Os meus olhos não queriam acreditar no que estavam
vendo. Um barraco que no dia anterior tinha servido de corte aos animais, hoje
serve de habitação a um casal.
Não me importa o motivo desta aberrante situação, o
mais importante, para mim, é encarar esta realidade que eu pensava já não
existisse - pelo menos nas nossas terras. Afinal a história parece que se repete.
O Pai deu a uns mais talentos que a outros, certo. Mas, como diz o padre
António Rêgo, toda a gente é pessoa.
Um dia, encontrava-me bastante mal e dirigi-me às
urgências. As dores não diminuíam. Passado algum tempo, chamaram-me e mandaram-me
esperar. As dores não abrandavam. Finalmente, fui visto pelo médico que se
mostrou bastante atencioso. As primeiras palavras que eu lhe disse foram as seguintes:
- Doutor, trate-me como se eu fosse um cão.
Ficou sem palavras; há animais que são mais bem
tratados que as pessoas.
Um destes dias, a R.T.P. noticiou que, em Olhão, um
grupo de defesa dos animais, com a colaboração de dois bombeiros, estão a ensinar
as pessoas a prestar os primeiros socorros a cães e gatos… e por aí fora. Gosto
muito de animais, na casa dos meus pais sempre houve cães e gatos; mas, meu
Deus, que sociedade é esta?! Que interesses são estes?! Deixamos ao deus dará
pessoas e acolhemos cães e gatos nas nossas casas como se fossem gente. Que
mundo é este, Deus meu?!
O cão é cão, o gato é gato e a pessoa é Gente. Os
animais são os nossos melhores amigos; e as pessoas, Senhor?! O general Ramalho
Eanes de quem eu tenho muita admiração e respeito, quando, no passado mês de
Novembro, a vila de Alcains - sua terra natal - lhe prestou sentida homenagem,
a certa altura disse:
- Uma pátria onde os homens são concidadãos nunca
deveria permitir que um português em qualquer situação passasse fome.
Senhores do mando, não permitam que este pobre casal
viva num curral, isolados, onde falta tudo.
Estamos no ano santo da Misericórdia, não sejamos
indiferentes.
J.M.S
2 comentários:
Também fiquei chocada com o local em que este casal, com um filho de 21 anos com alguns problemas, está a viver, em pleno inverno. Este casal foi despejado da casa onde vivia com o filho e um neto de 7 anos, meu aluno, que está sob tutela deles e de momento está a viver com uma tia no Sobral do Campo, para não viver naquelas condições (por incrível que pareça, alguém me perguntou a rir "Ai o neto não está com eles?").
Os proprietários da casa podiam estar carregados de razão, mas será que não haveria outra solução?
Sem me querer intrometer muito no assunto, as pessoas, por vezes também precisam de ser ajudadas, não só financeiramente, com subsídios e cabazes alimentares, mas também a orientar-se...
Concordo com o Zé Manel, esta situação é desumana e uma vergonha para São Vicente!
M. Luz Teodoro
“Tanta casa sem gente, e tanta gente sem casa!...”. É quase um lugar comum, mas uma triste verdade. E tanto mais triste, quando atinge pessoas com quem nos cruzamos todos os dias. E mais triste e incompreensível ainda, quando nos fartamos de lamentar que as ruas da nossa terra estejam a ficar cheias de casas vazias.
O que me parece é que os senhores do mando olham para estas situações com muitos preconceitos e pouca humanidade e nem pensam que a vida das pessoas é feita de muitas circunstâncias, algumas bem adversas para muita gente.
Agora, não me parece que nestas coisas se possam misturar pessoas e animais, porque as respostas exigidas para um e outro caso, não têm nada a ver...
M. L. Ferreira
Postar um comentário