As Festas de Verão são em honra do Santíssimo Sacramento da Igreja Matriz, no domingo, do Santo Cristo da Misericórdia, na segunda-feira, e da Senhora do Carmo, na terça-feira. Nos anos 70, o P.e António Branco e um grupo de vicentinos radicados em Lisboa começaram a ir de romagem à Senhora da Orada, na quarta-feira, mas este festejo não vingou, talvez por ser sobretudo motivado pela fome de sardinhas assadas, tal o enjoo de carne, nos dias anteriores.
As Festas eram da responsabilidade de uma comissão nomeada no ano anterior. O método de escolha era a vizinhança. Escolhia-se um grupo de chefes de família moradores em ruas contíguas. No ano seguinte, eram os das ruas a seguir. Este método, certamente centenário, fracassou nos anos 80, pois cada vez era menor o número de chefes de família que aceitavam sacrificar-se a organizar as Festas. Até hoje, ainda não foi criado um sistema alternativo sólido, pelo que, em cada ano, é incerta a realização das Festas. Elas organizam-se quando há uma associação que chame a si essa incumbência. Por exemplo, no ano passado ninguém se interessou, mas este ano valeu-nos a aniversariante e centenária Banda Filarmónica Vicentina.
As Festas eram no terceiro fim de semana de Setembro, em pleno fim de ciclo das colheitas. Apenas faltavam as vindimas, feitas logo a seguir. Os festejos começavam, no sábado, com a realização da feira anual, que no passado, desde a fundação da Vila, fora em Janeiro, no dia do padroeiro São Vicente. Nos anos 80, mudaram-se as Festas para o primeiro fim de semana de Agosto, para possibilitar a participação dos emigrantes em férias e das famílias com estudantes, devido à alteração da abertura do ano escolar de 1 de Outubro para meados de Setembro.
Continuo a desconhecer a data da criação das Festas de Verão, talvez porque estão desaparecidos, possivelmente em casa de particulares, alguns livros de actas da antiga Câmara Municipal de São Vicente da Beira. Nas últimas décadas do século XVIII, ainda não se realizavam, pelo que arrisco situar a sua criação por volta de 1800, isto é, há cerca de duzentos anos.
No ano passado, aqui nos Enxidros, em publicação de 21 de Junho, intitulada “Guerra dos Sete Anos”, já levantei o véu sobre esta problemática. No trabalho escrito, que aguarda publicação, acrescentei mais algumas informações, embora não tenha podido encerrar a investigação, pelas razões atrás apontadas.
Adianto alguns dados sobre a justificação das Festas devido a uma praga de gafanhotos. É esta a tese explicativa mais comum, a que nos alimentou a imaginação durante a infância. O que encontrei é pouco, mas pode ser tudo:
As pragas de gafanhotos eram frequentes nos séculos XVII e XVIII. Não temos notícia de nenhuma, na segunda metade do século XVIII, embora não possamos garantir que não existiu. Em 1781, a Câmara foi avisada, pela Provedoria de Castelo Branco, de que uma praga de gafanhotos assolava outras regiões e era preciso tomar providências. Assim se fez, embora não houvesse sinais da praga no concelho. Mas a Provedoria de Castelo Branco mandou também avisar o Provedor da Misericórdia, para que se fizesse uma novena e mais preces, na Igreja da Misericórdia, a fim de afastar o perigo. Temos, pois, o Santo Cristo da Misericórdia como protector dos povos também contra a bicharada.
Não sabemos se a praga chegou a atingir o concelho e se os gafanhotos vieram morrer nas paredes da Igreja da Misericórdia, conforme é crença popular, mas podemos concluir que a festa anual ao Santo Cristo foi criada como forma de agradecer e buscar protecção divina contra os males dos homens e da natureza.
Um comentário:
bem-haja pelo esclarecimento.
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