Aires Pedro
Aires Pedro nasceu
em São Vicente da Beira, no dia 29 de julho de 1894. Era filho de João Pedro,
cultivador, e Antónia Joaquina.
De acordo com a sua Folha de Matrícula, assentou praça no dia 9 de julho de 1914. Foi incorporado em 12 de maio de 1915, no 2.º Batalhão de Infantaria 21 de Castelo Branco, onde fez a instrução da recruta. Na altura sabia ler e escrever mal e tinha a profissão de jornaleiro.
De acordo com a sua Folha de Matrícula, assentou praça no dia 9 de julho de 1914. Foi incorporado em 12 de maio de 1915, no 2.º Batalhão de Infantaria 21 de Castelo Branco, onde fez a instrução da recruta. Na altura sabia ler e escrever mal e tinha a profissão de jornaleiro.
Mobilizado para
integrar o Corpo Expedicionário Português, embarcou para França no dia 21 de
janeiro de 1917, com o posto de soldado da 1.ª Companhia do 2.º Batalhão do
Regimento de Infantaria 21. Tinha o número 380 e placa de identidade n.º 8873
Do seu boletim
individual de militar do CEP consta o seguinte:
a)
Punido em 13 de julho de 1817, pelo Comandante, por
se ter negado a cortar o cabelo, dizendo que não o cortava nem que o mandassem
para a 1.ª linha;
b)
Punido com 6 dias de detenção, por se apresentar na
formatura apenas com uma alpercata, dizendo que a outra tinha desaparecido;
c)
Punido com 10 dias de detenção, por ter comido a
ração de reserva que lhe tinha sido distribuída;
d)
Baixa ao hospital, por motivo não especificado,
entre os dias 10 e 16 de janeiro de 1918;
e)
Louvado pela coragem e disciplina mostradas durante
o raide efetuado pela sua companhia, no dia 9 de março de 1918;
f)
Punido em 2 de junho de 1918, com 15 dias de
prisão, por ter abandonado o trabalho em 30 de Março e 2 de junho,
desobedecendo às ordens do capitão, recusando-se a trabalhar e afirmando que
ele ali não mandava nada;
g)
Punido em 5 de junho de 1918, com 5 dias de
detenção, por ter faltado ao toque das 13h;
h)
Punido com 10 dias de prisão disciplinar, em 22 de
julho, por levar de rastos uma pá que lhe tinha sido entregue para trabalhos de
fortificação, sendo necessária a intervenção de um superior;
i)
Punido com 10 dias de detenção, em 1 de outubro de
1918, por uns dias antes se ter afastado do campo de instrução para ir beber
água numa casa próxima;
j)
Punido com 15 dias de prisão correcional no DD1
(Depósito Disciplinar 1), no dia 17 de dezembro de 1918; voltou à unidade em 2
de janeiro de 1919.
k)
Regressou a Portugal no dia 23 de fevereiro de
1919, a bordo do navio Helenus, e domiciliou-se em São Vicente da Beira.
Passou à reserva
ativa, em 11 de abril de 1928, e à reserva territorial, em 31 de dezembro de
1935.
Louvores e
condecorações:
· Louvado pela coragem e disciplina que demonstrou no
raide efetuado pela sua companhia, no dia 9 de março de 1918, contribuindo pelo
seu esforço e ação para o êxito daquela operação;
·
Medalha militar de cobre com a legenda: França 1917-1918.
Família:
Aires Pedro casou
com Maria Justa, natural de São Vicente da Beira (ainda hoje é lembrado como
“Aires da ti Justa”), em abril de 1921. O casamento foi dissolvido por morte da
esposa, em junho de 1945. Voltou a casar com Maria Antónia Varanda, em agosto
de 1948. Não deixou descendência do primeiro, nem do segundo casamento.
Aires Pedro foi
gaseado na frente de guerra (talvez o motivo do internamento entre 10 e 16 de
janeiro de 1918) o que, aliado a outras dificuldades por que passou, o tornaram
numa pessoa com muitos problemas de saúde. Nos arquivos do hospital da Santa
Casa de São Vicente da Beira existem registos de vários internamentos ao longo
dos anos. Estas circunstâncias trouxeram-lhe muitas dificuldades em angariar os
meios de subsistência necessários para viver com algum conforto. A única
profissão que lhe conheceram foi a de carvoeiro, mas mesmo esta sem muitos
proventos. Viveu quase sempre numa situação de grande pobreza.
Faleceu em 1962 e,
segundo o livro de enterramentos da freguesia, foi sepultado na condição de
indigente (contam que, na altura, foi feito um peditório pela Vila para lhe
comprarem o caixão). Tinha 68 anos de idade.
Maria Libânia Ferrreira
Do livro "Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra"
À venda, em São Vicente, nos Correios e no Lar; em Castelo Branco, na Biblioteca Municipal.
A
Câmara Municipal, que editou a obra, aceitou que o dinheiro da venda
dos livros em São Vicente reverta para o Lar da Misericórdia.
Preço: 15 euros
3 comentários:
Tratando-se de um livro de homenagem, pode parecer paradoxal que se refiram as muitas punições que a maior parte dos militares sofreram. Fizemo-lo porque, mais do que revelarem um carater indisciplinado dos nossos militares, dizem-no muito do que foi aquela guerra, principalmente a falta de preparação e as más condições em que os portugueses viveram durante mais de dois anos.
É caso para dizer que, nas entrelinhas, se vai desvendando a história daquela guerra, que, como todas as guerras, foi feita pelos políticos, mas quem a sofreu foram os muitos milhões de jovens de todos os países envolvidos, mesmo os inimigos.
Um esclarecimento: as informações relativas a cada combatente foram tiradas do boletim individual que aqui se apresenta. Mas só foi feito para os do CEP, os que lutaram na Flandres. Não foram publicados no livro, porque o Exército exigia 5 euros por cada um, embora os tenha online.
As informações dos combatentes que estiveram em Angola e Moçambique foram retiradas de outros documentos, como veremos na altura própria.
Julgo que sim, que também devem ser publicadas as punições no teatro da guerra; pois, sendo certo que se trata de um livro de homenagem, também é verdade que se trata de um livro de história. E aqui devem prevalecer os factos.
Ainda me lembro (mal) do ti' Aires, pois quando ele faleceu, tinha eu 9 ou 10 anos (dependendo do mês).
Era carvoeiro e vivia numa casa (penso que está em ruinas), da rua das Laranjeiras (quase em frente à casa das flores do Eusébio).
Com efeito, era extremamente pobre. Talvez por isso e pela sua personalidade, era objeto de certa chacota.
Tal como diz o texto, era conhecido por "Aires da Justa", mas também por "Aires da Tonha"; não sei se devido ao nome de sua mãe, se ao da segunda mulher (ambas, pelo que vejo, de nome Antónia).
O Coluna contava uma pequena rábula que (acho) que tinha ouvido ao Luís 'Chamiço'.
Tendo morrido um familiar comum, o Luís disse para o seu tio Aires:
- Tio, temos que ir velar o nosso familiar que morreu.
O Aires, porque não tinha que vestir e ficaria constrangidíssimo à mais pequena formalidade, respondeu:
- Vai, vai sobrinho! ... Que eu... eu, já... me vou a 'deiter' (a deitar).
E foi dormir, faltando ao velório do familiar morto!
Abraços, hã!
JB
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