Os registos paroquiais, de batismos, casamentos e óbitos, são indispensáveis para reconstituirmos a memória do nosso passado, sobretudo em termos demográficos.
O documento abaixo apresentado, relativo ao batismo de uma criança que não vingou, dá-nos imensas informações sobre S. Vicente da Beira, em 1905.
1. Nesse ano, não havia (ou não estava presente, no dia 16 de Julho) Vigário e quem o substituía era o Pe. José Antunes David dos Reis, natural do Sobral do Campo. Este padre foi testamenteiro, em 1893, do benemérito fundador do Hospital, o Pe. Simão Duarte do Rosário, também do Sobral. Era professor do ensino oficial, cargo que lhe grangeou grande prestígio local e regional, tendo sido um dos mestres de Hipólito Raposo. Liderou ainda a irmandade da Ordem Terceira de S. Francisco. Em 1905, susbtituía o Vigário, mas não era o responsável pelo serviço religioso, pois esta tarefa estava a cargo do Pe. Joaquim Alves Brás.
2. À criança batizada foi dado o nome do padrinho, João. Os padrinhos foram os irmãos João Prata, carpinteiro, e Ana Prata, ambos solteiros.
Eram eles filhos de António Prata e Maria Castanheira, moradores na casa da roda, a última casa, à esquerda, no alto da Rua da Cruz.
O bebé batizado era neto de Maria Castanheira, não deste terceiro casamento, mas do segundo, com José Carvalho. Os pais do Joãozinho eram José Fernandes, cultivador, e Maria Carvalha, doméstica, filha de José Carvalho e Maria Castanheira. Os outros avós, os paternos, eram Bernardo Fernandes e Maria Emília. Todos naturais de S. Vicente da Beira, excepto Maria Castanheira, que era do Souto da Casa.
3. Os pais do João viviam na Rua Velha e eram pobres, pelo que não foi colado selo neste registo de batismo. Os padrinhos não sabiam escrever. Esta informação é-me completamente nova, pois João Prata, o meu avô materno, escrevia muito bem e por isso foi membro da Mesa da Misericórdia e secretário da Junta de Freguesia, neste cargo durante mais de 20 anos! Em 1920, era ele que fazia o serviço do registo civil, em S. Vicente da Beira, pois foi ele que fez o registo de casamento dos meus avós paternos, Francisco Teodoro e Maria do Rosário Jerónimo. Conclusão: aprendeu a ler e a escrever após os vinte anos (a sua idade, em 1905)!
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