Sempre
fui muito apegado à Senhora da Orada. Já cá venho desde que era pequeno, ainda
com os meus pais e os meus irmãos. Naquela altura não havia carros e os
caminhos eram mal andamosos, mas ninguém lhes tinha medo. A rapaziada nova vinha
sempre ansiosa por chegar e correr para as tendas, todas cheias de novidades, brinquedos
e gulodices, esperançados em voltar para casa com um chapéu novo na cabeça ou
uma santinha de açúcar pendurada ao pescoço. Os mais velhos, era na fé que
arranjavam a força que os trazia cá, todos os anos, a pagar promessas antigas, ou
a pedir alguma graça para o ano seguinte.
Quando
me casei, fui para fora e andei por lá uns tempos largos, sem poder cá vir tantas
vezes. Mas quando regressei, já com os filhos criados, continuei a vir com a
mulher, todos os anos, a pedir por nós e pelos que andavam por lá a fazer pela
vida; e a Nossa Senhora nunca nos faltou, nem com saúde nem com o pão de cada
dia.
Mas
há uns anos estive muito doente, com um nascido nos intestinos. Fui operado,
mas as coisas não correram nada bem à primeira, e ao fim de pouco tempo tive
que ser outra vez cortado. Estive para cima de um mês no hospital, cheio de
tubos por todo o lado, sem autorização para comer nem beber fosse o que fosse. Cheguei
a estar tão mal que os médicos, quando entravam no quarto, olhavam para mim e
abanavam a cabeça, como se quisessem dizer que ali já não havia nada a fazer. E
até eu já só pedia a Deus que me levasse, quanto mais depressa melhor, antes
que desse em doido.
Um
dia, o enfermeiro que tinha entrado de turno ouviu-me a gemer e foi logo a ver
o que é que se passava. Eu mal me podia mexer, todo amarrado e sem poder falar,
mas ainda tive força para lhe pedir que me desse ao menos um bocadinho de água,
que já não aguentava mais com tanta sede que tinha. Respondeu-me que não, que
não tinha ordem para me dar nada; só o médico é que podia dar autorização.
Naquele
momento, era meia-noite em ponto, vi aparecer uma nuvem encarnada no canto do
quarto, aos pés da cama. No meio da nuvem estava uma Nossa Senhora, tal e qual
a que está ali dentro da capela, com as mãozinhas posta e tudo, e disse estas
palavras:
- Ande lá, dê um copo de água ao homem, que
não lhe há de fazer mal nenhum; mas dê-lhe daquela que ali está.
E
apontou para o armário onde estava uma garrafa cheia de água que a minha mulher
me tinha levado. Tinha-a aqui vindo a buscar, de propósito. O enfermeiro tirou
a garrafa do armário, deitou um bocado num copo e deu-ma a beber, aos poucos.
Bebi-a aos golinhos, mas com muita fé e a pedir à Senhora da Orada que me
curasse. Durante uns dias, sempre à mesma hora, o enfermeiro dava-me um copo
daquela água, e quando foi ao fim de pouco tempo já nem parecia o mesmo; nem os
médicos foram capaz de arranjar explicação para umas melhoras assim, tão
repentinas, e toda a gente disse que só podia ter sido um milagre.
A
partir daí, na minha casa não se bebe doutra água. Venho cá pelo menos uma vez
por mês a buscá-la. Até comprei este carrinho, de propósito. Já lá vão uns
poucos de anos e nunca mais senti nada, e acredito que foi graças à água desta
fonte e à fé que tenho na Senhora da Orada que me salvei. É bem certo o que ali
diz naqueles versos:
Nossa Senhora da Orada
Vossa água tem virtude
Com ela muitos doentes
Recuperam a saúde
M.
L. Ferreira
2 comentários:
Que bonito, a água é tão leve e fresca... Obrigada M.L. Ferreira.
Um outro lado: ontem regressei da Senhora da Orada às 16.40h. Ao chegar ao alto da barragem estavam 28,5º e à entrada de CB o termómetro marcava 31,5º.
Ora considerando que entre a Orada e a barragem haverá cerca de 2º de diferença, entre a Orada e CB a diferença era de cerca de 5º.
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