terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

Os Sanvicentinos na Grande Guerra

Francisco Gomes Barroso

Francisco Gomes Barroso nasceu em São Vicente da Beira, no dia 30 de janeiro de 1878. Era filho de António Barroso, sapateiro, e Maria do Patrocínio, moradores na rua da Misericórdia.

É provável que, após o nascimento do filho, António Barroso e Maria do Patrocínio tenham ido residir para Lisboa, onde Francisco fez a instrução primária e o exame de admissão ao Liceu. Contam que a família Barroso era bastante afamada em Lisboa, na arte da sapataria, chegando a trabalhar para a Rainha D. Amélia. Este facto terá criado alguma aproximação à Casa Real e facilitado o alistamento de Francisco Barroso no Regimento de Cavalaria n.º 2 – Lanceiros D’ El Rei, em Belém, que era uma tropa de elite.

Foi incorporado, como recrutado, em novembro de 1898, e terminou a instrução a 5 de setembro, no posto de 1.º Cabo. Completou depois os cursos da Escola Regimental e da Escola Regimental de Cavalaria e foi promovido a 2.º Sargento no ano de 1900. Em 1901, foi destacado para Moçambique, onde permaneceu cerca de um ano.

De regresso à Metrópole, fez o curso da Escola Central de Sargentos e passou a lecionar o Curso Elementar, a partir do ano de 1910.

Sendo Sargento-ajudante do Regimento de Cavalaria n.º 4, foi promovido a Alferes, por decreto de 25/09/1915.

Fez parte da Divisão de Instrução, em Tancos, no ano de 1916, e embarcou para França, no dia 23 de janeiro de 1917, integrando o Grupo de Esquadrões da GNR, Serviço de Polícia.

No seu boletim individual consta apenas o seguinte:

a)   Promovido a tenente, por despacho de 29 de setembro de 1917;

b)   Licença de campanha de 53 dias, a partir de 07/02/1918; regressou a França no dia 15 de julho;

c)    Regressou a Portugal, a bordo do navio Pedro Nunes, tendo desembarcado em Lisboa, no dia 10 de julho de 1919.

Voltou ao Regimento de Cavalaria Lanceiros d’El Rei e foi considerado supra numerário, por despacho de 10/2/1922. Foi colocado na situação de adido, em agosto de 1924, e como supra numerário permanente, em 25/10/1930. Passou à reserva em 30/01/1936, no posto de capitão.


Louvores e condecorações:  

·        Louvado «…porque, como comandante do Destacamento de Polícia do Corpo se houve sempre correcta e criteriosamente no desempenho dos serviços a seu cargo, dedicando na parte administrativa do seu destacamento, grande parte da sua atenção aos interesses da Fazenda Nacional, no que é verdadeiramente modelar, tornando-se digno dos melhores elogios. (O. S. do Corpo n.º 162, de 18 de Junho de 1919)» (processo individual);

·        Medalha de prata comemorativa das campanhas do exército português, por ter feito parte do CEP, com a legenda: França 1917-1918;

·        Medalha de assiduidade;

·        Medalha militar de ouro da classe de comportamento exemplar, por ordem de 26/01/1929;

·        Para além destas condecorações, em vários documentos de avaliação do seu desempenho, que constam do seu processo individual militar, são salientadas qualidades morais, de disciplina, zelo, inteligência, competência, capacidade de iniciativa, etc. 

Família:

Francisco Gomes Barroso já era casado com Maria do Carmo Lopes de Carvalho, quando partiu para França. Enviuvou em 1932 e voltou a casar em 1933, com Laurinda da Conceição Estêvão, na cidade de Santarém. Não terá tido filhos de nenhum dos casamentos porque, de acordo com a sua certidão de óbito, não deixou descendência nem herdeiros.

Faleceu de hemorragia cerebral, no dia 5 de junho 1939. Tinha 61 anos de idade.

Maria Libânia Ferreira
Do livro "Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra"

5 comentários:

Jaime da Gama disse...

Francisco Gomes Barroso era irmão de Eusébio Gomes Barroso, este casado com D. Maria Eugénia da Conceição, proprietários da última casa da rua de São Francisco quase a chegar à capela.

Anônimo disse...

Provavelmente o mestre artesão de calçado, com oficina por detrás dos “Pastéis de Belém” até por volta de 80, que fazia botas de montar para a realeza europeia e para pessoal do cinema como a Bo Derek, o famoso sapateiro Luis Barroso, será filho deste Francisco ou pelo menos da família. No GEGA um jornal “Público” com um vasto artigo sobre ele.
Abraço FB

José Barroso disse...

Não sei se esta linha do nome "Barroso" tem alguma coisa a ver comigo, porque na Vila constam várias derivações do mesmo apelido. Aparecem pessoas com este nome na família do actor Robles Monteiro (ainda há tempos uma neta da D. Amália me perguntou se seríamos parentes). Depois, há ainda outros vicentinos com o mesmo nome. Por exemplo, um ramo da família da Palmira da taberna Ti' Valério, um ramo da família do "Zé Patanucho" (falecido) e ainda gente mais jovem que eu não fazia a mínima ideia que ostentava este nome.
O Jaime da Gama tem andado a ver esses dados e eu já fui surpreendido algumas vezes com antepassados meus de que não sabia. Há sempre a hipótese de sermos todos primos, mais próximos ou mais afastados. Todavia, a nossa família é muito definida por fatores de proximidade prática. Tudo tem a ver com a permanência do contacto com essas pessoas enquanto familiares e dos espaços, desde logo, as casas, que todos frequentávamos. Com efeito, o contacto é muito marcante. Recordo-me que eu tinham vizinhas que eram quase como se fossem de família porque andavam sempre comigo ao colo.
Tenho estado a protelar, mas, afinal, nem é por isto que decidi fazer este comentário. É que, há cerca de 20 anos, saíu na revista do jornal Expresso a história de um sapateiro de Lisboa, chamado Luís Barroso, que, dizia ele, fazia, precisamente, botas, à mão, para várias cabeças coroadas da Europa. Penso que era desta família "Barroso" de sapateiros de S. Vicente da Beira. Por isso, essa revista foi guardada no GEGA e penso que ainda lá está.
Abraços, hã!
JB

M. L. Ferreira disse...

O Jaime da Gama poderá responder melhor às dúvidas do José Barroso, mas, pelo que sei, este Francisco Gomes Barroso seria neto de Manuel Barroso, natural de Castelo Branco, que casou com Maria Antónia, de SVB, em julho de 1830. Manuel Barroso já seria sapateiro quando veio para São Vicente. Manuel Barroso e Maria Antónia serão antepassados da família da Palmira.
Lembro-me de a Ti Lurdes Barroso me ter contado que quando os pais dela se casaram tinham convidado para padrinho um irmão da noiva, sapateiro já afamado em Lisboa, que prometera oferecer os sapatos aos noivos. Como não chegaram a tempo, tiveram que casar com calçado emprestado.

José Teodoro Prata disse...

O Jaime já aqui publicou informações sobre a família Barroso. Ver em https://dosenxidros.blogspot.com/search?q=Barroso
ou escrever Família Barroso na janela do canto superior esquerdo do blogue.