Um dia os nossos puseram-se a caminho e
roubaram a Santa. Depois pegaram num carro de bois e foram buscar as pedras
para a capela. Pediram um bocado de terra à Dona Celestina e fizeram-na aqui, no
Casal da Fraga.
Enquanto duraram as obras, a Santa andou
fugida de casa em casa, escondida no forro ou na loja para não ser achada, que os
do Sobral não se conformavam com a perda da Santa.
É pequenina, a capela, mas motivo de grande
orgulho e devoção. Tem a data de 23 – 03 - 23 e a partir daí todos os anos lhe
fazem cá a festa, na terceira semana a seguir à Páscoa. É este fim de semana.
O programa promete, assim a Santa ajude com a
melhoria do tempo. Diz que para contentar os dois povos, no ano em que chove na
festa da Senhora da Saúde faz sol na de Santa Bárbara. Este ano choveu no Sobral,
oxalá se cumpra a tradição e faça sol por cá…
Mas não é só entre o Sobral e S. Vicente que
aconteceram estas rivalidades na disputa de santos e santas. Diz que entre a
Póvoa e Tinalhas houve guerras ainda piores por causa da Senhora da Encarnação
cuja capela também foi construída nos limites entre as duas localidades. Todos
os anos, por alturas da romaria, tinham que pedir o reforço da guarda, e mesmo
assim havia sempre muitas cabeças partidas. Só quando os de Tinalhas resolveram
fazer uma capela à Rainha Santa Isabel, no outro extremo da terra, os ânimos
acalmaram. Mesmo assim, na veneração à Santa ainda lembram rivalidades antigas:
Rainha Santa Isabel,
Tendes uma capela nova,
Foi o povo de Tinalhas
P’ra fazer ver aos da Póva.
M. L. Ferreira
Um comentário:
Ainda sobre o poste anterior:
FB, acreditaste mesmo que eu nada sabia acerca do país financeiro??! Muitas vezes, é melhor usar a falsa ignorância para dizer uma coisa e deixar subentender outra!! Ó primo, estou preocupado com a tua celebrada perspicácia! Lê o Eça, mas não te esqueças de reler Platão e recordar a ironia de Sócrates.
Em relação à casa do Coronel acho que o JMS disse tudo!
Quanto às rivalidades entre grupos, tema deste poste, julgo que eram tempos em que as populações viviam ainda muito isoladas. O que nunca obstou a que acontecessem muitos casamentos entre vizinhos da mesma região. Mas, na verdade, a regra era a da intolerância.
Um dos grandes defeitos do ser humano era (é) a dificuldade de reconhecer imediatamente o estranho ao seu grupo mais próximo. É quase intrínseco porque penso que há aqui um instinto de defesa. E, dantes, só quando havia um problema que tocava a todos, é que se uniam. Mesmo sem grande consciência de nação. Veja-se, por exemplo, o caso das tribos dos Lusitanos quando se levantaram contra o inimigo romano comum.
Por cá, lembro de uma vez, à noite, em plena escuridão, no fim de uma festa no Mourelo, à saída de regresso a S. Vicente. Eu e mais sete ou oito, quando vínhamos a pé, a tatear o caminho, perto de um ribeiro, fomos atacados à pedrada até atingirmos a outra margem. Elas caíam ao nosso lado! Por acaso não se aleijou ninguém. Soubemos que os atacantes seriam da Partida! O título deste texto, “Rivalidades antigas”, cabe aqui muito bem! Felizmente que evoluímos!
Tenho uma costela em Santa Bárbara, já que os meus avós maternos eram do Casal da Fraga. Por isso, esta festa também me diz muito!
Abraços!
ZB
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