Há dias decidi ir (a pé, está claro), à Portela
da Senhora da Orada ver como paravam as modas. É uma forma de dizer. Desde a
última vez que por lá andei, já passaram alguns anos. Foi num dia em que
escrevi um texto (por sinal, publicado neste blog) e fotografei um cão que por
lá apareceu, ao qual também fiz referência.
A partir da Portela da Senhora da Orada não
consegui encontrar qualquer afloramento de calçada, na encosta norte da
Gardunha, em direção a Alcongosta, Fundão ou outra povoação próxima.
No dia seguinte fui à outra Portela a sul e,
mais além, até ao fundo das Vinhas e Valouro. Agora como da outra vez, o fito
principal era ir ver o estado da calçada romana ou medieval que vem do
meridião, segue para norte, na parte que se contém, mais ou menos, nos limites
da nossa freguesia. Ou seja, da estrada vicinal, hoje alcatroada, que vai do
Louriçal do Campo à EN 352, próximo do Valouro e que corta, ortogonalmente, a
nossa rota romana ou medieval.
A fim de situar as pessoas relativamente ao
itinerário desta antiga estrada romana ou medieval da Vila, digo aquilo que me
parece: entra na nossa freguesia a sul, pelo Valouro, Vinhas e Fonte da
Portela. Foi cortada perto deste local pela EN 352 fundindo-se com esta. Ao
fundo da Barreira da Fábrica, do lado da Vila, volta a autonomizar-se e segue
pela estreita rua das Poldras para o Ribeiro do Marzelo; passa pela rua da
Corredoura e segue pelo caminho do Cimo de Vila para a Senhora da Orada, até ao
Alto da Portela, local em que desce para a encosta norte da Serra da Gardunha.
Antes do calcetamento da rua da Corredoura e quelhas adjacentes (a nossa antiga
circular externa!), ainda havia alguns afloramentos de calçada antiga na
barreira do Ribeiro do Marzelo, do lado dos Cunhas, mesmo junto ao muro da
quinta.
Tal como me aconteceu na Portela, a norte, a
partir da mencionada estrada vicinal para sul, não pude vislumbrar a referida
via romana ou medieval, dadas as dificuldades do terreno e da vegetação. Mas
creio que seguirá para Castelo Branco. Talvez se consiga encontrar, penso eu,
se se fizer a pesquisa inversa, começando naquela cidade ou, em todo o caso,
algures na Póvoa de Rio de Moinhos ou Tinalhas caminhando para norte.
Mas, digo estrada "romana ou
medieval", porque, não sendo eu um especialista na matéria, entendo que
não posso (nem devo) classificar, para já, esta via, sem que outros se
pronunciem sobre o assunto. Sei apenas que se trata de uma estrada antiga
(razão pela qual deve ser preservada), com algumas caraterísticas nas quais,
segundo os entendidos, se podem enquadrar as estradas romanas, mas também as
medievais. Esta via pode, de facto, ter uma origem romana e ter sido, posteriormente,
modificada como, de facto, aconteceu por todo o país. Os melhoramentos, hoje,
são desaconselhados, a não ser que sejam feitos por especialistas.
A construção das vias nas províncias romanas não
era tão complexa como na península itálica. Basicamente, era aberta uma caixa
no terreno que se enchia de pedras e areia ou cascalho ou cal que, depois de
batida, levava na superfície uma camada de lajes a formar uma face convexa,
tudo para permitir a drenagem das águas pluviais. Algumas podem apresentar, ao
centro, uma fila longitudinal de pedras. É o caso desta via junto à Senhora da
Orada que, assim, se aproxima mais da configuração das antigas ruas da Vila de
S. Vicente da Beira construídas na Idade Média.
De uma forma ou outra, o que é certo é que este sistema de construção
das obras permitiu que a rede viária romana perdurasse por 2 milénios! Mesmo o
MacAdam, com o seu método moderno, obrigava a reparações permanentes levadas a
cabo por um verdadeiro exército de cantoneiros, cada um com seu
"cantão"! Nenhum dos povos seguintes (Godos, Árabes) teve, como os
Romanos, a noção da importância das estradas no desenvolvimento militar,
económico e administrativo. Com o início da Idade Média (sensivelmente, no séc.
V), como se sabe, a civilização ocidental estagnou ou deu passos atrás! Segundo
os historiadores, até quase ao século XX (imagine-se!), a nossa rede viária assentava,
fundamentalmente, na profusão dos caminhos rasgados pelos romanos!
Estão indicados na internet vários trilhos na
nossa região, seja na planície ou na serra, nomeadamente, Castelo Branco,
Sarzedas, Almaceda, Alcains, Soalheira, Louriçal do Campo, Alpedrinha, Castelo
Novo. Todos seguem, como é óbvio, pontos de interesse turístico, quer naturais,
quer culturais (culturais, isto é, onde há mão humana). Em S. Vicente da Beira
também há indicação de trilhos no terreno mas, na internet, no que concerne à freguesia,
creio que apenas se faz referência ao Casal da Serra, quando se descrevem as
rotas do Louriçal do Campo ou de Castelo Novo.
Acontece, então, que a dita estrada romana ou
medieval a norte, não está tão bem conservada como estava há uns anos atrás
quando lá estive! É certo que foi contida a invasão da vegetação e, mais que
contida, foi alargado o seu limite de crescimento. Essa operação, em si mesma,
seria benéfica, porque deixaria mais à vista uma obra humana antiga que nós não
temos o direito de destruir! A sul, esta via, está e sempre esteve pior porque
foi sempre muito mais utilizada! O presidente da Junta de Freguesia disse-me,
pessoalmente, há tempos, que iria ser limpa na área da Fonte da Portela, mas,
por enquanto, ainda continua na mesma.
Sucede, porém, que, hoje, naquela zona norte, há
eucaliptos para cortar e eólicas que ali foram instaladas que necessitam de
manutenção. Deve ter sido por isso que a estrada, além do corte da vegetação,
foi alargada por máquinas; e, embora pareça que a calçada foi poupada,
encontra-se, na sua maior parte, coberta por uma camada de entulho. Não me
parece que a estrada tenha sido, propriamente, soterrada, mas a cobertura de
terra deve ser retirada e a calçada limpa! Em muitos locais do país estas vias
antigas foram destruídas. É preciso que não se destruam mais. Por isso, a Junta
de Freguesia deve tomar medidas e verificar melhor o que se passou, a fim de
tentar preservar os afloramentos ainda existentes.
Anexo: fotos de alguns afloramentos da calçada
antiga e um vídeo de uma das eólicas da Portela Norte.
José Barroso