Enxidros era a antiga designação do espaço baldio da encosta da Gardunha acima da vila de São Vicente da Beira.
A viver aqui ou lá longe, todos continuamos presos a este chão pelo cordão umbilical.
Dos Enxidros é um espaço de divulgação das coisas da nossa freguesia.
Visitem-nos e enviem a vossa colaboração para teodoroprata@gmail.com
Eu acho que todas as manifestações de pessoas em S. Vicente da Beira, se envolverem festas, religiosidades, convívios, debates, cultura, concertos de música, etc, são importantes porque é sinal de que estamos vivos. Sendo assim, saúdo as pessoas que disponibilizam algum do seu tempo para trabalhar e proporcionar os eventos aos outros porque, eles mesmos, não têm festas, dada a sua preocupação, sobretudo financeira. Há responsabilidades e, no final, existem despesas a pagar. Sei do que falo porque também já passei por isso. Tenho gratas recordações dos festejos a estes dois santos, S. Vicente e S. Sebastião. A diferença é que, na época, havia muita gente na vila e tudo era bonito porque estávamos a dar os primeiros passos na vida. Naquela idade era como se fôssemos eternos! Porque, afinal, o futuro estava ainda por acontecer. E tudo parecia um sonho puro e belo. Mas a singeleza desses tempos, não estava apenas em nós, os mais pequenos, e sim nos próprios adultos, pais, mães, avós, que, apesar de terem já aprendido com a vida, eram, ainda assim, cheios de simplicidade. O que me faz lembrar o poeta Guerra Junqueiro que dedica muitas das suas rimas aos "Simples", do seu tempo de criança. Os que, nas pequenas e nas grandes questões da vida, agem sempre da mesma forma: aceitam tudo o que lhes ensinaram, incluindo a sua própria condição social, sem questionar nada nem ninguém e sofrem tudo com a maior das paciências. Situação que em todas as épocas e sociedades pode suceder, mas que, na nossa geração, a política do Estado Novo também ajudou a ser uma realidade. No terceiro sábado de janeiro (antes dos dia 20 e 22; penso que a festa seria no domingo seguinte), em vez de haver o mercado normal, havia uma valente feira (na praça) com grande algazarra dos feirantes. Já gora: a outra feira na vila era no terceiro sábado de setembro (festas de verão). S. Vicente, como se sabe, passa por ser o padroeiro da terra (na verdade é Nossa Senhora da Assunção -?-, assunto de que já se falou neste blog). Como tal, o Santo tinha a sua festa, pois com certeza. Já quanto ao S. Sebastião, como era o Santo protetor das bexigas (varíola), nesse dia usávamos uma fita no tronco, em banda. Depois de a comprarmos na loja, tínhamos que ir junto da imagem do Santo, medi-la (a confirmar se era, pelo menos, da mesma altura); caso contrário, o Santo não nos daria a sua proteção. Eu comprava sempre uma vermelha, mas as lojas vendiam de outras cores. E havia a discussão de saber se a proteção dispensada pelo Santo seria a mesma porque a dele, na verdade, era (e é) vermelha... Em todo o caso, para se ser protegido da doença (mesmo os que tinham fé), convinha que levassem a vacina na escola! A tal ministrada na escola (uma caneta a arranhar o braço). De forma que era assim... Abraços, hã1 JB
A propósito da parte do comentário em que o José Barroso fala da resignação e simplicidade do povo, lembrei-me (lembro-me muitas vezes) de uma festa que houve cá na terra para inaugurar ou comemorar qualquer coisa. Vieram muitas individualidades de fora que foram recebidas pelas pessoas mais importantes da terra e caminharam por algumas ruas da Vila. O povo todo atrás, a dar vivas. No final foi servido um banquete numa das salas do antigo edifício da Câmara, mas nós, os simples, ficámos na Praça, todos contentes, à espera que, no final, ainda sobrasse alguma migalha. Acho que ainda comi um pastel de bacalhau, e fiquei tão contente! Esta história é verdadeira, e aconteceu era eu ainda quase criança, no tempo da ditadura. Paradoxalmente, parece quase uma metáfora para os tempos que vivemos, em que o clamor dos primeiros anos da Democracia está cada vez mais apagado. Mas a festa foi bonita: a procissão acompanhada pela nossa Banda até parecia maior; as filhós do bodo, uma maravilha; e o almoço convívio encheu completamente o salão da Casa do Povo. Bem-haja à organização!
Pela descrição, parece ter sido a comemoração do sétimo centenário da fundação de São Vicente da beira, assinalada com o monumento do largo da Fonte Velha. Veio até o presidente da Câmara de Lisboa, o almoço foi no edifício da antiga Câmara, à Praça, o qual nunca foi pago, pois no ano seguinte deu-se o 25 de Abril e a nova Câmara não pagou as despesas que a antiga deixara. O almoço foi servido pelo restaurante então situado no rés-do-chão do Cineteatro, hoje Sala da Nora, mas não me sai o nome. Folgo que a festa de ontem tenha sido um sucesso, pois a primeira, dois meses antes da pandemia começar, foi uma sucessão de erros, culpa de ninguém, mas apenas da falta de experiência e de coordenação do pessoal que tão generosamente ali trabalhou para a comunidade.
Relativamente à festa de São Sebastião e São Vicente, a organização esteve bem e não faltaram o pãozinho, as filhós e o almoço farto, servido com muita simpatia. Falta acrescentar que, embora a igreja tenha ficado mais preenchida que habitualmente, na procissão houve pouca aderência, não fosse a banda filarmónica para a animar. Houve um momento de uma breve pausa da banda, com um silêncio na procissão quase constrangedor, pois faltaram os cântico e as rezas que antigamente preenchiam estas pausas. Atendendo a que as Festas servem também para aproximar as comunidades, acredito que daqui a uns anos, as igrejas funcionarão apenas como museus. Isto analisado friamente, não como uma crítica mas apenas como constatação dos factos.
4 comentários:
Eu acho que todas as manifestações de pessoas em S. Vicente da Beira, se envolverem festas, religiosidades, convívios, debates, cultura, concertos de música, etc, são importantes porque é sinal de que estamos vivos.
Sendo assim, saúdo as pessoas que disponibilizam algum do seu tempo para trabalhar e proporcionar os eventos aos outros porque, eles mesmos, não têm festas, dada a sua preocupação, sobretudo financeira. Há responsabilidades e, no final, existem despesas a pagar. Sei do que falo porque também já passei por isso.
Tenho gratas recordações dos festejos a estes dois santos, S. Vicente e S. Sebastião. A diferença é que, na época, havia muita gente na vila e tudo era bonito porque estávamos a dar os primeiros passos na vida. Naquela idade era como se fôssemos eternos! Porque, afinal, o futuro estava ainda por acontecer. E tudo parecia um sonho puro e belo. Mas a singeleza desses tempos, não estava apenas em nós, os mais pequenos, e sim nos próprios adultos, pais, mães, avós, que, apesar de terem já aprendido com a vida, eram, ainda assim, cheios de simplicidade.
O que me faz lembrar o poeta Guerra Junqueiro que dedica muitas das suas rimas aos "Simples", do seu tempo de criança. Os que, nas pequenas e nas grandes questões da vida, agem sempre da mesma forma: aceitam tudo o que lhes ensinaram, incluindo a sua própria condição social, sem questionar nada nem ninguém e sofrem tudo com a maior das paciências. Situação que em todas as épocas e sociedades pode suceder, mas que, na nossa geração, a política do Estado Novo também ajudou a ser uma realidade.
No terceiro sábado de janeiro (antes dos dia 20 e 22; penso que a festa seria no domingo seguinte), em vez de haver o mercado normal, havia uma valente feira (na praça) com grande algazarra dos feirantes. Já gora: a outra feira na vila era no terceiro sábado de setembro (festas de verão).
S. Vicente, como se sabe, passa por ser o padroeiro da terra (na verdade é Nossa Senhora da Assunção -?-, assunto de que já se falou neste blog). Como tal, o Santo tinha a sua festa, pois com certeza. Já quanto ao S. Sebastião, como era o Santo protetor das bexigas (varíola), nesse dia usávamos uma fita no tronco, em banda. Depois de a comprarmos na loja, tínhamos que ir junto da imagem do Santo, medi-la (a confirmar se era, pelo menos, da mesma altura); caso contrário, o Santo não nos daria a sua proteção. Eu comprava sempre uma vermelha, mas as lojas vendiam de outras cores. E havia a discussão de saber se a proteção dispensada pelo Santo seria a mesma porque a dele, na verdade, era (e é) vermelha... Em todo o caso, para se ser protegido da doença (mesmo os que tinham fé), convinha que levassem a vacina na escola! A tal ministrada na escola (uma caneta a arranhar o braço).
De forma que era assim...
Abraços, hã1
JB
A propósito da parte do comentário em que o José Barroso fala da resignação e simplicidade do povo, lembrei-me (lembro-me muitas vezes) de uma festa que houve cá na terra para inaugurar ou comemorar qualquer coisa. Vieram muitas individualidades de fora que foram recebidas pelas pessoas mais importantes da terra e caminharam por algumas ruas da Vila. O povo todo atrás, a dar vivas. No final foi servido um banquete numa das salas do antigo edifício da Câmara, mas nós, os simples, ficámos na Praça, todos contentes, à espera que, no final, ainda sobrasse alguma migalha. Acho que ainda comi um pastel de bacalhau, e fiquei tão contente!
Esta história é verdadeira, e aconteceu era eu ainda quase criança, no tempo da ditadura. Paradoxalmente, parece quase uma metáfora para os tempos que vivemos, em que o clamor dos primeiros anos da Democracia está cada vez mais apagado.
Mas a festa foi bonita: a procissão acompanhada pela nossa Banda até parecia maior; as filhós do bodo, uma maravilha; e o almoço convívio encheu completamente o salão da Casa do Povo. Bem-haja à organização!
Pela descrição, parece ter sido a comemoração do sétimo centenário da fundação de São Vicente da beira, assinalada com o monumento do largo da Fonte Velha. Veio até o presidente da Câmara de Lisboa, o almoço foi no edifício da antiga Câmara, à Praça, o qual nunca foi pago, pois no ano seguinte deu-se o 25 de Abril e a nova Câmara não pagou as despesas que a antiga deixara. O almoço foi servido pelo restaurante então situado no rés-do-chão do Cineteatro, hoje Sala da Nora, mas não me sai o nome.
Folgo que a festa de ontem tenha sido um sucesso, pois a primeira, dois meses antes da pandemia começar, foi uma sucessão de erros, culpa de ninguém, mas apenas da falta de experiência e de coordenação do pessoal que tão generosamente ali trabalhou para a comunidade.
Relativamente à festa de São Sebastião e São Vicente, a organização esteve bem e não faltaram o pãozinho, as filhós e o almoço farto, servido com muita simpatia. Falta acrescentar que, embora a igreja tenha ficado mais preenchida que habitualmente, na procissão houve pouca aderência, não fosse a banda filarmónica para a animar. Houve um momento de uma breve pausa da banda, com um silêncio na procissão quase constrangedor, pois faltaram os cântico e as rezas que antigamente preenchiam estas pausas. Atendendo a que as Festas servem também para aproximar as comunidades, acredito que daqui a uns anos, as igrejas funcionarão apenas como museus. Isto analisado friamente, não como uma crítica mas apenas como constatação dos factos.
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