Aos seis anos já acompanhava o meu pai
para todo o lado, mas onde eu gostava mais de ir era à feira da Lardosa. Havia
lá de tudo a vender e gado de toda a qualidade. Os homens discutiam e passavam
notas para as mãos uns dos outros. Eu olhava para aquilo tudo de boca aberta,
pasmado! Fui lá muitas vezes com ele, até ao dia em que prometeu que me
comprava umas botas, mas como não fez negócio com as bezerras que levava, não
mas comprou. Apanhei uma perneta tão grande que jurou que nunca mais me levava
para lado nenhum.
Passados uns tempos, chegou a casa e
trazia umas botas atadas numa baraça, penduradas ao pescoço. Mandou-me sentar
num poial que tínhamos à entrada da casa, e foi ele que mas enfiou nos pés. Eram
de carneira, novinhas em folha! Eu nem queria acreditar! Depois ainda me disse
assim: «Mete-me aqui a mão no bolso». Era um realejo! Acho que nunca tive uma
prenda tão linda em toda a minha vida!
Outra ocasião, já rente à noite,
apareceu-nos em casa com um homem. Era ainda novo, alto, magro, com uma gorra
na cabeça e uma fala esquisita. Ouvi-o depois a dizer para a minha mãe que se
chamava Joaquim e que andava fugido da guerra da Espanha, à procura de trabalho.
Meteu-o como pastor.
Nesse tempo vivíamos no Pinheiro,
durante o inverno, e na Serra da Maria do Ninho, no verão. Os vivos na loja, por
baixo, e nós por cima. Foi lá que o espanhol viveu escondido durante mais de um
ano. Ao princípio a minha mãe tinha medo dele. Dizia que era capaz de ser
comunista e de nos fazer mal; mas passado pouco tempo já era como se fosse de
casa. Eu pelava-me para andar atrás dele a guardar as cabras. Andava sempre a
assobiar modas muito bonitas, lá da terra dele; e o que eu gostava de o ouvir! Ensinou-me
a tocar realejo e a fazer fisgas. Às vezes trepávamos a uma pesserra e
começávamos a atirar pedras para ver quem é que chegava mais longe. Muitas
vezes era eu, mas acho que ele fazia de propósito… Nos dias em que levava vinho
para a merenda, deixava-me molhar o bico, mas sempre com o olho em mim, não
fosse eu abusar... Sentia-me um homem feito, nessas ocasiões! Quando acabaram com
a guerra e ele abalou, a pena que eu tive!...
Aí já eu estava na idade de ir para a
escola, mas o meu pai não quis saber e pôs-me a guardar as cabras. Eram mais de
cinquenta, fora os cabritos que nasciam às rebanhadas. Ao princípio o que mais
me custava era passar o dia sozinho, mas depois começou a ir lá ter comigo um
cachopo, mais ou menos da minha idade, que morava ali perto. Fugia de casa
porque andava esganado com fome e sabia que eu partia com ele a merenda que a minha
mãe me mandava: pão com queijo ou chouriça, azeitonas e, às vezes, uma sardinha
de escabeche. E bebíamos o leite todo que queríamos, direitinho das tetas das
cabras para a boca. Nesse tempo também por lá havia muito figo, muito gacho e
castanhas, quando era a altura delas. Passávamos o dia à cata de ninhos e de
talocas de coelhos, mas sempre com o olho nas cabras, não fosse alguma escapar-se.
Uma vez zangámo-nos por causa dum ninho de rola que eu lhe ensinei. Tinha dois
passarinhos já taludos, mas ainda meio encarrapatos. Combinámos ir lá a
tirá-los daí por uns dias, mas quando lá chegámos, tinham desaparecido. Por
mais que ele jurasse: «Eu seja ceguinho, se fui eu…», não acreditei. Chamei-lhe
tudo, de gatuno para cima, e que nunca mais o queria ver à frente. Passado
pouco tempo apareceu-me lá com um costil e só me disse assim: «Foram p´a fazer
um caldo p’á m’nha mãe que estava de cama…». Ficámos amigos, até hoje…
Nessa altura não conhecia uma letra do
tamanho dum comboio, mas de pastor já sabia a cartilha toda. Conhecia as cabras
pelo nome, e elas também me conheciam bem a mim. Quando alguma ficava para trás
ou se adiantava, bastava levar os dedos à boca a assobiar ou berrar: «Rais
parta a moucha! P’ra onde é qu’ela vai com tanta pressa?», e lá vinha ela... Ordenhava-as
(p’ra cima de dois litros, cada uma!), aumentava os cabritos e fazia-lhes a
cama. Mas uma vez, se não fosse o Fiel, uma delas era capaz de ter morrido.
Ficou para trás e só ao fim dum grande bocado é que dei por falta dela. Chamei,
assobiei, mas nada. O cão percebeu e desatou a correr por ali abaixo, e eu já
com o coração nas mãos. Passado um bom bocado apareceu a ladrar e a correr para
cima e para baixo. Até parecia que queria falar! Vi logo o que era. Voltei para
trás e fui dar com a cabra caída no chão, já sem força, com sinais de querer
parir. O meu pai tinha-me ensinado como é que se fazia quando as coisas davam
para o torto: «metes a mão por ela adentro, agarras as patas dianteiras e o
pescoço da cria, rodas um poucochinho e puxas». Foi o que fiz. O cabrito ainda
ficou ali um bocado sem dar acordo, a mãe a lambê-lo; mas depois foi vê-lo a
pôr-se de pé e à procura das tetas para mamar. Ao cabo de dois dias já andava
com os outros, aos pulos por aqueles cabeços fora, como se fossem uns cachopitos.
Coisa mais linda!
Com doze anos o meu pai achou que já
tinha bom corpo para pegar na charrua. Tirou-me as cabras (ficou o meu irmão a
seguir a mim a guardá-las) e pôs-me á frente duma junta de bois, a lavrar.
Sozinho dava conta do Pinheiro, do Carvalhal Redondo e das Lameiras. E ainda ia
ao mato, à lenha, acarretava estrume e tudo o que aparecesse.
Nessa altura, na nossa casa não se
passava miséria. Não havia dinheiro para luxos, mas tínhamos pão e queijo com
fartura, um porco na salgadeira todos os anos, as varas do fumeiro cheias de
chouriças, morcelas e farinheiras, e umas boas pipas de vinho na loja. Mas
também nos saía do corpo! Trabalhávamos de sol a sol e só descansávamos aos
domingos para ir à missa. Era por isso que quando o meu pai, depois da ceia,
nos fazia pôr as mãos e dizer: «Obrigado, Senhor, que me deste de comer sem o
eu merecer, dai-me também o Céu quando eu morrer…» aquilo não me caía cá muito bem.
Um dia não tive mão em mim e disse assim: «Eh meu pai, a gente anda a trabalhar
que nem escravos desde que o sol nasce até que se põe; não me diga que não
merecemos ao menos uma malga de caldo e uma fatia de pão com conduto!». O meu
pai olhou para mim duma maneira que nem sei se queria rir ou chorar. E a minha
mãe a benzer-se: «Ai, filho, até parece que tens o diabo dentro de ti! Tu nunca
mais me digas uma coisa dessas que é pecado, e o Nosso Senhor ainda te pode
castigar! …».
Depois houve uma altura que veio aí
uma seca levada da breca! Foram uns poucos de anos sem cair uma pinga, nem de
inverno nem de verão. Nem os mais velhos tinham memória de uma coisa assim. Dos
trezentos ou quatrocentos alqueires de pão que costumávamos ter, não tivemos
nem uma décima, nesses anos. Empenhado até às orelhas, o meu pai andava
desaustinado de todo. Passava noites a fio sem pregar olho, sem saber onde é que
havia de ir buscar o dinheiro para as rendas. Ainda foi ao Fundão p’ra mor de
ver se o Neves lhe perdoava alguma coisa ou lhe dava mais tempo para pagar, mas
a resposta foi esta: «Nós temos um contrato, não temos? Eu cumpri a minha parte,
tu tens que cumprir a tua. Arranja-te como quiseres que eu também tenho que
pagar as décimas…». A resposta dos outros foi mais ou menos a mesma. Até parece
que estavam todos feitos, aqueles filhos do diabo! Queriam lá saber das
dificuldades dos pobres para alguma coisa! …
O meu pai que foi sempre um homem com
vergonha na cara, não teve mais nada: vendeu o rebanho, as vacas e tudo o que
pôde; pagou a quem devia e abalou para as Minas da Panasqueira. A minha mãe
pegou nos seis filhos que já tinha e mudou-se para a vila. Foi o bem que ela
fez porque assim os mais novos já puderam ir para a escola. Tiveram mais sorte
do que eu que só aprendi a ler e a escrever na tropa.
A partir daí a nossa vida mudou como
do dia para a noite. Eu peguei numa enxada e comecei a andar por dia, a cavar;
mas naquele tempo não havia muito quem desse trabalho e a maior parte dos dias
andávamos à boa vida. Era preciso pedir a este e àquele para nos dar um dia a
ganhar, e a féria era uma miséria. Ainda por cima eu já fazia bem o trabalho
dum homem, mas, como não tinha idade, só queriam pagar-me a metade do que davam
aos outros. Uma corja de ladrões! Valiam-se de tudo para enriquecer cada vez
mais.
Foi por isso que um dia me voltei para
a minha mãe e lhe disse assim: «Eh mãe, arranje-me aí o que puder que eu vou p’ra
Castelo Branco a ver se arranjo trabalho.» Ao princípio, ela bem me quis tirar
isso da ideia: «Ai, filho, bem bonda o teu pai andar lá por tão longe, quanto
mais tu agora também quereres abalar! Deixa-te disso, que a gente cá se há de
amanhar…»; mas eu tanto ateimei que ela não teve outro remédio. Pôs-me a roupa
juntamente com um pão e metade de um queijo dentro duma bolsa, meteu-me dez escudos
na mão e um santinho da Senhora da Orada no bolso de dentro do casaco e, lavada
em lágrimas, só me disse assim: «Vai com Deus, meu filho! Que a Nossa Senhora e
o Senhor Santo Cristo te acompanhem…».
Era em maio. Quando amontei na
camioneta da carreira disse ao revisor que queria um bilhete para Castelo Branco
e pedi que me avisasse quando lá chegássemos. «Ó cachopo, atão tu nunca foste a
Castelo Branco?». «Eu não senhor!». «Vai descansado que quando lá chegarmos
logo te digo. Queres ficar na Sé ou na estação?» «Olhe, fico num lado qualquer;
tanto se me dá…».
Não
era verdade que nunca tivesse estado em Castelo Branco. Tinha lá ido umas duas
vezes com o meu pai, depois da malha, a vender o pão. Naquele tempo os
agricultores só podiam ficar com uma parte daquilo que produziam e o resto
tinham que o entregar no Grémio para o mandarem para fora. Era no tempo da
guerra. Abalávamos de madrugada com o carro de bois carregadinho. Eu, a maior
parte do tempo encavalitado em cima das sacas; o meu pai à frente das vacas. Às
vezes escanchava-se em cima do tiro do carro, para descansar as pernas. Era o
dia todo a rodar porque as vacas andavam pouco; a carga era muita e as estradas
mal andamosas, só buracos e curvas. Só parávamos, já rente ao sol posto, antes
da Póvoa. Havia ali à entrada um cabanão, e era lá que os ganhões cá da terra
paravam para descansar e comer a merenda que levavam de casa. De madrugada
voltavam a aparelhar as vacas e abalavam, até ao destino. Na volta traziam o
adubo e o mais que fosse preciso para a sementeira do ano seguinte. O que
sobejava do ganho de um ano de trabalho, mal dava para as rendas e para pagar
aos homens que metia quando era preciso.
Apeei-me ao pé da Sé, todo agoniado
por causa do cheiro e dos saltos da camioneta. Avezado à nossa terra e a
conhecer toda a gente, quando me vi sozinho, no meio de estranhos e sem saber
para onde ir, parece que as ânsias ainda aumentaram mais. Havia ali um largo
com uns bancos e fiquei lá sentado mais que tempos. Nisto começo a ouvir
martelar, não muito longe. Fui espreitar e vi que andavam a fazer uma obra,
mesmo ali ao lado da Sé. Cheguei-me ao pé dum homem que estava logo à entrada e
perguntei se não precisavam de mais nenhum trabalhador. Ele mirou-me de cima
abaixo e perguntou-me: «E o que é que tu sabes fazer, rapaz?». «Olhe, até aqui
andei a guardar cabras e à frente duma junta de bois, mas faço aquilo que
houver…». «Atão e quando é que queres começar?». «Pode ser já hoje.». «Não,
hoje já não. Podes vir amanhã, às oito». Já mais descansado, comi uma bucha de
pão com queijo e no fim enchi a barriga de água numa bica que havia ali perto.
Passei o resto da tarde às voltas dum
lado para o outro, embasbacado com aquelas casas tão altas como a torre da
nossa igreja. E automóveis, e gente que mal olhava uma para a outra… E quando
foi à noite acenderam-se tantas luzes que até parecia a nossa Praça, nas Festas
de Verão! O diabo é que fiquei desorientado e quando quis tornar para o pé da
Sé já não sabia para que lado é que era. Mas ao fim dum bocado lá dei com ela.
Mesmo por trás, descobri um canto para dormir. Deitei-me, todo encolhido,
encostado a uma parede; a bolsa a fazer de travesseira, não fosse aparecer por
ali algum gatuno. Mas se me roubassem, também não iam ricos: uma muda de roupa
de baixo, duas camisas de trabalho todas puídas e dois pares de calças, remendo
por cima de remendo… Para os pés, só umas botas feitas pelo Ti Antonho Maria,
já gastas; umas baraças a fazerem de atacadores.
Durante o dia tinha feito uma calma do
diabo, mas à noite, não sei se arrefeceu ou o que é que foi, não preguei olho;
os queixais a baterem que nem matracas. Mal se começou a ver, pus-me a pé. Comi
mais um naco de pão com uma unha de queijo e fui plantar-me à entrada da obra. Quando
os outros chegaram, já eu lá estava há que tempos! Meteram-me uma picareta nas
mãos e puseram-me a abrir caboucos.
Como não tinha para onde ir, ficava a
trabalhar até para lá da hora e, muitas vezes, até aos domingos. Ficava a
partir pedra. Sempre ganhava mais qualquer coisa e era uma maneira de não darem
fé que eu andava a dormir lá dentro: encostei umas chapas a uma parede como se
fosse uma cabana, e os sacos de cimento despejados serviam de enxerga e de
manta. Quando descobriram, o patrão ainda ralhou comigo, mas depois contei-lhe
o que se passava e mandou armar uma cama numa arrecadação que tinham no quintal.
Foi lá que passei a dormir. A cama era boa, e até tinha lençóis e tudo!...
Um dia descobri que, ao cair da noite,
davam de comer à porta do quartel da Devesa. Como já andava farto de comer de
seco, arranjei uma marmita e fui-me plantar também lá na bicha. Quando chegou à
minha vez atestaram-ma de sopa de feijão com massa grossa. Até a colher ficava
de pé! Deu para a ceia e ainda sobejou para o jantar do outro dia. Passei a ir
lá todas as noites.
A dormir bem e a comer melhor, passado
pouco tempo já nem parecia o mesmo. Ainda p’ra mais, com o dinheiro que ganhava
fora parte, comprei umas botas e roupa nova. Passei a andar vestido como deve
ser, à moda.
Só vim à terra ao cabo de três meses,
pela Festa do Santo António. Quando a minha mãe encarou comigo, agarrou-se a
mim a chorar: «Ai, meu rico filho, que lindo que tu vens! Louvado seja o Senhor
Santo Cristo que ouviu as minhas rezas!». Ficou ainda mais contente quando lhe
entreguei a féria, quase inteira, daqueles três meses: pouco faltava para um
conto de réis!
No domingo comprei umas chouriças no
ramo do Santo António e, com mais uns cachopos da minha idade, fomos para a
Senhora da Orada fazer uma comezana. Cada um levou sua coisa: queijo, presunto,
chouriças, pão trigo e vinho com fartura. Aquilo é que foi comer e beber! Vim
de lá com uma borracheira que não me acolhia em pé! Só me lembro de ter
apanhado outra igual quando fui à inspeção.
Era
assim, naquele tempo …
M. L. Ferreira
7 comentários:
Lindo! Lindo!
Mas que grande carga de humanidade tem esta história!
E que grande lição de vida dava este homem, sem letras, apenas com o seu exemplo! É caso para dizer que quando um homem é pobre e não tem nada, desde que tenha dignidade, ainda se tem a si mesmo! É isso o mais importante. E que grande capacidade de sofrimento a desta gente!
Relativamente às imagens linguísticas, tão ricas, é do melhor que já vi. Toda a ambiência, o pormenor de certos termos escritos tal como são usados foneticamente (por exem., 'aumentava os cabritos' em vez de 'amamentava os cabritos'). Por estas e por muitas outras, a autora teve a capacidade de nos fazer retornar àquela época para vermos que, realmente 'Era assim, naquele tempo', apesar de me parecer que a geração do protagonista é ainda anterior à nossa. O estilo faz lembrar autores que, pessoalmente, muito aprecio, como Torga e Aquilino.
Portanto e, pegando agora aqui numa ideia do Zé Teodoro, mas modificando-a meu modo - desculpa, ó Zé - direi que a Libânia, na minha opinião, já não terá aqui o seu segundo momento. Porque, definitivamente, escreve com muita arte. Por isso, parabéns!
Zé Barroso
Já tive muitos alunos descendentes dos refugiados da Guerra Civil de Espanha, histórias de heroísmo, horror e humanidade!
Não sabia de nenhum refugiado em São Vicente, mas fico feliz por não termos ficado à margem dessa grande vaga de humanidade clandestina: a região estava cheia de pides e os guardas entregavam aos fascistas espanhóis todos os que apanhavam deste lado da fronteira, enviando-os para uma morte certa.
Tive uma aluna, descendente de um Presidente da Câmara de Espanha, que apenas sabia do assassínio do seu bisavô, pois a avó, na altura ainda menina, escondeu as suas origens de tal forma que acabaram por se perder as memórias desses tempos.
Entrevistado e escritora notáveis!
Escrever é como nadar, há o momento e depois já não se esquece.
Peço desculpa mas, com a concentração na história e no recorte psicológico do protagonista, não me situei bem no tempo em que decorre a acção. E isso nota-se no primeiro comentário que fiz quando comparo gerações. Claro que estamos aqui nos anos '30 (guerra civil de Espanha 1936/39).
Tinha que fazer esta rectificação.
Obrigado.
ZB.
Lindo
Está escrito de forma muito visual.
Não fica atrás de nenum pémio Leya.
Parabéns
É de facto uma história notável, pelo que nos revela do melhor e do pior duma época, não muito distante, de que ainda temos muitos ecos.
Acho que a razão por que muitos de nós gostamos tanto de ler o Torga, o Aquilino ou o Namora é o facto de, para além das qualidades literárias, eles terem sido uns bons observadores das pessoas simples e dos seus modos de vida. Os protagonistas de muitas das histórias que contam podiam bem ter sido os nossos avós, os nossos pais ou até nós mesmos…
Ainda há dias, em conversa com a Ti Maria dos Anjos, tive um sobressalto. Falava-me da infância, do marido, dos filhos, e das muitas maleitas físicas e psicológicas que foi acumulando ao longo dos anos. Às tantas, já nem sabia se a estava a ouvir a ela ou a reler o conto “A Consulta” (acho que é assim que se chama) do Fernando Namora. Por momentos tive medo que se voltasse para mim e, um pouco à semelhança da protagonista daquela história, também ela desabafasse: «Cabrona da mulher, que nem me está a ouvir!».
M. L. Ferreira
Que “delicia”, é aqui relatada uma história muito bonita, através de um texto que nos prende do princípio ao fim, e que tem a capacidade de nos fazer visualizar todo o cenário, adorei.
Não resisti a partilha-lo no Facebook, para que pudesse ser conhecido pelos meus amigos de Norte a Sul do País, e na esperança que estes o partilhassem de modo a que pudesse ser lido por toda a gente, é um texto tão rico que seria uma pena que só viesse a ser lido por vicentinos.
Luís Leitão
Faço meu completamente o comentário do Zé Barroso e obrigado por esta emoção de vidas reais.É importante se lembrar de onde viemos e redescobrir o verdadeiro significado de nossas vidas.Além de nossos bens materiais, acredito que o mais importante continua a ser a relaçao com a "nossa gente". Peço desculpa, mas tenho dificuldade para escrever Português.'. Sempre Vicentino Joao Maria Craveiro (Passaraço )
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