Quando eu era pequenito e as tradições tinham um dia
próprio para ser comemoradas, no dia 1 de Novembro, Dia de Todos os Santos, a
minha mãe arranjava-me uma bolsa de farrapo, juntava-me aos outros miúdos e lá
íamos nós pedir “ Santóros”. Geralmente quando regressava a casa, se
a bolsa não rebentava pelo caminho, vinha cheia a barulho com castanhas, passas
(figos secos), nozes, maçãs, diospiros, romãs e até cebolas! Raramente trazíamos
um tostãozito e esse, se aparecia não ia para a bolsa. Lembro-me que uma vez me
deram uma broa!
Era um dia feliz.
Paralelamente, no dia 31 de Outubro em países de
origem anglo-saxónica, (disse-me o meu primo Google), celebravam
o “Halloween” ou Dia das Bruxas. Se consultarem o meu primo, verão
que “Halloween” não significa Dia das Bruxas, mas isso fica a cargo e
sabedoria de cada um.
Nos Estados Unidos, Canadá, mas também Reino Unido e
países nórdicos, no dia 31 de Outubro as crianças saem à rua mascarados,
geralmente com máscaras de bruxarias, a pedir o célebre “ trick or
treat “ doce ou travessura, em que as pessoas ou dão uma guloseima
ou as crianças pregam-lhes uma partida.
Há alguns anos a esta parte, e à custa da globalidade,
a tradição “ deles “ tem-se instalado progressivamente no nosso país
e chegámos ao ponto em que é mais importante o “Halloween” que o
nosso “Santóro”, que é conhecido em outras partes do país
como “Pão por Deus”.
Penso que os pais e professores terão aí uma
palavra muito importante a dizer, pois são as nossas tradições que estão em
jogo.
Ontem de manhã, 31 de Outubro, apareceu-me no
Posto Médico uma menina mascarada por ser “Halloween”. Pedi-lhe que hoje
saísse a pedir “Santóros” e ela concordou. Ontem à tardinha vi um
grupo de crianças mascaradas (Halloween) a pedir “Santóros”!
Que confusão!!!
E.H
3 comentários:
1. Desculpa, Ernesto, pela demora na publicação do teu texto, mas ele chegou umas horas atrasados: acabara de publicar a história do Zé Barroso e era um crime tirá-la do TOP antes de dar tempo a que fosse lida por muitos.
2. Halloween significa Todos os Santos. Ao menos que as crianças saibam o que estão a dizer! E nós também somos celtas...
É isso!
Vinga por todo o lado a cultura anglo-saxónica que vai absorvendo a cultura grega e romana; ou mesmo pré-romana, como é o caso de muitos usos e costumes dos povos romanizados (caso dos Celtas).
É certo que todo o Ocidente, incluindo, portanto, os ingleses, tem a matriz greco-latina. Mas o útil e o prático deles, tem-se sobreposto ao pensamento mais teórico e filosófico da cultura mediterrânica. Atrás desse utilitarismo vêm os usos e a cultura. E há outras mesclas culturais que retiram a pureza às nossas origens.
E isso está para durar. Não temos nada a ver com o Halloween (com este nome), mas com Todos os Santos, nem com o Pai Natal, mas com o Menino Jesus, nem com o carnaval brasileiro ou outro, mas com o Entrudo, etc. É uma pena.
ZB
Vê lá se nos dizias a que portas ias bater! Grande amigo!...
Eu cá não me lembro de alguma vez ter chegado a casa com a bolsa cheia. Quando muito, umas passas, umas castanhas, e pouco mais. Mas do que eu me lembro melhor é do mata-borrão que o Dr. Alves nos dava todos os anos. Com aquelas canetas de aparo, às vezes já todo torto, a tinta aguada do tinteiro da carteira e a minha tendência para o borrão, o jeito que aquilo me dava!
Nos últimos anos, tenho lembrado esses tempos, revendo-me nas crianças que, no Dia de Todos os Santos, ainda andam pelas portas pedir o Santóro. A satisfação que tenho em empanturrá-las com guloseimas! Mas este ano não sei o que é que aconteceu.
Dos vários grupos que costumavam bater-me à porta, só apareceram dois, já muito minguados.
Que pena se esta tradição se perder!
M. L. Ferreira
P. S. A propósito do Santóro, gosto de reler o post do dia 2/11/ 2009. Lindo!
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