VERBO
Natal, é nascer, é ressurgir de novo,
Como um dia que amanhece,
É irromper da essência,
Assim como o Deus Menino.
Tal como num ovo,
Acontecimento grandioso!
A vida avança e cresce,
Mistério para a ciência!
E tudo o que é pequenino,
Como num ato miraculoso,
Se faz robusto, engrandece.
Mas, não, não vou falar do Natal,
Tão bonito!
Da tua e da minha aldeia,
Nem da fogueira,
Onde o madeiro arde em noite gelada
E nua.
Nem do aconchego da lareira,
E da ceia em família, na consoada,
Em que se visitam os pais e os avós,
Enquanto o ar frio da rua,
Condensa a água nos vidros da janela,
E se fazem as filhós,
Polvilhando-se com açúcar e canela.
Porque, sobre o Natal,
Já todos escrevemos redações,
E fizemos desenhos e poemas singelos,
Nas folhas dos cadernos,
Que trazíamos na sacola,
Quando meninos, puros corações,
E colámos nas paredes da nossa escola.
Tampem-me a boca e os olhos!
Não quero falar do pai natal,
Nem ver a imensa claridade,
Das luzes que, aos milhares, como folhos,
Rendilham, à noite, as ruas da cidade.
Não quero escrever nada sobre o Natal,
Nem sobre as prendas,
Os segredos e as intenções,
Nem sobre a simplicidade e a fantasia,
Nem acerca das emoções,
Da nossa infância.
Não vou falar dos pastores,
Dormindo, à noite, à geada,
Nem da maresia,
Nem do céu, nem das estrelas,
Nem da fragrância,
Das plantas nessa madrugada.
E as ovelhinhas também não vou vê-las,
No presépio,
Porque este é, afinal, muitos Natais!
Sempre com as suas figuras,
Secundárias e principais,
E com os reis magos,
Vindos das lonjuras,
Dos caminhos do oriente.
Embora, como essas figurinhas nos tocam,
Como a gente sente!
Mas desta vez, não!
Não vou ver,
Não vou falar, nem vou escrever,
Quero apenas ouvir.
Ouvir, em silêncio, perscrutar, a voz,
Do VERBO,
Porque ELE encarnou,
E está, agora, entre nós.
João Gabriel Saraiva
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