sábado, 11 de março de 2017

20 minutos

Cheguei ao Ribeiro de Dom Bento e decidi ir ver como vai o calcetamento do caminho da Orada. Peguei na máquina fotográfica e fiz-me ao caminho.

Passei pelo palheiro e logo à frente encontrei mato branco já florido.

A descida para o pinheiro manso está cheia de campainhas floridas.

 Contornei o pinheiro manso e lá estava o carvalho carregado de bogalhos à espera de quem queira brincar.

 Da janela da sr.ª Luz Romualdo ninguém assomou e o telhado já caiu. A casa do sr.º Augusto parecido e a do sr.º João da Cruz igual, só a do Miguel ainda tem gente.
Mas ao chegar ao palheiro, só o esqueleto, do sr.º António Romualdo, avistei o Balcaria. 
Os trabalhos continuam: barragens, olival por baixo e medronhal por cima da estrada. A casa de pedra com o balcão que o meu pai fez já não existe, outra ocupou o seu lugar.
Afinal os donos têm cá raízes, parte dos antepassados da esposa são dos Pereiros.

 Os calceiteiros estavam mesmo no entroncamento do caminho de baixo com o de cima. São quatro jovens, de Penafiel, sempre a dar-lhe. Daqui para baixo até à ponte do Casal já está tudo!

De regresso, subi ao Ribeiro das Moças, para matar saudades, 
e ensarroei-me de tangerinas que deram para o caminho.

José Teodoro Prata

Colherada da Libânia:
Tantas memórias de lugares e de gentes!
E não avistaste o Rabaçal, no caminho para a Portela? Ainda lá está a casa onde o ti Francisco Teodoro viveu e criou os filhos. Vista cá de baixo parece ainda inteira, mas quando nos aproximamos, vê-se que já só resta a parede da frente. Quase parece um milagre manter-se de pé sem qualquer sustento.
Quando olho para ela lembro-me sempre de uma história que uma das netas do ti Francisco conta:

«Quando era no fim do verão, por alturas da descamisa do milho, ajuntava-se a gente e andávamos de casa em casa a ajudar-nos uns aos outros. Começávamos nas Quintas ou no Balcaria, consoante o que estava mais adiantado, e acabávamos naquilo do meu avô. Naquela altura eu ainda era pequena, mas lembro-me bem que andava sempre deserta que chegasse esse tempo, porque aquilo era uma alegria, com toda a gente a cantar. Mas um ano apanhámos um susto que só visto porque às duas por três só vimos a ti Bernardina pôr-se de pé e começar aos gritos:
- Onde é que se meteu a minha cachopa? Onde é que ela se meteu, que não a vejo?
Toda a gente se levantou e começou à procura da cachopinha que se tinha sumido sem ninguém ver. Uns dentro de casa, outros cá fora, ninguém deu com ela. Ao fim dum bocado, a ti Bernardina, num pranto que até cortava o coração, saiu-se com esta:
- E logo hoje que lhe tinha posto o meu lenço de merino!
De repente começou-se a ver o monte dos folhelhos a mexer e a cachopinha saiu de lá de baixo, toda estremunhada, como se não fosse nada com ela.
Nunca mais me esqueci desta parte…»



M. L. Ferreira

5 comentários:

José Teodoro Prata disse...

Libânia:
Só fui até ao entroncamento com o caminho de baixo, por isso demorei só 20 minutos ou nem tanto.
O Francisco Teodoro foi criado no Rabaçal, pois em 1941, com 16 anos, o meu pai trabalhou lá como pastor, para o tio Joaquim Teodoro, pai do Francisco Teodoro. Eles é que traziam aquele arrendamento.
Tendo em conta a tua história, mais tarde o arrendamento passou do pai para o filho.

Tenho pena não ter fotografado a janela de onde a sr.ª Luz Romualdo falava para a minha mãe, quando íamos no caminho para o Ribeiro das Moças. Ao passar, lembrei-me, levantei o olhar e vi a janela partida e através dela o céu azul.

Anônimo disse...

É difícil vermos os lugares, antes cheios de vida, agora vazios de pessoas! Se os nossos antepassados fossem desaparecendo segundo a lei da vida, mas se fosse renovando a população, talvez tudo isto não custasse tanto! A sul da Gardunha com as migrações das últimas décadas, as populações da planície acabaram por beneficiar. Foram para lá muitos da zona da serra, para os empregos que ali surgiram (próximo dos eixos viários mais importantes da Beira Interior - estrada nacional, autoestrada e caminho de ferro). O saldo entre os que para lá foram e os que de lá emigraram para o litoral e para o estangeiro é, mesmo assim, positivo. Especialmente em Alcains e Castelo Branco. O mundo rural não conseguiu segurar a mão de obra, pois a própria agricultura se mecanizou e estandardizou. Essas formas não são compatíveis com a agricultura manual ou de pequena propriedade a, ainda por cima, em terreno acidentado.
Que solução? Recorrer a sociedades e cooperativas no setor primário (madeiras, azeite)? Ou nos ofícios, onde talvez pudessemos ter dado o salto para a maquinofatura (alfaiates /confeção, sapateiros). Não creio. Somos avessos a isso! E assim o nosso mundo foi ruindo...
Abraços.
ZB

Anônimo disse...

Com essas fotos e essas historias antigas encheram-me o coração
de nostalgia, seus filhos da...mãe.
F.B.

Anônimo disse...

É claro que tens razão! Eu é que tenho dificuldade em distinguir os Franciscos do Joaquins. Quando era pequena e ia a casa da minha tia Mari Zé, via lá dois velhos (a minha tia casou-se, já tarde, com um homem que era da idade do pai. Na altura, seriam pouco mais velhos que eu sou agora…) que se chamavam Joaquim e Francisco. Um era o pai dela; outro o marido. Ao princípio andava um pouco baralhada porque nunca sabia qual era o meu avô e qual era o meu tio.
Mas o Ti Francisco Teodoro era o filho do Ti Joaquim Teodoro e pai da minha vizinha Madalena que foi quem me contou esta história. Na altura os pais dela viveriam no Valcaria, primeiro numa casa de pedra que foi arrasada recentemente com as obras do novo empreendimento, e depois na casa que o teu pai ajudou a construir e da qual, pelos vistos, também já pouco resta. Mas acho que o balcão ainda lá está…
Está assim, cada vez mais reduzido, o nosso património…

M. L. Ferreira

José Teodoro Prata disse...

Libânia:
Não é Francisco é Luís, um senhor muito piedoso, igual à filha Madalena, que durante anos pertenceu a irmandades da Igreja e da Misericórdia.
O Francisco era outro filho do ti Jaquim Teodoro, casado no Casal da Serra e que explorou a propriedade do Castelo Velho, durante anos. Acho que foi o casamento dele que tu narraste numa das tuas histórias.
Não vi a casa do Balcaria com o balcão e por isso pensei que já tinha ido...