terça-feira, 25 de junho de 2013

A boa e a má hora

Quando, da meia-noite à uma hora, as pessoas saíssem à rua, aparecia a Boa Hora vestida de branco ou a Má Hora vestida de preto. 
 Por vezes, afirmam que a Boa Hora era Nossa Senhora. 
 Em geral, a Boa Hora perguntava às pessoas o que queriam, o que precisavam, e prevenia-as para que se escondessem, porque a seguir vinha a Má Hora. Esta, quando deparava com luzes acesas, apagava-as. Se houvesse gente, tinha de estar tudo quieto, calado e escondido para ela não ver ninguém, pois se lobrigasse alguém, «fazia-lhe mal, podendo as pessoas ficar surdas, mudas, gagas ou morrer» (sic) até com o susto, segundo acabam por rematar os narradores. 
 Conta-se, por exemplo, que um pastor se atrasara e trazia, ainda de noite, as ovelhas a pastar. Apareceu-lhe entretanto a Boa Hora a avisá-lo que conduzisse depressa as ovelhas ao bardo, porque vinha lá a Má Hora. Ele não quis saber do aviso e deixou-se ficar, O fantasma chegou e matou-lhe sete ovelhas. O pastor fugiu para a beira do rio e, como julgou que a Má Hora também ia atrás dele, com a precipitação, deitou-se ao rio, morrendo afogado.
 Estando uma mulher à janela, dizem que lhe apareceu a Boa Hora a avisá-la de que se devia meter para dentro porque vinha lá a Má Hora. Ela não se retirou, pra se fazer forte e porque a queria ver, deixando-se ficar por dentro dos vidros. A Má Hora sempre apareceu; bateu na janela e a pessoa morreu (de susto, naturalmente sugestionada...). 
 Apesar de alguns narradores acreditarem piamente nestas superstições, acabam geralmente por dizer que as pessoas morrem ou adoecem devido ao susto... 
 Para provar a veracidade da Boa e Má Hora, contam por exemplo o seguinte caso: 
 Dois caçadores foram à caça e, quando vieram, era já de noite. Apareceu-lhes a Boa Hora a mandá-los voltar para trás e a esconderem-se. Eles não quiseram, por estarem com pressa de chegar a casa, e continuaram. 
 Apareceu-lhes então a Má Hora, que não se fez tardar, e eles começaram a dar-lhe tiros. Como ela não caía ao chão, assustaram-se e fugiram cheios de medo. 
 De manhã, foram lá ver e encontraram apenas bocados de farrapos negros no chão (sic).


RODRIGUES, Maria da Ascensão Carvalho Ferro, Cova da Beira Covilhã, Edição do Autor, 1982 , p.128-129

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