segunda-feira, 14 de abril de 2014

Semana Santa

I
Início dos anos 60 do século XX.
Naquela época, a Vila fervilhava de gente.
Mas os ventos da história, não sopravam muito por ali. A vida, cujo sustento provinha, quase exclusivamente, da agricultura, corria com a normalidade do costume. Cerca de uma década antes, já se tinha constatado alguma emigração para o Brasil. Mas nada que se comparasse à sangria desatada, que se lhe seguiria, especialmente para França. A maior parte das casas de família, porém, ainda albergava 6 a 8 pessoas.
Toda esta gente era uma grande riqueza humana que contrastava com os parcos recursos materiais disponíveis. Quem tivesse um bocado de terra tinha alguma fartura, mas apenas em produtos a ela ligados.
Havia muita criação de gado mas, paradoxalmente, o acesso à carne era difícil. Para não falar na de vaca que, essa, era quase desconhecida na mesa dos beirões. Ora, isto parece um pouco estranho. 
Mas creio que essa dificuldade derivava, no fundamental, do seguinte: a maioria das pessoas não podia dar-se ao luxo de abater regularmente animais para consumo próprio. Na verdade, quem tinha algumas cabras ou ovelhas, só matava uma rês de vez em quando, para renovar o conjunto com um animal mais jovem. De resto, consumiam-se ou vendiam-se, em parte, apenas os frutos desse pequeno rebanho: os cabritos ou borregos, o leite, o queijo e algumas peles. 
Daqui resulta que se mantinha, no essencial, a dieta mediterrânica, com todas as virtualidades que lhe são reconhecidas. Na base dos vegetais, ovos, azeite, leite, queijo, pão de gramíneas, hortícolas, fruta, ervas aromáticas e carne de porco que se criava para consumo caseiro, ajudando no tempero da panela durante o ano. Matava-se ainda uma ou outra galinha. E havia o borrego para a Festa. A dieta de peixe era assegurada por empresas do Ribatejo, cujas camionetas iam abastecer à costa de madrugada e chegavam à praça a meio da manhã, uma ou duas vezes por semana.  
A liturgia da igreja era a grande marca nos costumes das populações e, apesar das dificuldades no acesso à alimentação, estava-se ainda obrigado ao jejum e abstinência em dias e períodos determinados.
Caminhava-se para a catarse das comemorações da Semana Santa.  
Desde Quarta Feira de Trevas, tinha-se acentuado mais o retiro espiritual. A gravidade das horas ia-se aproximando. 
Estamos na Quinta Feira Santa.          
Já era dia grande. O dia da Eucaristia. Por isso, a maioria das pessoas confessava-se nesse dia. 
Cessam os trabalhos agrícolas, acomoda-se o gado mais cedo. Se o tempo estava bom, despovoavam-se então para a praça todos os lugares das redondezas. Os acontecimentos religiosos mais importantes não eram apenas da Vila. Por esses caminhos de terra, pó e lama e por essas estreitas veredas, a pé, de burro ou de muar, vinham de perto, das Quintas, dos Caldeiras, do Casal da Fraga e do Casal da Serra; mas também das outras povoações mais distantes da freguesia.
II
Enquanto isto, o padre Tomás, poderoso pároco da freguesia, andava já às voltas como uma dobadoira. Punha e dispunha sobre as regras da celebração dos ofícios sagrados, enquanto os seus coadjutores e outros sacerdotes visitantes, confessavam.
Muitos ainda o conheceram. Era de uma família com vários irmãos dedicados à causa religiosa.
Não era muito alto, mas tinha uma figura larga. A sua palavra era firme, quase ríspida, por dever de foro, quando falava das coisas da religião. Por isso infundia respeito aos adultos e ainda mais a nós, pequenos. 
Quando 'apareceu’ a aurora boreal, era ver a população da Vila a correr para a igreja, pensando que 'aquilo' era o fim do mundo! O padre Tomás ao ver o povo a dirigir-se à igreja encaminhou-se para lá, em passo rápido. Tomava a dianteira a uns e a outros e ia dizendo, em jeito de ralhete, mas sem abrandar o andamento:
"Pois, pois, agora vindes a correr para a igreja! Porque pensais que isto é o fim do mundo e que ides morrer todos. Medo tendes vós, mas muitas vezes, aos domingos, não enxergais a porta da igreja! Só vos lembrais de Santa Bárbara quando faz trovões!”
E porque assim e porque assado. Ouviram o raspanete, mas não se atreviam a censurá-lo! O momento não era propício. Além disso, falava a autoridade religiosa. Ele é que sabia. Assunto encerrado!
Não era pregador, mas desempenhava-se bem das homilias de domingo. Como todo o homem, teria as suas fraquezas. Mas nunca o vi vacilar nas convicções. Era um sacerdote à antiga. Aceitou essa condição. Doutrinariamente íntegro e talvez, por isso, de sorrisos pouco largos. O respeito à Bíblia exige sisudez! O Bem e o Mal digladiam-se ali por todo o Eterno.
O seu discurso roçava, por isso, a ortodoxia. Mais de uma vez o vi, em plena igreja, a retesar os olhos ao pregador, sobretudo se este era jovem e deixava escapar aqui ou ali, alguma ideia mais liberalizante ou uma palavra menos canónica.
Fora das coisas da religião, o padre Tomás era pessoa de muita bonomia.
III
Ti' Jaquim do Vale de Caria (Chequim do Balcaria, para os amigos) apanhou-o nas andanças desse dia da semana santa, da igreja para a sacristia, a distribuir ordenanças e a procurar conversar com o Provedor da Misericórdia, entidade que super entendia na vertente organizativa das acções religiosas da quadra festiva.
Um pouco a medo, porque era precisa uma boa razão para lhe tolher o passo e ele sabia como 'elas queimavam', ainda a uma certa distância pôs-se a titubear: 
" Eh, Senhê Vegário !  Senhê Vegário! Este ano temos Semana Santa Completa ou não?!"
O padre Tomás andava seguramente pelos 70. A acuidade auditiva já não seria a melhor. Não lhe respondeu. Mas viu o outro ir na sua direcção a fazer sinais e apercebeu-se, mais pelos gestos que pelas palavras, que ele lhe queria dizer alguma coisa.
"O quê?! O que é que tu queres Joaquim? Não vês que ando aqui na função de combinar a hora das procissões e que se está a fazer tarde para as exéquias? O que é que tu dizes, homem?"
Embora o Ti’ Jaquim já esperasse por esta impaciência, o martelo só faz mossa quando bate. E principiou mesmo a gaguejar:
"Se …se … este ano há Semana Santa Completa, cá na Vila!"
"Quem é que te meteu isso na cabeça?!”
"Dizem p’rá aí, nas vendas.”
"Olha, Joaquim, quem to disse bem te enganou ou quis chasquear contigo! E tu, alma de Deus, deixaste-te cair na esparrela. Há lá agora Semana Santa Completa! Eu disse-o na igreja?"
E o Ti' Jaquim já meio atrapalhado: “Não… não...  me lembro!   Quero dizer, saiba o Senhê Vegário, que nada não!”
"Então, aí tens!
Ó Joaquim, mas onde é que andas tu com a cabeça, alma de Senhor? Que raio de cristão me saíste!
Pois se eu não o anunciei na igreja, como é que poderia haver Semana Santa Completa? Não me dizes? Não vês que fica tudo muito caro? Temos que pagar aos pregadores que vêm de fora! Há lá dinheiro para isso! Não penses nisso, homem! Contenta-te com pouco, que é virtude contra a avareza. E dos pobres é o Reino dos Céus!”
E já tinha reiniciado a passada rumo ao seu destino, quando atirou:
“Adeus Joaquim e não te esqueças de fazer as tuas orações diárias porque a oração é o poder mais eficaz contra o Maligno”.
Dito isto, foi à sua vida, deixando o interlocutor especado no meio da praça, com a mão em concha a cofiar a barba de quatro dias, pensando de si para si:
“Toma lá Jaquim, que é p’rá aprenderes. À próxima toma tento no que se passa à tua volta.
E quando fores à missa, vê se estás com os sentidos bem assentes! Porque, se Deus te observa em qualquer lado, que fará em Casa D’Ele! E não ficará nada agradado com essas tuas distracções.”
Mas se já se sabia por omissão, ficou-se a saber por explicitação. Naquele ano, como acontecia em quase todos os anos da curadoria do padre Tomás, não ia haver Semana Santa Completa!
IV
O adro estava quase à pinha.
A multidão, trajava de negro ou predominantemente de escuro. E movimentava-se aos magotes no amplo largo, de semblante sorumbático e rosto mais circunspecto que o habitual.
O tempo era de recolhimento.
As próprias imagens dos santos participavam desse retiro. Encontravam-se, desde o princípio da Quaresma, tapadas de alto abaixo com crepes de pano. De roxo a simbolizar a paixão, de negro a significar a morte.
A identidade dos santos e as cores claras dos paramentos só iriam reaparecer no Domingo de Páscoa.
O repicar alegre dos sinos, a chamar para a igreja, deixará de se ouvir na Sexta Feira Santa. Cristo morreu nesse dia e, até à Aleluia, apenas as matracas, instrumento de paixão e tortura, se farão ouvir, a partir daí, na convocação e na celebração dos actos religiosos.
Uma espécie de manto de silêncio e negridão cobrirá, então, toda a vida da comunidade.
Os de longe vinham apenas à confissão e às cerimónias da tarde. Não podiam ficar para a procissão. Era tudo muito penoso, senão mesmo impossível, por causa dos caminhos.
A massa de gente acotovela-se em vários pontos da igreja, na sacristia ou até na Misericórdia, em filas intermináveis, para a confissão. Os padres não têm mãos a medir. E se eles, naquele tempo, eram muitos! Todos os fiéis querem limpar a ciscalhada de pecados acumulados que a condição humana carrega.
V
“Vamos a despachar! Vamos a despachar!” Sentenciava o Ti’ Manel do Balcão para a mulher. “Vamos a aviar!”  
Tinham vindo do Mourelo, de burro. Ela, mais acabadota, a cavalo. Ele a pé, a guiar o animal que não aguentava com os dois em cima. Para quem  o  conhecia, a  alcunha  era óbvia. Vinha-lhe do balcão de pedra da sua casa, que dava acesso directamente ao piso principal da habitação. Por baixo, situavam-se as lojas dos animais.
“Tem paciência, criatura do Senhor!” Exclamou, agridoce, a Ti’ Constança para o marido. “Olha que as coisas da igreja não são para pressas nem para excessos.”
“Ó mulher, deixa-te de lamúrias. Vai-te à igreja a tratar da tua vida. Bem sei que amanhã ainda é dia santo. Mas os animais não conhecem os feriados nem os domingos. Ainda não é de madrugada e já estão a chamar o Manel para lhes pôr o almoço na manjedoura. Toca a andar!” Insistia.
Se a noite os apanhasse no caminho de regresso a casa, só podiam contar com uma pequena lanterna.
“Vamos lá, que o caminho que para cá nos trouxe é o mesmo que para lá nos há de levar. Mas aquilo é o damonho dum caminho excomungado! Nem a lanternazita chega para nos acudir se houver algum percalço!”
“Olha lá, homem, tu devias era ir também confessar-te!”          
“Eu ...eu… não roubo nada a ninguém, nem trato mal o meu semelhante. Só dirijo imprecações ao rebanho das cabras, quando andam transviadas, a querer roer os talos das parreiras do vizinho. Mas como as cabras não têm alma, não há ofensa. Assim, estou limpo de pecados.”
“Mas ofendes-te a ti mesmo, homem. E as cabras não são também criaturas do Senhor?”
“São! Mas sempre te ouvi dizer que gostas muito de um bocadinho de chanfana de cabra bem temperada com azeite e vinho.”
“Ora, ora, uma coisa não tira a outra. Deus mandou que o homem reinasse sobre todos os outros animais. Podemos comer alguns, mas temos que os respeitar em vida e mesmo na morte.
E aquilo que tu me dizes às vezes? Pensas que não é pecado?”
“Mau! Homessa! Espera se queres ver. Agora temos ladainha.
Vai daí, desta vez, venho com o espírito pouco tranquilo para me confessar e ir à sagrada comunhão em paz e sossego. Tu sabes. Aquela questão que temos com o nosso vizinho sobre a água da regadia, deixou-me a mente perturbada. Aquilo há de resolver-se, mas ainda não chegou o tempo certo.”
O vizinho era o Zé Patoleia. A alcunha do ‘Patoleia’ vinha-lhe do facto de andar sempre a repetir a história daquela guerra civil, narrada num velho livro que ainda andava a rebolar lá em casa. E que ouvira ler a um familiar que tinha andado p’ra padre.
“Mas diz lá, mulher, o que é que eu te digo que é pecado e que tu achas que deve ser confessado ao Senhê Vegário?”
 “Por que é que tu, quando andas com a cabeça espavorida me dizes: ‘Vai-te para o rai’ que ta parta!’, se eu gosto tanto de ti, Manel?”  
Rai’s te coma e mais ao teu bem-querer, mulher! Não me digas isso que me fazes subir soluços aos gorgomilos! É verdade, em certos dias, ando com a cabeça desarvorada, com atarantações. É cá a vida!”
“A vida é de nós os dois, não é só tua.”
“Pois é. Tens toda a razão. Mas, que queres? Muitas vezes ponho-me a engolir em seco para dentro e depois digo coisas disparatadas. É o diacho!”
“Por isso é que, nestes dias, devias pedir a Deus que te ajudasse.”  
Mas o Ti’ Manel, um pouco mais recomposto daquele abanão emocional, respondeu-lhe:
“Bem, bem, mas vai lá tu tratar de ti, mulher, que eu rezarei as minhas orações cá fora, enquanto te espero. Entrementes, vou dando um punhado de palha ao burro. Vai, vai mulher.”
A Ti’ Constança percebeu que o marido continuava com o coração um pouco duro. Calou-se, dirigiu-se à igreja e foi direita a uma das filas para se confessar.
VI
O facto de não haver Semana Santa Completa, não tirava que na Semana Santa Simples, não tivessem lugar os actos principais. Com destaque para o Lava Pés, à tarde, e Procissão do Ece Homo, à noite, na Quinta Feira Santa. Adoração da Cruz, à tarde e procissão do Enterro do Senhor, à noite, na Sexta Feira Santa.
Tudo com a austeridade própria de cada um desses eventos. Antes, evidentemente, da magia do ‘aparecimento’ da Aleluia na madrugada de Domingo.
Nas procissões e ladainhas levavam-se, dantes, archotes feitos das seiras velhas dos lagares, ainda embebidas em azeite. As ladainhas não levavam padre. Eram organizadas apenas pelos leigos.
Mas as procissões tinham alguns ritos diferentes de todas as outras manifestações religiosas nas ruas da Vila, supõe-se que por exigências de solenidade.
Assim, na Quinta e Sexta Feira Santa, à noite, respectivamente, a procissão do Ece Homo e do Enterro do Senhor, após terem início na Misericórdia, ninguém mais podia entrar ou sair em nenhuma confluência de ruas ou largos; ou ia-se a tempo e horas para integrar as filas penitenciais da procissão ou ficava-se fora ou à janela; entrar e sair durante a procissão é que não era possível.
Pois, a tapar a boca de cada rua com cruzamento ou entroncamento com a rua da procissão, postava-se uma equipa de rapazes novos, escorreitos, de pé, atitude marcial. Braços na vertical ao longo do tronco, pegando na extremidade de umas varas, tipo cabos de enxada, colocados na horizontal, em cadeia transversal, vedando o local. 
As procissões continuaram a fazer-se, mas esta tradição, como a dos crepes de pano a esconder a face das imagens, na Quaresma, não existem há décadas; outras se foram perdendo. O curso dos tempos foi fazendo a sua erosão. E foram-se traçando diferentes caminhos.  
Os tempos são outros. Culturalmente, muita coisa mudou. Pode pensar-se que as religiões perderam fiéis. E parece ser evidente que nunca houve um mundo tão materialista como o de hoje. Mas mesmo assim, julgo que, no essencial, apenas se perderam alguns ritos para se adquirirem outros.
Porque a religiosidade é inerente ao Homem. 
E Deus Super Omnia.       

JB. 

domingo, 13 de abril de 2014

Boletim agrícola

O frio e a chuva das últimas semanas destruíram a produção das frutíferas mediterrânicas: amêndoas, ameixas e pêssegos. Com duas exceções: as árvores em sítios abrigados dos ventos gelados e aquelas em que os frutos já tinham vingado.
As cerejeiras salvaram-se quase todas, pois estavam mais atrasadas, só agora estão no pleno da floração.


 Cerejeira de espécie mais temporã, com as flores queimadas


Pessegueiro com flores queimadas e ramos sem folhas

José Teodoro Prata

sexta-feira, 11 de abril de 2014

O perdão e o amor

Hosanna...Salva-nos agora

É dia de Ramos, Cristo é aclamado
Hossana, hossana...
Que grande sacana
Gritam uns dias depois ao Homem honrado

Naquela quinta-feira em que Foste acusado
Choraste enquanto dormiam teus companheiros
No horto foste traido por trinta dinheiros
Eis Pedro que corta a orelha a um soldado

Não faças isso, antes que cante o galo
Tu Pedro Me trairás
Senhor... tu me renegarás
Nunca Senhor, hei-de sempre amá-lo

Conheço-te; tu és um dos seus
Eu! não conheço tal criatura
O galo cantou, cometi uma grande loucura
Perdoa Senhor os pecados meus

Judas Iscariotes não se arrependeu
Numa figueira se enforcou,
No templo, os trinta dinheiros lançou
Horrendo pecado cometeu.

Cristo foi maltratado
Levaram-No para casa de Anás,
Depois para a casa de Caifás
Pelos algozes foi chicoteado.

Estes mandaram-No a Herodes que era o rei
Por sua vez mandou-O ao governador Pilatos
Lavou suas mãos, por não encontrar Nele maus actos
Seja crucificado, soltem Barrabás...como manda a lei

Uma corôa de espinhos Lhe colocaram
Uma cana Lhe deram como simbolo real
Eis o rei dos judeus, assim tal e qual
Os soldados riram e zombaram.

Um pesado madeiro transportou
Para o calvário O dirigiram,
Alguns discipulos O seguiram
E a Verónica Seu rosto limpou

Sua mãe Maria O acompanhou
Com João juntamente
Vão matar um inocente
Fomos nós quem O crucificou

Pai; perdoa-lhes, não sabem o que fizeram
Pai; em Tuas mãos me entrego
O povo está nas trevas, anda cego
Até fel tão amargoso Lhe deram.

O véu do templo rasgou-se, a terra tremeu
Afinal é o filho de Deus
Perdoa Senhor estes filhos teus
Que andam nas trevas, Cristo venceu

...Já cá não está, ressucitou
Cristo nosso Redentor,
Olha por nós Senhor
Lá no céu para onde um dia vou.

Aleluia, aleluia, hoje é dia de alegria
Cristo venceu a morte
Que grande é nossa sorte
Assim se cumpriu a profecia

Pai-nosso que nos criaste à tua imagem
Ajuda-nos neste mundo cruel,
Onde existe tanto fel
Ampara-nos nesta nossa passagem.

Cristo o Alfa e o Ómega, nosso criador
Somos fruto da Tua imaginação,
Somos uma imagem da Tua criação
Filho de Deus nosso Redentor

Creio em Ti Senhor
É esta a minha fé
Tu nos deixaste o perdão e o amor

                                      Zé da Villa

terça-feira, 8 de abril de 2014

Era assim, naquele tempo

Aos seis anos já acompanhava o meu pai para todo o lado, mas onde eu gostava mais de ir era à feira da Lardosa. Havia lá de tudo a vender e gado de toda a qualidade. Os homens discutiam e passavam notas para as mãos uns dos outros. Eu olhava para aquilo tudo de boca aberta, pasmado! Fui lá muitas vezes com ele, até ao dia em que prometeu que me comprava umas botas, mas como não fez negócio com as bezerras que levava, não mas comprou. Apanhei uma perneta tão grande que jurou que nunca mais me levava para lado nenhum.
Passados uns tempos, chegou a casa e trazia umas botas atadas numa baraça, penduradas ao pescoço. Mandou-me sentar num poial que tínhamos à entrada da casa, e foi ele que mas enfiou nos pés. Eram de carneira, novinhas em folha! Eu nem queria acreditar! Depois ainda me disse assim: «Mete-me aqui a mão no bolso». Era um realejo! Acho que nunca tive uma prenda tão linda em toda a minha vida!
Outra ocasião, já rente à noite, apareceu-nos em casa com um homem. Era ainda novo, alto, magro, com uma gorra na cabeça e uma fala esquisita. Ouvi-o depois a dizer para a minha mãe que se chamava Joaquim e que andava fugido da guerra da Espanha, à procura de trabalho. Meteu-o como pastor.
Nesse tempo vivíamos no Pinheiro, durante o inverno, e na Serra da Maria do Ninho, no verão. Os vivos na loja, por baixo, e nós por cima. Foi lá que o espanhol viveu escondido durante mais de um ano. Ao princípio a minha mãe tinha medo dele. Dizia que era capaz de ser comunista e de nos fazer mal; mas passado pouco tempo já era como se fosse de casa. Eu pelava-me para andar atrás dele a guardar as cabras. Andava sempre a assobiar modas muito bonitas, lá da terra dele; e o que eu gostava de o ouvir! Ensinou-me a tocar realejo e a fazer fisgas. Às vezes trepávamos a uma pesserra e começávamos a atirar pedras para ver quem é que chegava mais longe. Muitas vezes era eu, mas acho que ele fazia de propósito… Nos dias em que levava vinho para a merenda, deixava-me molhar o bico, mas sempre com o olho em mim, não fosse eu abusar... Sentia-me um homem feito, nessas ocasiões! Quando acabaram com a guerra e ele abalou, a pena que eu tive!...
Aí já eu estava na idade de ir para a escola, mas o meu pai não quis saber e pôs-me a guardar as cabras. Eram mais de cinquenta, fora os cabritos que nasciam às rebanhadas. Ao princípio o que mais me custava era passar o dia sozinho, mas depois começou a ir lá ter comigo um cachopo, mais ou menos da minha idade, que morava ali perto. Fugia de casa porque andava esganado com fome e sabia que eu partia com ele a merenda que a minha mãe me mandava: pão com queijo ou chouriça, azeitonas e, às vezes, uma sardinha de escabeche. E bebíamos o leite todo que queríamos, direitinho das tetas das cabras para a boca. Nesse tempo também por lá havia muito figo, muito gacho e castanhas, quando era a altura delas. Passávamos o dia à cata de ninhos e de talocas de coelhos, mas sempre com o olho nas cabras, não fosse alguma escapar-se. Uma vez zangámo-nos por causa dum ninho de rola que eu lhe ensinei. Tinha dois passarinhos já taludos, mas ainda meio encarrapatos. Combinámos ir lá a tirá-los daí por uns dias, mas quando lá chegámos, tinham desaparecido. Por mais que ele jurasse: «Eu seja ceguinho, se fui eu…», não acreditei. Chamei-lhe tudo, de gatuno para cima, e que nunca mais o queria ver à frente. Passado pouco tempo apareceu-me lá com um costil e só me disse assim: «Foram p´a fazer um caldo p’á m’nha mãe que estava de cama…». Ficámos amigos, até hoje…
Nessa altura não conhecia uma letra do tamanho dum comboio, mas de pastor já sabia a cartilha toda. Conhecia as cabras pelo nome, e elas também me conheciam bem a mim. Quando alguma ficava para trás ou se adiantava, bastava levar os dedos à boca a assobiar ou berrar: «Rais parta a moucha! P’ra onde é qu’ela vai com tanta pressa?», e lá vinha ela... Ordenhava-as (p’ra cima de dois litros, cada uma!), aumentava os cabritos e fazia-lhes a cama. Mas uma vez, se não fosse o Fiel, uma delas era capaz de ter morrido. Ficou para trás e só ao fim dum grande bocado é que dei por falta dela. Chamei, assobiei, mas nada. O cão percebeu e desatou a correr por ali abaixo, e eu já com o coração nas mãos. Passado um bom bocado apareceu a ladrar e a correr para cima e para baixo. Até parecia que queria falar! Vi logo o que era. Voltei para trás e fui dar com a cabra caída no chão, já sem força, com sinais de querer parir. O meu pai tinha-me ensinado como é que se fazia quando as coisas davam para o torto: «metes a mão por ela adentro, agarras as patas dianteiras e o pescoço da cria, rodas um poucochinho e puxas». Foi o que fiz. O cabrito ainda ficou ali um bocado sem dar acordo, a mãe a lambê-lo; mas depois foi vê-lo a pôr-se de pé e à procura das tetas para mamar. Ao cabo de dois dias já andava com os outros, aos pulos por aqueles cabeços fora, como se fossem uns cachopitos. Coisa mais linda!
Com doze anos o meu pai achou que já tinha bom corpo para pegar na charrua. Tirou-me as cabras (ficou o meu irmão a seguir a mim a guardá-las) e pôs-me á frente duma junta de bois, a lavrar. Sozinho dava conta do Pinheiro, do Carvalhal Redondo e das Lameiras. E ainda ia ao mato, à lenha, acarretava estrume e tudo o que aparecesse.
Nessa altura, na nossa casa não se passava miséria. Não havia dinheiro para luxos, mas tínhamos pão e queijo com fartura, um porco na salgadeira todos os anos, as varas do fumeiro cheias de chouriças, morcelas e farinheiras, e umas boas pipas de vinho na loja. Mas também nos saía do corpo! Trabalhávamos de sol a sol e só descansávamos aos domingos para ir à missa. Era por isso que quando o meu pai, depois da ceia, nos fazia pôr as mãos e dizer: «Obrigado, Senhor, que me deste de comer sem o eu merecer, dai-me também o Céu quando eu morrer…» aquilo não me caía cá muito bem. Um dia não tive mão em mim e disse assim: «Eh meu pai, a gente anda a trabalhar que nem escravos desde que o sol nasce até que se põe; não me diga que não merecemos ao menos uma malga de caldo e uma fatia de pão com conduto!». O meu pai olhou para mim duma maneira que nem sei se queria rir ou chorar. E a minha mãe a benzer-se: «Ai, filho, até parece que tens o diabo dentro de ti! Tu nunca mais me digas uma coisa dessas que é pecado, e o Nosso Senhor ainda te pode castigar! …». 
Depois houve uma altura que veio aí uma seca levada da breca! Foram uns poucos de anos sem cair uma pinga, nem de inverno nem de verão. Nem os mais velhos tinham memória de uma coisa assim. Dos trezentos ou quatrocentos alqueires de pão que costumávamos ter, não tivemos nem uma décima, nesses anos. Empenhado até às orelhas, o meu pai andava desaustinado de todo. Passava noites a fio sem pregar olho, sem saber onde é que havia de ir buscar o dinheiro para as rendas. Ainda foi ao Fundão p’ra mor de ver se o Neves lhe perdoava alguma coisa ou lhe dava mais tempo para pagar, mas a resposta foi esta: «Nós temos um contrato, não temos? Eu cumpri a minha parte, tu tens que cumprir a tua. Arranja-te como quiseres que eu também tenho que pagar as décimas…». A resposta dos outros foi mais ou menos a mesma. Até parece que estavam todos feitos, aqueles filhos do diabo! Queriam lá saber das dificuldades dos pobres para alguma coisa! …
O meu pai que foi sempre um homem com vergonha na cara, não teve mais nada: vendeu o rebanho, as vacas e tudo o que pôde; pagou a quem devia e abalou para as Minas da Panasqueira. A minha mãe pegou nos seis filhos que já tinha e mudou-se para a vila. Foi o bem que ela fez porque assim os mais novos já puderam ir para a escola. Tiveram mais sorte do que eu que só aprendi a ler e a escrever na tropa.
A partir daí a nossa vida mudou como do dia para a noite. Eu peguei numa enxada e comecei a andar por dia, a cavar; mas naquele tempo não havia muito quem desse trabalho e a maior parte dos dias andávamos à boa vida. Era preciso pedir a este e àquele para nos dar um dia a ganhar, e a féria era uma miséria. Ainda por cima eu já fazia bem o trabalho dum homem, mas, como não tinha idade, só queriam pagar-me a metade do que davam aos outros. Uma corja de ladrões! Valiam-se de tudo para enriquecer cada vez mais.
Foi por isso que um dia me voltei para a minha mãe e lhe disse assim: «Eh mãe, arranje-me aí o que puder que eu vou p’ra Castelo Branco a ver se arranjo trabalho.» Ao princípio, ela bem me quis tirar isso da ideia: «Ai, filho, bem bonda o teu pai andar lá por tão longe, quanto mais tu agora também quereres abalar! Deixa-te disso, que a gente cá se há de amanhar…»; mas eu tanto ateimei que ela não teve outro remédio. Pôs-me a roupa juntamente com um pão e metade de um queijo dentro duma bolsa, meteu-me dez escudos na mão e um santinho da Senhora da Orada no bolso de dentro do casaco e, lavada em lágrimas, só me disse assim: «Vai com Deus, meu filho! Que a Nossa Senhora e o Senhor Santo Cristo te acompanhem…».
Era em maio. Quando amontei na camioneta da carreira disse ao revisor que queria um bilhete para Castelo Branco e pedi que me avisasse quando lá chegássemos. «Ó cachopo, atão tu nunca foste a Castelo Branco?». «Eu não senhor!». «Vai descansado que quando lá chegarmos logo te digo. Queres ficar na Sé ou na estação?» «Olhe, fico num lado qualquer; tanto se me dá…».
Não era verdade que nunca tivesse estado em Castelo Branco. Tinha lá ido umas duas vezes com o meu pai, depois da malha, a vender o pão. Naquele tempo os agricultores só podiam ficar com uma parte daquilo que produziam e o resto tinham que o entregar no Grémio para o mandarem para fora. Era no tempo da guerra. Abalávamos de madrugada com o carro de bois carregadinho. Eu, a maior parte do tempo encavalitado em cima das sacas; o meu pai à frente das vacas. Às vezes escanchava-se em cima do tiro do carro, para descansar as pernas. Era o dia todo a rodar porque as vacas andavam pouco; a carga era muita e as estradas mal andamosas, só buracos e curvas. Só parávamos, já rente ao sol posto, antes da Póvoa. Havia ali à entrada um cabanão, e era lá que os ganhões cá da terra paravam para descansar e comer a merenda que levavam de casa. De madrugada voltavam a aparelhar as vacas e abalavam, até ao destino. Na volta traziam o adubo e o mais que fosse preciso para a sementeira do ano seguinte. O que sobejava do ganho de um ano de trabalho, mal dava para as rendas e para pagar aos homens que metia quando era preciso. 
Apeei-me ao pé da Sé, todo agoniado por causa do cheiro e dos saltos da camioneta. Avezado à nossa terra e a conhecer toda a gente, quando me vi sozinho, no meio de estranhos e sem saber para onde ir, parece que as ânsias ainda aumentaram mais. Havia ali um largo com uns bancos e fiquei lá sentado mais que tempos. Nisto começo a ouvir martelar, não muito longe. Fui espreitar e vi que andavam a fazer uma obra, mesmo ali ao lado da Sé. Cheguei-me ao pé dum homem que estava logo à entrada e perguntei se não precisavam de mais nenhum trabalhador. Ele mirou-me de cima abaixo e perguntou-me: «E o que é que tu sabes fazer, rapaz?». «Olhe, até aqui andei a guardar cabras e à frente duma junta de bois, mas faço aquilo que houver…». «Atão e quando é que queres começar?». «Pode ser já hoje.». «Não, hoje já não. Podes vir amanhã, às oito». Já mais descansado, comi uma bucha de pão com queijo e no fim enchi a barriga de água numa bica que havia ali perto.
Passei o resto da tarde às voltas dum lado para o outro, embasbacado com aquelas casas tão altas como a torre da nossa igreja. E automóveis, e gente que mal olhava uma para a outra… E quando foi à noite acenderam-se tantas luzes que até parecia a nossa Praça, nas Festas de Verão! O diabo é que fiquei desorientado e quando quis tornar para o pé da Sé já não sabia para que lado é que era. Mas ao fim dum bocado lá dei com ela. Mesmo por trás, descobri um canto para dormir. Deitei-me, todo encolhido, encostado a uma parede; a bolsa a fazer de travesseira, não fosse aparecer por ali algum gatuno. Mas se me roubassem, também não iam ricos: uma muda de roupa de baixo, duas camisas de trabalho todas puídas e dois pares de calças, remendo por cima de remendo… Para os pés, só umas botas feitas pelo Ti Antonho Maria, já gastas; umas baraças a fazerem de atacadores.
Durante o dia tinha feito uma calma do diabo, mas à noite, não sei se arrefeceu ou o que é que foi, não preguei olho; os queixais a baterem que nem matracas. Mal se começou a ver, pus-me a pé. Comi mais um naco de pão com uma unha de queijo e fui plantar-me à entrada da obra. Quando os outros chegaram, já eu lá estava há que tempos! Meteram-me uma picareta nas mãos e puseram-me a abrir caboucos.
Como não tinha para onde ir, ficava a trabalhar até para lá da hora e, muitas vezes, até aos domingos. Ficava a partir pedra. Sempre ganhava mais qualquer coisa e era uma maneira de não darem fé que eu andava a dormir lá dentro: encostei umas chapas a uma parede como se fosse uma cabana, e os sacos de cimento despejados serviam de enxerga e de manta. Quando descobriram, o patrão ainda ralhou comigo, mas depois contei-lhe o que se passava e mandou armar uma cama numa arrecadação que tinham no quintal. Foi lá que passei a dormir. A cama era boa, e até tinha lençóis e tudo!...
Um dia descobri que, ao cair da noite, davam de comer à porta do quartel da Devesa. Como já andava farto de comer de seco, arranjei uma marmita e fui-me plantar também lá na bicha. Quando chegou à minha vez atestaram-ma de sopa de feijão com massa grossa. Até a colher ficava de pé! Deu para a ceia e ainda sobejou para o jantar do outro dia. Passei a ir lá todas as noites.
A dormir bem e a comer melhor, passado pouco tempo já nem parecia o mesmo. Ainda p’ra mais, com o dinheiro que ganhava fora parte, comprei umas botas e roupa nova. Passei a andar vestido como deve ser, à moda.
Só vim à terra ao cabo de três meses, pela Festa do Santo António. Quando a minha mãe encarou comigo, agarrou-se a mim a chorar: «Ai, meu rico filho, que lindo que tu vens! Louvado seja o Senhor Santo Cristo que ouviu as minhas rezas!». Ficou ainda mais contente quando lhe entreguei a féria, quase inteira, daqueles três meses: pouco faltava para um conto de réis!
No domingo comprei umas chouriças no ramo do Santo António e, com mais uns cachopos da minha idade, fomos para a Senhora da Orada fazer uma comezana. Cada um levou sua coisa: queijo, presunto, chouriças, pão trigo e vinho com fartura. Aquilo é que foi comer e beber! Vim de lá com uma borracheira que não me acolhia em pé! Só me lembro de ter apanhado outra igual quando fui à inspeção.
Era assim, naquele tempo …

M. L. Ferreira

domingo, 6 de abril de 2014

Em abril...


Gosto particularmente desta canção, talvez porque conta uma história, 
a vida do padre português Alípio de Freitas. 
Foi para o Brasil e viu tanta pobreza que se juntou aos que lutavam pela dignidade dos pobres. 
Preso e quase esquecido nas masmorras da ditadura brasileira, 
o Zeca soube da sua história e dedicou-lhe esta canção.
A canção passou de boca em boca e tiveram de o libertar.
Ainda vive e a revista VISÃO desta semana traz uma entrevista com ele, a propósito de ABRIL.

 

José Teodoro Prata

sexta-feira, 4 de abril de 2014

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Saudades de São Vicente
Saudades de São Vicente
Desta linda terra beirã
Tens Lisboa como irmã
Terra de fé, de gente crente
São Vicente terra bendita
Como tu não há igual
Neste nosso Portugal
És a vila mais bonita
Que Deus te guarde
Vila do meu coração
Ao Cristo rezo uma oração
E à Senhora da Assunção
São Vicente, terra airosa
Cheia de encantos e beleza
A vila mais portuguesa
Mui bonita e formosa
Vila de condes e morgados
Artífices, artesãos e judeus
Gente valorosa, meu Deus
Já são tempos passados
Vila de freiras e madres
De um convento arrasado
És por nós lembrado
Nunca tiveste frades
São Vicente terra formosa
Tens encantos sem igual
Em qualquer lado ou local
Minha terra, botão de rosa
São Vicente fica na Beira
Na Guardunha aninhada
És uma terra sagrada
Para nós tu és a primeira
Tens um santuário mariano
Onde brotam águas milagrosas
Cheira a cravos, cheira a rosas
Senhora, até pró ano

                                              Zé da villa

segunda-feira, 31 de março de 2014

DESCOBRINDO a Gardunha



Esta iniciativa da Associação Descobrindo devolveu 3.500 árvores à Gardunha

Plantaram-se bétulas, castanheiros, faias, carvalhos e freixos.

A ação contou com cerca de uma centena de pessoas.

Os Presidentes das Câmaras de Castelo Branco e Fundão juntaram-se a esta causa.

Fonte: Jornal do Fundão, 27 de março de 2014