A verdade para mim
Pode ser para ti ou não
Depende da ocasião
Pode ser; assim, assim
A minha verdade pode ser
A verdade verdadeira
Ou uma verdade trapaceira
Depende de quem nela crer
Afinal quem terá razão?
A minha verdade é real
A tua também tem moral
Aceitemos as duas, irmão
A minha religião
Não é melhor, nem pior
Nem a tua é a maior
Aceitemo-las como são
A amizade e a fraternidade
Só se conseguem com amor,
É ele o grande motor
Da nossa sociedade
Onde está a verdade afinal?
Ninguém sabe certamente
Mas é ela a mola real
Seja em Portugal
Ou noutro local
A verdade total
Não existe, ponto final
Zé da Villa
3 comentários:
Este poema leva-nos a refletir sobre os nossos grandes valores que, hoje, muitas vezes, nos parecem relativizados e até invertidos! A inquietação do poeta, neste texto, era já a inquietação da Filosofia grega. Definir, por exemplo, o que é a Verdade ou o que é a Justiça foi, desde cedo, sua preocupação. E, incapaz de fixar, com toda a certeza, este e outros conceitos, Sócrates foi mesmo levado a proferir a célebre frase: "Só sei que nada sei."
Não temos tempo...
Mas já gora, só mais esta. É sobre a Verdade (e aqui imito o JMS que, frequentemente, recorre a fontes bíblicas nos seus comentários): há uma passagem no Evangelho que é das mais enigmáticas de todos os Livros Sagrados! Faço esta referência de memória. É a seguinte: no diálogo com Pilatos, Jesus Cristo diz mais ou menos isto: "Vim dar testemunho da Verdade." E Pilatos pergunta-Lhe: "O que é a Verdade?". Mas Cristo não lhe respondeu.
Ora, nunca ouvi ninguém tentar explica esta passagem e, sobretudo, este silêncio!
Haverá aqui alguém?...
Abraços.
ZB
“Se apenas houvesse uma verdade, não poderiam pintar-se cem telas sobre o mesmo tema”. Esta frase de Picasso traduz bem o grau de subjetividade que os conceitos de verdade e mentira encerram. E ainda bem que cada vez temos consciência de que assim é, porque foram algumas verdades, tornadas dogmas, que permitiram muitos dos momentos mais tristes da história da humanidade, como a inquisição e o nazismo.
Atualmente, com o diálogo inter-religioso e o reconhecimento de outras crenças, até já se questionam as palavras atribuídas a Jesus Cristo: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”…
M. L. Ferreira
Já quando eu andava na catequese se dizia que, se os crentes de uma determinada religião estão de boa fé, podem salvar-se. Embora depois, não se saiba muito bem o que é isso de "salvação" porque para os católicos pode ser uma coisa e para os muçulmanos outra. Não temos tempo ...
Mas, de facto, a vertente da abertura da Igreja Romana a outros credos acentuou-se com o Concílio Vaticano II e o Ecumenismo. Em consequência, o próprio Código Canónico passou a estebelecer expressamente que ninguém pode ser forçado a aceitar o Catolicismo. Como, infelizmente, aconteceu em tantos momentos da história. Fosse com as cruzadas ou com as conquistas ultramarinas. É dos livros que, com estas últimas, se pretendia "dilatar a fé e o império". Só que, depois, como diz o José Mário Branco numa das sua canções: "Mas, ai, ó Senhor D. Infante, e o comércio dos escravos??!"
É evidente que não existe nenhuma religião sem dogmas! Eles não são um mal em si mesmos. Porque são a verdade - que, verdadeiramente, não pode ser explicada - para os seus crentes. Até aqui tudo bem! Porém, desde que tais dogmas não ofendam a dignidade humana! O problema, o real problema é, quando os defensores de um conjunto de dogmas querem impô-los aos outros. Porque, aí, seja a Inquisição, o Nazismo ou o DAESH (Estado Islâmico), estão todos ao mesmo nível. Nenhum deles tem Honra!!
Por causa disso, o Papa João Paulo II andou metade do pontificado a pedir desculpas a toda a gente!!...
Diria, por isso, que a citação da Bíblia feita pela Libânia, é, naturalmente, aceite pelos cristãos. Mas isso não significa a exclusão de outros crentes. Basta confrontar outras passagens do Evangelho (que tem que ser lido como um todo):
"Se um homem tiver cem ovelhas e uma delas se extraviar, não deixa as noventa e nove e vai aos montes procurar a que se extraviou?"
Claro que vai...
Abraços.
ZB
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