A rainha Santa Isabel era seguidora
dos franciscanos espirituais (que chegaram a ser proibidos pelo papa) e
apoiou a sua vinda para Portugal. Foram eles que fomentaram em Portugal o
culto ao Espírito Santo e a obra assistencial das albergarias do
Espírito Santo (existia uma em São Vicente da Beira), que mais tarde foram substituídas pelas Misericórdias.
Ora
o convento da Arrábida era dos franciscanos espirituais e penso que foi
este Frei Agostinho da Cruz do texto do António Fernandes que disse ter
chegado ao paraíso, quando contemplou aquela encosta com o mar lá ao
fundo.
Ali próximo, no alto de
Setúbal, ficava o convento franciscano de Brancanes, de onde vieram os
frades que criaram a Ordem Terceira em São Vicente da Beira.
É
a segunda vez que referimos este convento da Arrábida, mas vem a talhe
de foice depois do encontro franciscano que tivemos recentemente, em São Vicente da Beira.
Por
outro lado, há que distinguir os frades espirituais dos outros "comuns".
Estes viviam pobremente na sociedade, pregando e praticando a caridade.
Os franciscanos espirituais vivam longe da sociedade, em contemplação, o que não estava previsto no ideal de São Francisco de Assis.
Decorre a efeméride dos
quatrocentos anos da morte de Frei Agostinho da Cruz, um poeta clássico e
eremita. Este poeta arrábido escreveu elegias, éclogas, endechas e sonetos.
(…)
Vivemos num
mundo de manifestações, de migrações em massa, de distúrbios, de corrupções, de
desvios, de falsas promessas, de notícias falsas como Judas, e muitas vezes
apetece um refúgio, uma ilha isolada, um local onde seja possível uma vida
contemplativa com a natureza, afastada desta realidade virtual cheia de ruídos,
na procura da paz interior, da solidão perto das nuvens e do céu. Foi assim a
vida de Frei Agostinho da Cruz.
Nasceu no Minho,
em Ponte da Barca, em 1540, com o nome de Agostinho Pimenta. Ao entrar para o
Convento de Santa Cruz da serra de Sintra, onde habitou durante umas dezenas de
anos, como noviço, adotou o nome de Frei Agostinho da Cruz, talvez cansado com
tantas especiarias, principalmente a pimenta vinda das Índias.
Em 1605,
escolheu como habitação uma cela no Convento da Arrábida, na serra com o mesmo
nome, fazendo vida de eremita.
Na
comemoração de tão importante efeméride, o escritor e investigador Ruy Ventura
prepara uma ampla antologia da sua obra poética.
No Convento
da Arrábida está previsto um colóquio sobre a vida e obra de Frei Agostinho da
Cruz, ação louvável que possibilita a quem não conhece a obra deste homem
reviver, no seu ambiente, os seus trabalhos mais emblemáticos.
Em Setúbal,
cidade onde faleceu em 1616, irá realizar-se uma conferência proferida por D.
José Tolentino Mendonça, figura da nossa literatura, teólogo e poeta, e atualmente
ao serviço no Vaticano como responsável do Arquivo Histórico da Santa Sé.
Nos anos
sessenta do século passado, passados quase quatrocentos anos, calcorreei alguns
dos percursos agostinianos.
Naquelas
paragens paisagísticas da serra da Arrábida, das mais belas de Portugal, onde
se está perto do mar e das nuvens, além de diversas caminhadas, ocorrem
diversos acampamentos de escuteiros da Região de Setúbal.
Neste mesmo Convento
muitos caminheiros, e candidatos a dirigentes do CNE (Corpo Nacional de
Escutas), realizaram módulos de formação escutista, preparando-se para mais
tarde fazerem e assumirem o compromisso nas investiduras (para quem já pertence
ao movimento) ou promessas (para quem agora entrou para o movimento).
Foi uma
oportunidade única para se fazer uma visita detalhada a este Convento e
sabermos como era a vida monástica dos frades arrábidos.
(...)
António Alves
Fernandes
Aldeia de Joanes
Março/2019
Um comentário:
Tem toda a razão, o António Fernandes: a Arrábida, como Sintra, continuam a ser, apesar dos atentados ambientais, dos lugares mais belos de Portugal; não admira que um eremita e poeta escolhesse lá viver.
É admirável ver como a História de São Vicente está ligada, desde há tanto tempo, a grandes figuras e instituições nacionais.
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