O dia chegará
Tudo terminará
Quando esse dia chegar
E tudo terminar
Os sinos tocarão
Dlim, dlão…dlim, dlão
Dentro de um caixão
Alguém te levará
Ao lugar do esquecimento
Ossos, cinza, terra, meu irmão
Nada mais, encontrarão
Carnaval, ilusão
Matrafonas, folia,
Três dias, dois dias, um dia
Foliões, ilusões
Máscaras, desnudos
Batuques, danças, entrudos
Piadas, engraçadas
Carne vale
Ninguém leva a mal
Recorda-te homem
Não és nada, pó
Só!?
Sim; pó, aleivosia
Até um dia, qualquer dia
Pó; amigo, inimigo
Familiar, desconhecido
Não tenhas ilusões
Vaidade esquecida
Nova vida
Vida nova
O pó ficou na cova
Zé da Villa
6 comentários:
Lixado este tempo da Quaresma, sempre a lembrar-nos que somos pó, como se o não soubéssemos...
Parabéns ao autor, o poema está bem amanhado!
Cá eu acho que é um dos melhores do Zé da Vila! Mas tenho um problema: ainda não sei bem se me identifico mais com a primeira ou a última estrofe do poema… De qualquer forma apetece-me dizer que felizes os que acreditam, porque deles é a eternidade!
M. L. Ferreira
O poema está bem amanhado, mesmo sem o Zé ser manha.
E a beleza vem da sua singeleza, mas não posso deixar de fazer dois reparos:
1.º É pessimista, porquanto o "dia chegará" devia rimar com tudo recomeçará e não com "tudo terminará". Como seguidor de S. Francisco devia cantar a beleza não tristeza.
2.º Se a felicidade é filha da crença na eternidade todos devemos ser felizes, porque o pó é feito de átomos e os átomos são a estrutura do universo. Como tal eternos.
Não se deixem abater. A natureza está a florescer dizendo-nos que só na impermanência é possível a renovação.
Não pensem que é sofisma é a minha convicção. Até porque a seguir à morte há sempre ressurreição, que tanto rima com vida nova, como com renovação.
FB
És um poeta!
O espírito, a centelha que nos foi emprestada pelo Pai regressa ao Pai, o corpo volta ao que era antes de o ser
-Antes que se quebre o cordão de prata e se despedace a lâmpada de oiro, e se parta a bilha na fonte, e se desfaça a roldana sobre a cisterna, e o pó volte à terra donde saiu, e o espírito volte para Deus que o deu
(Eclesiastes 12-6/7)
-Deus criou o homem da terra, e a ela o faz voltar novamente. Determinou-lhe um tempo e um número de dias...
(Eclesiástico 17-1/2)
J.M.S
Tentei enviar um comentário do meu telemóvel, mas as funções destas máquinas são tão simples que não consegui!... Vocês riem-se?! Na verdade tudo isto é muito simples, quando se aprende!
Tinha escrito um outro pensamento que não este. O tema nunca acabará enquanto o homem for homem. Todas as gerações andarão às voltas com isto. Porque isto dá que pensar... É aquilo a que o FB chama um "basculho".
É claro que crentes e não crentes haverá sempre. Resta saber se devemos fazer a nossa introspeção durante a vida terrena a pensar numa outra vida; ou se, simplesmente, devemos fazer como o poeta que diz: "Que matafísica têm aquelas árvores?"
Ouçamo-lo, porém, ainda no mesmo poema:
"Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e sol e o luar,
Então acredito nele..." (Alberto Caeiro), Fernando Pessoa.
A Natureza não é Deus (isso seria o Panteísmo), mas reflete-O.
Abraços.
ZB
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