Hipólito dos Santos Nascimento
Hipólito dos Santos Nascimento nasceu em abril de
1894. Segundo a sua filha Maria de Jesus, foi colocado na roda da terra onde
eram deixados os meninos desamparados e sem família. Posteriormente, foi dado a
criar a Maria Saraiva do Nascimento casada com António Craveiro, que por essa
altura tinham tido uma menina. Criaram-no como se fosse mais um filho e deram-lhe
o nome de família. Passou a chamar-se Hipólito dos Santos Nascimento. Segundo
consta, o apelido Santos provinha do seu pai biológico, um médico oriundo de
Lisboa.
Assentou praça em 9 de julho de 1914 e foi incorporado no Regimento de
Artilharia de Morteiro (Montanha?) de Castelo Branco. Segundo a sua folha de
matrícula era jornaleiro, analfabeto e foi vacinado. Pronto da instrução da
recruta em 24 de maio de 1915, foi destacado para a província de Moçambique,
para onde seguiu no dia 7 de outubro, integrando a 2.ª Expedição enviada para o
norte daquela província ultramarina.
Tal como os seus companheiros de expedição,
também terá ficado retido durante alguns meses em Porto Amélia, em muito más
condições de higiene e alimentação. Só em 1916 partiu para a zona de guerra, na
fronteira com os territórios alemães, com a missão de recuperar Quionga e
passar o rio Rovuma, para norte.
Regressou à Metrópole, em 14 de maio de 1916. Viria doente, pois foi licenciado em 25 de agosto de 1917, por ser
julgado incapaz para o serviço no Ultramar. Apresentou-se de novo em 11 de outubro
de 1918, nos termos da circular n.º 46 da 3.ª Repartição da 1.ª Direção Geral
da Secretaria da Guerra, mas foi novamente licenciado em 5 de julho de 1919.
Passou ao 2.º Escalão do Exército e ao 7.º Grupo
de Baterias de Reserva, em 31 de dezembro de 1924, e ao Depósito de
Licenciados, a 18 de agosto de 1926. Em 9 de setembro 1930, passou à Companhia
de Trem Hipomóvel e, em 31 de dezembro de 1932, passou à reserva territorial.
Condecorações:
·
Medalha Comemorativa das
Campanhas Portuguesas em Moçambique;
·
Medalha da Vitória.
Família:
Quando regressou à Metrópole, Hipólito continuou
o namoro com Maria da Luz Candeias, a namorada que já cá deixara antes de
partir. O namoro não era muito do agrado dos pais da noiva, mas, por fim,
consentiram no casamento que se realizou no dia 14 de setembro de 1918. O casal
ficou a viver em São Vicente, onde lhes nasceram os seus 8 filhos:
- Maria do Carmo Candeias (morreu com poucos dias);
- Maria José Candeias, que casou com António Lino e tiveram 5 filhos;
- Maria Antónia Candeias, que casou com Manuel Ricardo e tiveram 1
filho;
- Carlota Candeias, que casou com Jaime Martins e tiveram 2 filhos;
- José dos Santos Candeias, que casou com Valentina Marques da Fonseca
(não tiveram filhos);
- Maria de Jesus Santos Candeias, que casou com Guilhermino Candeias e
tiveram 3 filhos;
- Pedro José Santos Candeias, que casou com Maria Delfina e tiveram 2
filhos;
- Francisco Candeias, que casou com Ema Caetano e tiveram 2 filhos.
A felicidade do casal teve muitos altos e baixos,
porque a guerra tinha deixado marcas profundas na saúde de Hipólito dos Santos.
Sobre o tempo da guerra, também não contava muito. «Era pouco falador e não contava muito sobre a guerra; só dizia que passaram por lá mal,
principalmente por causa da fome, da sede e do calor; mas também por terem medo
de ficar por lá como os outros que viam morrer todos os dias ao pé deles. Essas
coisas deixaram-no muito doente. Correram todos os médicos e hospitais, mas
ninguém encontrou cura para aquele mal. Ainda esteve internado algum tempo no
hospital de São José e pareceu ter algumas melhoras. Nessa altura a minha mãe
resolveu ir para Lisboa connosco, para estar mais perto do meu pai, e acabámos
por ficar lá a morar.» (testemunho da filha Maria de Jesus)
Após a saída do hospital, Hipólito fez-se à vida
e criou um negócio de penhorista, comprando e vendendo objetos em ouro. Um dos
seus netos, agora com 72 anos, mas que na altura era ainda muito jovem,
recorda-se de acompanhar o avô às casas de penhores onde ele ia fazer negócio. Lembra-o
como um homem «…bem vestido e penteado
com brilhantina, sapatos de última geração, um “Gingão Lisboeta”, com a sua malinha
de cartão; sociável com toda a gente que o rodeava, e respeitado por todos,
porque era honesto nas compras e nas vendas. Ainda o acompanhei duas vezes a
contactar os clientes na zona da Fonte Luminosa e no Alto de São João, em
Lisboa. Eram os seus lugares prediletos e onde se movimentava muito bem, talvez
por serem dali as suas raízes paternas.»
Passados alguns anos, a doença que acompanhava
Hipólito desde o tempo da guerra voltou a manifestar-se e a família regressou a
São Vicente da Beira, para poderem ter uma vida mais calma. Ainda foi feitor da
Casa Agrícola José Neves, por algum tempo, mas, numa tarde de setembro de 1963,
logo a seguir às Festas de Verão, pôs termo à vida. Tinha 69 anos.
«Vida difícil: triste no nascer, honrado no viver e triste no morrer…» (testemunho do neto Francisco Eduardo, um dos netos que, juntamente com outro primo, já falecido, passou as últimas Festas de Verão com o avô).
(Pesquisa realizada com a colaboração da filha
Maria de Jesus Candeias e do neto Francisco Eduardo)
Maria Libânia Ferreira
Publicado no livro "Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra"
Um comentário:
A história "Coisas do diabo", publicada no dia 14 de setembro de 2012, dá uma achega grande a esta publicação. Vale a pena...
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