
Porém,
não cabe aos governos num país com um regime político como o nosso (democracia
representativa e iniciativa privada), resolver este problema, embora o assunto,
evidentemente, não lhes seja alheio. Pelo contrário! Muitas vezes, um núcleo
populacional desenvolve-se a partir das instituições existentes, mesmo que
básicas, do Estado. É o caso de Castelo Branco, uma cidade de serviços que
beneficiou da sua localização geográfica, ao contrário de S. Vicente da Beira.
Os serviços podem levar a uma cidade com um tecido comercial importante (para
servir a população residente), mas a pouca ou nenhuma indústria! Embora se
reconheça que a Zona Industrial de Castelo Branco tem crescido imenso nos
últimos anos graças aos privados e à oferta de condições de instalação feita
Câmara Municipal.
A
solução da desertificação do Interior cabe, no entanto, fundamentalmente, aos
cidadãos e à sua capacidade de empreendimento, embora isso não dispense a
realização, pelo Estado (Central ou Autarquias), de infraestruturas básicas
(por exemplo, boas vias de comunicação). Compreende-se que sejam todos
corresponsáveis, mas, a questão principal tem que ser resolvida pelos
cidadãos.
Chegados
aqui, cabe perguntar: por que razão, apesar de tantos equipamentos que têm sido
construídos nas cidades e vilas do Interior, as pessoas continuam a sair das
nossas aldeias para as cidades e do próprio Interior para o Litoral?
Relembremos: criação de zonas industriais, piscinas, praias fluviais,
ordenamento das cidades, espaços de lazer, estradas alcatroadas, abertura de autoestradas,
universidades, politécnicos, tribunais, hospitais, bibliotecas, aumento de
museus, património (recuperação arquitetónica e arqueológica) e outro tipo de
turismo (natural, paisagístico, gastronómico) etc. Quase nada disto existia
(salvo, talvez, os tribunais), antes de 25 de abril de 1974.
Bem,
em primeiro lugar, a razão é, certamente, pela causa de sempre: melhor e mais
variedade de emprego e possibilidade de construírem as suas vidas com maior
qualidade. Depois, na posse de uma melhor condição económica, há muitas
motivações:
1 - Estar mais perto e poder ter
acesso a mais cultura (maiores museus, exposições, livrarias, feiras,
espetáculos);
2 - Monumentalidade e História;
3 - Há eventos que só se realizam nas
cidades do Litoral, especialmente, na capital;
4 - Acesso regular à própria costa
(praias marítimas);
Outras
motivações de ordem psicológica, mesmo que isso nada signifique, na prática,
para um cidadão comum, por exemplo:
5 - O facto de estar junto das
maiores instituições do Poder;
6 - Estar perto dos locais
frequentados por figuras públicas (políticos, artistas) em quem as pessoas se
reveem.
Uma
vez integradas na comunidade citadina, se esta for mesmo no Litoral do país, as
pessoas tendem, por norma, a esbater as suas memórias originárias.
Especialmente, durante o tempo da sua vida de trabalho ativo, passam a vir às
suas aldeias apenas nas férias do verão e pouco mais, quando não se dá o caso
de deixarem, definitivamente, de fazer a sua visita anual.
Felizmente,
há quem regresse à aldeia de forma permanente ou venha com frequência. E, nesta
altura, a globalização e a mudança de alguma mentalidade (no que concerne à
vida na Natureza), faz com que muitos estrangeiros se venham instalar no meio
rural. Mas isso não chega para voltarmos à situação de antigamente.
Infelizmente!
E,
por isso, comecei por dizer, logo no início deste texto, que o assunto da
desertificação nos deixa tristes.
Mas,
podem perguntar os leitores: porquê falar de tudo isto? Eu respondo: tudo vem a propósito de um
artigo publicado no jornal "Reconquista" de Castelo Branco, de 7 de
dezembro de 2022, que divulga os dados do Instituto Nacional de Estatística
relativos a 2021, fazendo-se um balanço dos últimos 10 anos, atentos os censos de
2011.
A
partir dos dados desse artigo, vamos também nós, fazer alguns comentários sobre
o tema, apontando alguns comportamentos estranhos, e mesmo contradições, neste
movimento de vai e vem migratório.
A
primeira curiosidade é que, salvo uma ou outra exceção, não são indicados
números, mas apenas percentagens, embora isso nos dê uma boa ideia das
oscilações da população.
Não
deixa de ser interessante, desde logo, que dentro dos concelhos de Vila de Rei
e Vila velha de Ródão, que se esperava serem dos mais afetados pela
desertificação, sejam, no distrito, precisamente, dos menos afetados, com uma
perda de população de 5,01% e 6,70%, respetivamente, entre 2011 e 2021. E
pasme-se: a população quase que estabilizou, naquela década, dentro das
freguesias de cada uma das vilas (Vila Velha de Ródão perdeu 0,62% e Vila de
Rei perdeu 0,57%). A percentagem apenas subiu nestes dois concelhos porque
algumas freguesias, de per si, perderam muita gente! Só para dar um exemplo: S.
João do Peso, justamente, de Vila de Rei, perdeu 35,29 % de população, na
década, uma das maiores perdas na contabilidade por freguesias, no distrito.
Interessante
é, também, a freguesia de Silvares (Fundão) conseguir aguentar a mesma
população na referida década, quando o Fundão (concelho) perdeu 9,28% da
população no mesmo período; e a freguesia de Carvalhal (Sertã), ter,
inclusivamente, aumentado o seu número de habitantes, enquanto a Sertão
(concelho) perdeu 7,0%!
No
concelho de Castelo Branco, a freguesia de S. Vicente da Beira foi das que mais
habitantes perdeu, na década, (23,67%), a par de Almaceda (24,52%), Malpica do
Tejo (26,31%), Sarzedas (23,82%). Inversamente, as que perderam menos gente no
período em referência, no mesmo concelho, foram Alcains (8,10%), Lardosa
(7,60%), Póvoa de Rio de Moinhos / Cafede (7,02%) e a própria freguesia da
cidade de Castelo Branco (2,23%). Acrescente-se que Castelo Branco (concelho)
perdeu 6,84% da população (dos menos, mas não o menos penalizado) e Penamacor
16,09%, o mais afetado.
Era
necessário tirar uma melhor conclusão destes dados, mas parece, à primeira
vista, que se poderia formular uma regra geral: quanto mais os concelhos estão
afastados da capital de distrito e as freguesias das respetivas sedes de
concelho, mais população perdem. Mas depois, claro, como em todos os dados
estatísticos, há exceções à regra e a explicação destas (e com certeza que as
haverá), terá que ser procurada noutros elementos, que não apenas estes
números.
Por isso, vamos ficar por aqui. Mas não queria acabar sem fazer uma ou duas perguntas óbvias: o que é que se andará a fazer de especial por Vila de Rei (vila), por Vila Velha de Ródão (vila), por Silvares (Fundão) e pelo Carvalhal (Sertã), que não se faz em S. Vicente da Beira? E por que é que a população nestas freguesias do distrito de Castelo Branco, praticamente, se manteve ou até cresceu na década de 2011 a 2021 e nós em S. Vicente da Beira perdemos quase um quarto dos habitantes? É caso para pensar ... e agir!
José
Barroso
quarta-feira, 28 de dezembro de 2022
São Vicente da Beira
Há pouco mais de um ano, revi uma antiga aluna minha, poetisa com alguma obra publicada em Espanha, em edições bilingues. Usa o pseudónimo de Margarida Ventura.
Ofereci-lhe o nosso livro Dos Enxidros... que ela leu compulsivamente e o tornou poema.
Bom Ano Novo para todos!