terça-feira, 19 de abril de 2016

A verdade

A verdade para mim
Pode ser para ti ou não
Depende da ocasião
Pode ser; assim, assim

A minha verdade pode ser
A verdade verdadeira
Ou uma verdade trapaceira
Depende de quem nela crer

Afinal quem terá razão?
A minha verdade é real
A tua também tem moral
Aceitemos as duas, irmão

A minha religião
Não é melhor, nem pior
Nem a tua é a maior
Aceitemo-las como são

A amizade e a fraternidade
Só se conseguem com amor,
É ele o grande motor
Da nossa sociedade

Onde está a verdade afinal?
Ninguém sabe certamente
Porque a minha é diferente.
Mas é ela a mola real

Seja em Portugal
Ou noutro local
A verdade total
Não existe, ponto final


Zé da Villa

3 comentários:

Anônimo disse...

Este poema leva-nos a refletir sobre os nossos grandes valores que, hoje, muitas vezes, nos parecem relativizados e até invertidos! A inquietação do poeta, neste texto, era já a inquietação da Filosofia grega. Definir, por exemplo, o que é a Verdade ou o que é a Justiça foi, desde cedo, sua preocupação. E, incapaz de fixar, com toda a certeza, este e outros conceitos, Sócrates foi mesmo levado a proferir a célebre frase: "Só sei que nada sei."
Não temos tempo...
Mas já gora, só mais esta. É sobre a Verdade (e aqui imito o JMS que, frequentemente, recorre a fontes bíblicas nos seus comentários): há uma passagem no Evangelho que é das mais enigmáticas de todos os Livros Sagrados! Faço esta referência de memória. É a seguinte: no diálogo com Pilatos, Jesus Cristo diz mais ou menos isto: "Vim dar testemunho da Verdade." E Pilatos pergunta-Lhe: "O que é a Verdade?". Mas Cristo não lhe respondeu.
Ora, nunca ouvi ninguém tentar explica esta passagem e, sobretudo, este silêncio!
Haverá aqui alguém?...
Abraços.
ZB




Anônimo disse...

“Se apenas houvesse uma verdade, não poderiam pintar-se cem telas sobre o mesmo tema”. Esta frase de Picasso traduz bem o grau de subjetividade que os conceitos de verdade e mentira encerram. E ainda bem que cada vez temos consciência de que assim é, porque foram algumas verdades, tornadas dogmas, que permitiram muitos dos momentos mais tristes da história da humanidade, como a inquisição e o nazismo.
Atualmente, com o diálogo inter-religioso e o reconhecimento de outras crenças, até já se questionam as palavras atribuídas a Jesus Cristo: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”…

M. L. Ferreira

Anônimo disse...

Já quando eu andava na catequese se dizia que, se os crentes de uma determinada religião estão de boa fé, podem salvar-se. Embora depois, não se saiba muito bem o que é isso de "salvação" porque para os católicos pode ser uma coisa e para os muçulmanos outra. Não temos tempo ...
Mas, de facto, a vertente da abertura da Igreja Romana a outros credos acentuou-se com o Concílio Vaticano II e o Ecumenismo. Em consequência, o próprio Código Canónico passou a estebelecer expressamente que ninguém pode ser forçado a aceitar o Catolicismo. Como, infelizmente, aconteceu em tantos momentos da história. Fosse com as cruzadas ou com as conquistas ultramarinas. É dos livros que, com estas últimas, se pretendia "dilatar a fé e o império". Só que, depois, como diz o José Mário Branco numa das sua canções: "Mas, ai, ó Senhor D. Infante, e o comércio dos escravos??!"
É evidente que não existe nenhuma religião sem dogmas! Eles não são um mal em si mesmos. Porque são a verdade - que, verdadeiramente, não pode ser explicada - para os seus crentes. Até aqui tudo bem! Porém, desde que tais dogmas não ofendam a dignidade humana! O problema, o real problema é, quando os defensores de um conjunto de dogmas querem impô-los aos outros. Porque, aí, seja a Inquisição, o Nazismo ou o DAESH (Estado Islâmico), estão todos ao mesmo nível. Nenhum deles tem Honra!!
Por causa disso, o Papa João Paulo II andou metade do pontificado a pedir desculpas a toda a gente!!...
Diria, por isso, que a citação da Bíblia feita pela Libânia, é, naturalmente, aceite pelos cristãos. Mas isso não significa a exclusão de outros crentes. Basta confrontar outras passagens do Evangelho (que tem que ser lido como um todo):
"Se um homem tiver cem ovelhas e uma delas se extraviar, não deixa as noventa e nove e vai aos montes procurar a que se extraviou?"

Claro que vai...

Abraços.
ZB