segunda-feira, 17 de junho de 2013

À descoberta da nossa terra IV

Este ano éramos mais e igualmente bons!
O encontro foi na nossa Praça, mas o passeio pedestre só começou no Alto da Fábrica, local onde há muitos anos fazíamos o magusto no dia de Todos os Santos. Do sobreiro secular que lá existia só resta a base do tronco, mas é assim, as árvores também morrem…



A primeira paragem foi junto do que resta do edifício que dá o nome ao lugar e terá sido uma fábrica de transformação de cortiça e, posteriormente, uma serração. De acordo com o José Teodoro, terá sido uma fábrica de fiação e tecelagem de panos, no século XVIII.
Um pouco à frente, à esquerda e escondida pelo mato, encontrámos a lagariça. É o local onde possivelmente, em tempos muito antigos, era feito o vinho das uvas produzidas para aquelas bandas.



Entrámos depois pela calçada romana. Está ainda em muito bom estado, mas o desgaste que se observa em algumas das lajes laterais diz-nos bem dos muitos anos de rodados de carros de bois que por ali passaram.



Descemos a seguir até à Barragem do Pisco. A construção desta barragem foi um acontecimento de grande importância para a nossa terra, de tal maneira que trouxe o Marcelo Caetano até cá, por alturas da sua inauguração. Foi também a sua construção que acelerou a chegada da electricidade e do saneamento às nossas casas.
Passámos pelas estações de tratamento das águas da barragem, primeiro, e residuais, depois, e começámos a subir o caminho até à antiga propriedade do Padre Sarafana. A julgar pela extensão da propriedade e pelo tamanho e tipo de arquitetura da habitação, deve ter sido uma casa agrícola importante, a seguir a 1900. Os atuais donos da propriedade estão a recuperar a casa e a capela, mas os terrenos continuam por cultivar…
Subimos até à estrada e fomos sair junto das Vinhas, local que deve o nome às plantações de vinha que ali existem desde há muitos anos, provavelmente trazida pelos Romanos. Embora estivesse previsto, acabámos por não visitar o poço que ali existe há séculos e dá nome àquele lugar: Vinhas do Poço. Até há relativamente pouco tempo (150 anos), este poço era público e por isso a água era utilizada por todos os donos de vinhas à volta. Eram também eles os responsáveis pela sua manutenção. 



Continuámos pela estrada em direção ao Valouro e muitos de nós lembrámos as enormes e doces melancias que o Ti Antonho Dias por lá cultivava e vendia aos domingos, junto da Praça. Parece que atualmente já não se fazem grandes sementeiras, mas existem lá muitos sobreiros e carvalhos antigos, e têm sido plantadas árvores novas.
Avistámos ao longe o lugar onde, originalmente, se situava a capela da Santa Bárbara. Parece que a dita capela, em ruínas na altura, estava situada já em terras do Sobral, mas pertencia a São Vicente. Um dia, os nossos homens, ciosos do que era seu, puseram-se a caminho e trouxeram tudo o que puderam de pedras e imagens num carro de bois. Nem quero imaginar a guerra que terá sido, mas o que interessa é que a capela está no Casal da Fraga há mais de noventa anos e é motivo de grandes festejos no terceiro domingo a seguir à Páscoa (parece que os do Sobral, mesmo sem capela, continuam a venerar a Santa com uma romaria na segunda feira de Páscoa).
E voltámos para trás. Junto das Vinhas do Coronel, saímos da estrada e fomos dar com uma antiga sepultura romana, bastante danificada, mas que atesta bem a existência humana por aquelas paragens, há já muitos séculos.



No mesmo local vimos também a ruína de uma destilaria e, um pouco mais à frente, os restos de uma casa de habitação. Ambas foram feitas a partir da integração de grandes pesserras que serviam de parede e provavelmente tornavam mais resistentes as construções. Este tipo de técnica é habitual para os lados de Monsanto, mas pouco comum entre nós.



Continuámos depois por um caminho que tem ainda vestígios da calçada romana e nos levou até à Fonte da Portela. A existência destas fontes era comum no tempo em que a maior parte das mercadorias era transportada em carros de bois, em viagens que duravam muitas vezes alguns dias. Serviam para matar a sede aos homens, mas sobretudo aos animais.



Segundo o Pedro Gama, o local sofreu obras de recuperação recentes, bem visíveis.
Regressámos ao ponto de partida, cansados, mas muito entusiasmados e ainda com tempo para mais umas histórias que nos fizeram rir a todos. Ficou também a promessa de que para o ano há mais! Por onde, logo se vê…

Texto de M. L. Ferreira
Fotos de Adelino Costa, Isabel Teodoro e José Teodoro

2 comentários:

Anônimo disse...

Ando de ano para ano, desde que esta faena começou, a ver se consigo participar na caminhada e ainda não foi desta. A questão é que vou sempre por pouco tempo à Vila nesta altura, quando vou, e há sempre tarefas urgentes que se sobrepõem.
Iria pelo prazer de caminhar, pelo prazer de conhecer melhor os participantes e pelo prazer de aprender com o Zé Teodoro. Fiquei-me pelo prazer da narração e das fotos.
Agradecido
F. Barroso

paulino disse...

sepultura da paulista nao e romana e antromorfica do seculo 12