quarta-feira, 15 de novembro de 2023

Afinal, os Gravatinhas são outros!

Foi um equívoco de séculos. Bem, quer dizer, de anos, muitos anos, eu convencido que por aí se dizia que, aos de São Vicente, os povos das redondezas chamavam Gravatinhas.

Na semana passada, na Biblioteca Nacional, estive com Jaime Lopes Dias, que deixou escrito que essa era alcunha dos de Alpedrinha, a que também chamavam Manilhas; idem Gravatinhas, os de Penamacor. Um homem pode andar anos enganado, afinal!

Achei que poderia interessar a Vossas Excelências o escrito integral em que o estudioso trata do assunto; mas, como é longo, 5 páginas impressas, deixo somente o registo do que a São Vicente e algumas terras mais próximas diz respeito. Aqui vai, e que lhes faça bom proveito.

Com amizade,

Sebastião Baldaque

ALCUNHAS

por Jaime Lopes Dias

(extracto)

Sardanascas, os das aldeias dos arredores de Castelo Branco.

Cucos, os de Aldeia de João Pires e do Louriçal do Campo.

Unhas Negras, os de Alcains. Diz-se também: Alcains, terra de cães. Ao que os naturais respondem "Terra por onde eles passim" (passam).

Manilhas e Gravatinhas, os de Alpedrinha.

Alfacinhas, os de Castelo Novo.

Mafras, os da Soalheira.

Batatas, os do Casal.

Chamiceiros, os de São Vicente.

Mata-Lobos, os do Sobral.

Gatunos, os do Ninho.

Semagreiros, os de Tinalhas.

Carreiros, os da Póvoa.

Fura-Balsas, os de Escalos.

Pelados, os da Lousa.

Bogalhões, os da Lardosa.

Cabreiros, os de Souto da Casa.

Cravinas, os de Aldeia Nova do Cabo.

Borrados, os de Aldeia de Joanes.

Cabeças de Burro, os do Fundão.


P. S. Quem tiver interesse, poderá ler o escrito integral na Etnografia da Beira, vol. III, edição, creio, de 1926, na rubrica "Alcunhas". Mais à mão, tenho imagens dessas páginas, que coloquei no seguinte endereço:

 https://youtu.be/OFO5-44QWb4

3 comentários:

Anônimo disse...

Interessante, mas acho que estas recolhas do Jaime Lopes Dias, que muito meritórias são e, mesmo feitas por um homem do seu calibre, poderão não ser totalmente exatas. Basta pensarmos que esse tipo de alcunhas, no caso, coletivas, lançadas sobre as comunidades, andavam de boca em boca, o que diz da sua flutuação. Ora, isso dá sempre conclusões pouco rigorosas. Não sabemos em que locais foram obtidas e quem foram as fontes.
Quem é que chamava o quê a quem? Se calhar, até podemos admitir que quem indicava nomes não queria ficar com os mais feios!
Na verdade, também ouvi sempre dizer que os de S. Vicente eram os gravatinhas. E sempre ouvi chamar aos do Sobral os chamiceiros (nome que aparece como sendo atribuído aos de S. Vicente); e como é que aparece o nome de alfacinhas em Castelo Novo que, como quase toda a gente sabe, é atribuído aos de Lisboa? E por que razão algumas terras tinham duas alcunhas?
Pesquisar as alcunhas coletivas parece ser mais difícil que as alcunhas singulares. A discutir.
Abraços, hã!
José Barroso

José Teodoro Prata disse...

O Jaime Lopes Dias escreveu o que lhe disseram. Noutro volume escreveu que no Louriçal chamavam cães aos de São Vicente. A verdade é que numa povoação podem usar uma alcunha e noutra uma alcunha diferente.

M. L. Ferreira disse...


Parece que sim, que temos andado todos enganados (mas o ZB tem razão no comentário que fez), e também andamos sempre a aprender: não sabia que agora era Batata, mas antes isso que Gatuna, Borrada, Cabeça de Burro…
Os de Alcains orgulham-se de ser Unhas Negras. Têm até uma pequena praça com esse nome. Disseram-me que a alcunha vem do facto de ser uma terra de canteiros, e eles, frequentemente, andarem com as unhas negras por causa das marteladas que davam nos dedos.