Hoje venho contar-vos uma história de amor, não de Pedro e Inês, mas de
Fernando e Joana.
O príncipe D. Fernando era o 3.º filho varão do rei D. Sancho
I. Quando o pai morreu, partiu à aventura e fixou-se na Flandres, onde vivia a
sua tia Teresa, filha de D. Afonso Henriques.
Fernando era um homem belo, de cabelo muito escuro, olhos
meigos e tão alto que lhe chamavam o Gigante.
Por isso foi-lhe fácil cativar a herdeira do condado da Flandres, chamada
Joana. Casaram em Paris, com a benção do rei de França, de quem a condessa Joana
dependia.
Os condes viveram alguns anos de felicidade, mas o rei de
França exigiu-lhes o seu apoio para a guerra que travava com a Inglaterra, a
Guerra dos Cem Anos. Fernando aproveitou a ocasião para pedir ao rei a devolução
de alguns castelos que tinham sido obrigados a entregar-lhe aquando do
casamento.
As negociações fracassaram e Fernando aliou-se aos ingleses. Mas
na batalha de Bouvines os ingleses foram derrotados e Fernando aprisionado e
levado de carroça, com grilhetas nas mãos e nos pés, até Paris.
Os rogos de Joana evitaram-lhe a morte, mas não a prisão
perpétua nos calabouços do palácio do Louvre.
Passaram-se 12 anos e a condessa Joana desesperava, pois
tinha de gerar um herdeiro para o condado. Por isso anulou casamento com
Fernando, a fim de casar com o duque da Bretanha. Mas a aliança entre a
Flandres e a Bretanha não convinha nada ao rei de França, que preferiu libertar
Fernando.
Joana e Fernando voltaram a viver o seu amor e, a 12 de abril
de 1226, os sinos das igrejas repicaram de novo pelos condes da Flandres.
José Teodoro Prata
2 comentários:
É uma bela história, principalmente por acontecer num tempo em que o amor não era a principal motivação para o casamento.
Neste Dia do Namorados, para além das flores e jantares românticos, devíamos refletir também sobre as notícias, campanhas e resultados de estudos que nos dão conta do estado da violência no namoro. Não será uma situação nova, mas provavelmente terá outra visibilidade e outras dimensões. E, sabendo como os pais são os melhores modelos para os filhos, é muito provável que seja a replicação de comportamentos observados na família.
Há um estudo da UMAR (União das Mulheres Alternativa e Respostas) realizado em 2017, que avaliou a violência no namoro nas dimensões da violência psicológica, controlo, violência nas redes sociais, violência sexual, perseguição, e violência física. Entre outras coisas, os resultados apontam para um aumento em quase todas as dimensões relativamente a estudos anteriores, mas, mais grave ainda, há uma percentagem grande de jovens, principalmente rapazes, mas também muitas raparigas, que legitimam os comportamentos de violência durante o namoro.
Há tempos passou na televisão uma campanha que, penso, ajudou a alertar para as várias formas de violência no namoro (podia muito bem ser também no casamento), das quais muitas vezes nem temos consciência. Chamava-se “Quem te ama, não te agride”. Está na internet, e vale a pena recordar…
Uma história bonita, dizemos. Em nome do amor? Pura ilusão! Pois é esse mesmo amor que sai da história totalmente amarfanhado. Histórias de dignitários mais interessados na posição social e nos títulos que no amor. Creio que enfatizamos muita coisa, de acordo com os nossos estereótipos mentais. Mesmo em Pedro e Inês, veja-se que se, naquela época, a infidelidade tivesse sido praticada por um plebeu, não faltariam críticas e condenações! Como foi por um rei, celebra-se! Curioso! Isto faz-me lembrar uns versos do Sérgio Godinho:
“A rica teve um menino, a pobre pariu um moço”.
Tudo de acordo com os clichés da discriminação social.
Pode dizer-se que é fácil falar, agora, séculos mais tarde. Será. Mas não foi, também, há mais de 500 que se escreveu “Romeu e Julieta” ? E não foi desde sempre que o ideal desta obra de Shakespeare do amor único, fiel e universal, existiu?
Estávamos aqui até amanhã de manhã a discutir estas controvérsias.
Isto é apenas o homem (e a mulher) no seu melhor!
Abraços, hã!
JB
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