quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022

Os Sanvincentinos na Grande Guerra

João Ricardo

João Ricardo nasceu em São Vicente da Beira, no dia 5 de novembro de 1894. Era filho de Manuel Ricardo e Maria Ramos, moradores na rua Velha.

Embarcou para França no dia 21 de Março de 1917, integrando o 2.º Grupo de Metralhadoras, 1.ª Bateria, no posto de soldado com o n.º 87 e placa de identificação n.º 51709.

Do seu boletim individual constam as seguintes ocorrências:

a)   Promovido a 2.º Cabo, em 13 de Outubro de 1917;

b)   Punido em 30 de janeiro de 1918, com cinco dias de detenção, por ter faltado à formatura, no dia 27 do mesmo mês, tendo-se apresentado apenas pelas 20.30h;

c)    Punido em 5 de maio de 1918, com dois dias de detenção por, no dia 4, se ter ausentado do acantonamento sem autorização, não se encontrando presente quando foi procurado por motivos de serviço;

d)   Baixa à ambulância n.º 4, em 4 de junho de 1918;

e)   Seguiu do D. I. (Depósito de Infantaria?), em 6 de outubro de 1918, para a zona avançada, a fim de recolher à sua unidade;

f)     Presente no B. Metralhadoras Pesadas e colocado na 1.ª Secção com o n.º 39, em 31 de Outubro de 1918;

g)   Regressou a Portugal no dia 1 de março de 1919, desembarcando em Lisboa no dia 5 do mesmo mês.

Condecorações: Não foi possível consultar a folha de matrícula de João Ricardo, no Arquivo Geral do Exército nem no Arquivo Histórico da G.N.R. /G. Fiscal, pelo que não tivemos acesso a esta informação.


Família:

João Ricardo casou com Amélia de Jesus, no Posto de Registo Civil de São Vicente da Beira, no dia 27 de novembro de 1921, e tiveram 4 filhos:

1.    Celeste Ramos Gama, que casou com Diogo(?) e tiveram 1 filho;

2.    Maria de Lurdes de Jesus Ricardo (uma lutadora contra a ditadura de Salazar), que casou com Edmundo Pedro (histórico da resistência antifascista e notável do Partido Socialista) e tiveram 1 filha;

3.    Maria de Jesus Ramos Gama, que casou em primeiras núpcias com Tomé(?) e tiveram 1 filha; Maria de Jesus enviuvou e voltou a casar com João Felgueiras, mas não teve filhos deste casamento;

4.    Fernando Ricardo, que casou e teve 2 filhos.

Após o regresso de França, João Ricardo ingressou na Guarda-Fiscal. Esteve colocado na Doca do Bom Sucesso, em Lisboa, onde permaneceu até ao final da carreira. Foi também ali que lhe nasceram os filhos e viveu com a família, em instalações que o quartel disponibilizava para os seus Guardas. Após a aposentação ainda trabalhou, como segurança, na Liga dos Combatentes da Grande Guerra, onde também tinha residência. Mais tarde a família mudou-se para Mem Martins.

A filha Maria de Lurdes Pedro lembra o pai como uma pessoa muito honesta e de um grande rigor e respeito por todas as regras, quer fosse no trabalho ou em casa, e exigia dos outros as mesmas atitudes e comportamentos. Este rigor refletiu-se na educação que deu aos filhos, principalmente às raparigas. «Não batia, mas aquilo que dizia era para se cumprir».

João Ricardo faleceu na freguesia do Algueirão, em Sintra, no dia 24 de dezembro de 1968. Tinha 74 anos de idade.

(Pesquisa feita com a colaboração da filha Maria de Lurdes Pedro)

Maria Libânia Ferreira

Publicado no livro "Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra"

2 comentários:

M. L. Ferreira disse...

Como dizia o senhor António Matias para a filha Maria de Lurdes, «A guerra é a pior coisa que há no mundo». È absolutamente extraordinário que depois de experiências tão trágicas para toda a humanidade como foram as guerras mundiais (onde os russos foram especialmente massacrados em Leninegrado durante a 2ª Guerra Mundial), e outras mais localizadas que ocorreram ao longo da História, ainda nos possamos confrontar com imagens que nos deixam de coração apertado a olhar para imagens tão tristes como as que as televisões nos trazem até casa.
Parece que regressámos à época em que o Homem se tornou sedentário e começou a lutar pela posse da terra. No atual estado da civilização, e apesar de tantas instituições criadas para assegurar a paz e o cumprimento do Direito Internacional, só um louco pode regredir desta forma.

José Teodoro Prata disse...

Este João Ricardo casou com Amélia de Jesus, minha tia-avó, pois era irmã do meu avô Francisco Teodoro.
Esta guerra só veio confirmar o que eu já sentira com a vacinação, com a vaga de refugiados no Mediterrâneo, alguns a fugir dos seus países destruídos pelo Ocidente (Iraque, Líbia), com a guerra na ex-jugoslávia: o ser humano continua violento, egoísta, sectário face aos que estão fora do seu mundo. E depois há o eterno problema dos que chefiam os países, de quem se espera serem os melhores, com mais humanidade e descernimento, mas que frequentemente é precisamento o contrário, como neste caso. E cá estão os povos para sofrer...