Visitei
há pouco tempo, pela primeira vez, o Palácio da Ajuda. É preciso ir lá para ver
a riqueza do mobiliário, das pinturas, das tapeçarias, lustres e toda a decoração
daquela casa que foi residência do rei D. Luís I e sua mulher, Maria Pia de
Sabóia.
Parece
que tanta opulência de deveu, em grande parte, ao bom gosto da rainha, uma
princesa italiana educada numa das melhores casas reais daquele tempo, mas
também ao facto de ela ser uma gastadora compulsiva, conhecida em várias
capitais europeias pelos seus luxos e extravagâncias: vestido ou chapéu que ela
usasse, ditava moda nas melhores casas de Paris.
Num
tempo em que o Brasil já se tornara independente e os cofres do reino estavam a
esvaziar-se, tantos gastos eram mal vistos e preocupavam o governo, mas nem o
rei, mais comedido, conseguia contrariar-lhe os exageros.
Uma
das maravilhas do palácio é a sua localização. Construído no cimo de uma das sete
colinas de Lisboa, após o incêndio da “Real Barraca” que albergou a família
real depois do terramoto de 1755, tem uma vista privilegiada sobre o Tejo. Para
além das vistas, pelas enormes janelas entra-lhe em abundância a famosa luz de
Lisboa, desde o nascer ao pôr do sol. Mas janelas de belas vistas podem também
trazer dissabores, como se constatou por alturas do casamento de D. Carlos, o
filho mais velho de D. Luís e sua mulher, Maria Pia.
Um
casamento real implicava grandes gastos, principalmente com as festas e
receções aos convidados das várias casas reais europeias. Mas o dinheiro era
pouco e, para as obras de remodelação da Ajuda e das Necessidades, onde esses
eventos iam acontecer, o governo disponibilizou apenas vinte contos. Pelos
cálculos do rei, tão hábil a fazer contas de cabeça que deixava toda a gente de
boca aberta, rapidamente se concluiu que essa verba não chegava nem para um dos
palácios. Só para mudar as sedas, damascos e veludos dos cortinados e
reposteiros da Ajuda, já muito desbotados pelo sol, eram precisos alguns quatro
contos de réis.
Foi
então que a Marquesa de Benfeita, responsável por essa parte da remodelação,
teve uma ideia brilhante: «E se virássemos do avesso as sedas e veludos da Sala
do Trono?». Experimentaram e resultou, para alívio de D. Luís.
M.
L. Ferreira
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