segunda-feira, 16 de março de 2020

Primavera com virose

Estava para vos escrever sobre a alegria de ver, no sábado, um casal de estrangeiros, o David e a Sara(?), ele belga e ela inglesa, a cuidar da horta que compraram ao meu primo João (Baloia), no Ribeiro Dom Bento. Moram no bairro do Hospital até reconstruírem a casa que existe na horta. No contexto do despovoamento deste interior, a sua chegada foi uma lufada de ar fresco, uma esperança de dias melhores.
Também tinha muito para vos dizer sobre a chegada da Primavera à Gardunha. As cerejeiras estão branquinhas, os malmequeres bravos já estão em flor há mais de um mês, alimentando de pólen as abelhas, que aos milhares zumbem de flor em flor, numa azáfama incansável. Há umas flores azuis, de plantas rasteiras em tufos circulares verde-escuro, que reforçam o policromado da paisagem.
O próprio clima ajuda nesta sinfonia da natureza. O mês de fevereiro foi quente e luminoso (o mais quente desde que há medições) e o março vai pelo mesmo caminho. É uma tragédia já anunciada, mas que nos sabe tão bem, alimentando o nosso instinto animal de viver o presente, despreocupados com o passado e o futuro.
Tudo tão bom, mas o raio do Covid-19 está a lixar tudo. Há pouco mais de 100 anos (outono de 1918), os nossos antepassados (os avós dos mais velhos ou os bisavós dos mais novos) sofreram uma outra pandemia, a pneumónica, que nos levou alguns familiares e outros conterrâneos. Tenhamos esperança que daqui a uns tempos nos possamos reencontrar todos na nossa Praça!

José Teodoro Prata

2 comentários:

M. L. Ferreira disse...

De facto, quem havia de dizer que, passados cem anos, durante os quais o mundo científico fez descobertas que melhoraram a nossa qualidade de vida duma forma nunca vista (a esperança média de vida quase duplicou e as condições económicas da maior parte da população mundial melhoraram significativamente) estivéssemos agora a viver uma tragédia de evolução tão imprevisível e sem fim à vista?
Duas das conclusões que podemos retirar desta situação (se é que não sabíamos ainda), é a de que a História não se faz apenas de avanços (as guerras e migrações dos nossos dias, assim como esta pandemia, são um bom exemplo), e não podemos ter como certo seja o que for; outra será a de que a globalização não tem só coisa boas: cada vez mais o que acontece num lugar, por mais remoto que seja, afeta-nos a todos, mesmo que seja apenas por alguns não podermos abraçar os filhos que estão longe, e este ano não podem ver e sentir as cores e os cheiros nossa primavera, nem saborear o bolo da Páscoa ainda morninho.

José Barroso disse...

Temos aqui um inimigo que alto lá com ele! É invisível e, por via disso, insidioso. Com a agravante, é claro, da sua impressionante disseminação por todo o planeta em menos 3 meses, devido à globalização! Ainda assim, a sua virulência é muito inferior a outros, mas não deixa de ser um grande problema. Porém, quem o apanha não sabe se escapa! E esse é o outro e o maior problema. Sendo assim, tudo se centra na insegurança e no medo do contágio!
Como se tem visto na comunicação social, não faltam já por aí os milenaristas e os catastrofistas, sobretudo chefes de igrejas populares, a falar de castigo de Deus! Curiosamente, ainda há poucos anos o mesmo se passou quando apareceu a SIDA. Os judeus do Antigo Testamento, quando apareciam os males, atribuíam-nos à ira de Jeová por, alegadamente, se terem desviado dos seus caminhos.
De todo o modo, esta situação leva-nos a pensar muito sobre tudo isto! Quero dizer, sobre a nossa condição de seres humanos e sobre o que é, afinal, a ciência! Sabemos tanta coisa e, de repente, estamos como se fosse na Idade Média ou, pelo menos, como se tivéssemos recuado 100 anos. Como, respetivamente, aconteceu com a Peste Negra e com a Pneumónica, a única forma de não apanhar a doença é fugir dela! Porque, como disse ontem no "Prós e Contras" o Diretor da Faculdade de Medicina de Lisboa, não existe cura! Fugir é, justamente, a nossa arma. Apesar de o risco ser grande e qualquer um estar sujeito, é preciso sermos suficientemente cuidadosos para tomar as precauções necessárias, a fim de evitar o contágio; e isso só com a quarentena por uns tempos. Se o vírus fosse tão virulento como contagioso, estaríamos aqui com um bico de obra ainda muito maior...!
Com uma certa calma, tudo voltará à normalidade, embora eu pense que nos próximos tempos (talvez anos), as coisas não poderão ser exatamente as mesmas ao nível dos comportamentos sociais. Os asiáticos que fazem apenas uma vénia quando se cumprimentam, nem assim se safaram.
É preciso também ter fé. E, já agora, um agradecimento ao pessoal de saúde que, nesta altura, são como os soldados da frente, em cenário de guerra.
Abraço, hã.
JB