José Venâncio
José Venâncio nasceu na Partida, a 5 de
fevereiro de 1893. Era filho de António Venâncio e Maria do Rosário.
Assentou praça no dia 9 de julho de 1913 e foi
incorporado no 2.º Batalhão do Regimento de Infantaria 21, no dia 13 de janeiro
de 1914. Era na altura analfabeto e tinha a profissão de jornaleiro.
Fazendo parte do CEP, embarcou para França em
21 de janeiro de 1917, integrando a 6.ª Companhia do 2.º Batalhão do 2º Regimento
de Infantaria 21, como soldado com o número 202 e placa de identidade n.º 9171.
Do seu boletim individual constam as seguintes
ocorrências sobre o tempo em que permaneceu em França:
a)
Baixa
ao hospital em 14 de agosto de 1917, por ter sido ferido em combate; teve alta
em 15 de outubro (segundo contava, esteve mais de um mês em coma);
b)
Várias
punições e detenções por faltas ao trabalho;
c)
Em
Junho de 1918, foi-lhe confirmado pelo Tribunal de Guerra a sentença de seis
meses de presídio militar ou, em alternativa, a pena de oito meses de
incorporação em Detenção Disciplinar (de acordo com a folha de matrícula, este
castigo foi aplicado, no dia 22 de Outubro de 1918, a José Venâncio e mais
outros seis militares da sua Companhia, por serem acusados de se terem
coligados entre si com o intuito de tirar da casa, que servia de prisão, um
soldado que ali se encontrava recluso, por ordem do Comandante do Batalhão);
d)
Foi
repatriado em agosto de 1918 e desembarcou em Lisboa, no dia 25.
Por decisão de 28 de
Maio de 1921 o crime de que era acusado foi amnistiado nos termos do Art.º 1 da
Lei n.º 1146, de 9 de Abril de 1921. Na sentença referida na sua folha de matrícula
pode ler-se o seguinte: «O crime por que
os réus foram condenados se acha amnistiado, assim o julgo e mando que sobre tal
crime se faça perpétuo silêncio.»
Condecorações:
Medalha de Cobre comemorativa da expedição a
França com a legenda: França 1917-1918.
Família:
José Venâncio casou com Maria dos Santos, no
dia 18 de janeiro de 192,0 e tiveram 6 filhos:
1. Maria Lucinda, que
casou com José Pedro e tiveram 3 filhos;
2.
Manuel
Venâncio, que casou com Margarida de Jesus Costa e tiveram 9 filhos;
3.
João
José Venâncio, que casou com Deolinda Marques e tiveram 5 filhos;
4.
António
Venâncio, que casou com Cândida Alves e tiveram 2 filhos;
5.
José
Venâncio, que casou com Maria Lucinda Pinto e tiveram 2 filhos;
6.
Fernando
Venâncio, que faleceu ainda jovem.
«Do que o meu pai mais
falava sobre o tempo em que esteve na guerra era do frio e da fome que por lá
passou. Diz que às vezes o frio era tanto que até parecia que as pernas não
eram dele. E para matar a fome tinham que ir pedir comida por aquelas quintas,
mas os camponeses também não tinham quase nada que lhes dar, porque a miséria
era por todo o lado. Por causa de fugir à procura de comida e faltar aos
trabalhos, foi muitas vezes castigado, ele e os outros companheiros. Também
falava dos gases que os alemães lá deitavam e matavam muita gente, porque
alguns nem máscaras tinham. Ele tinha uma e quando veio ainda a trouxe.
Lembro-me de a ver durante muito tempo lá em casa, mas depois desapareceu.» (testemunho do filho
José Venâncio).
José Venâncio toda a vida foi moleiro. Tinha um
burro e andava de terra em terra a transportar o grão para moer na azenha; teve
uma vida de muito trabalho e poucos ganhos, para sustentar os filhos ainda
pequenos. Viveu sempre com muitas dificuldades, porque a vida de moleiro não
lhe trazia grandes proventos e também não tinha terras para cultivar.
Nunca recebeu nenhuma pensão pelo tempo e
ferimentos que sofreu na guerra; foram os filhos que lhe valeram na velhice,
ajudando-o no seu sustento.
Faleceu em Outubro de 1968. Tinha 75 anos de
idade.
(Pesquisa feita com a colaboração do filho José
Venâncio)
Maria Libânia Ferreira
Do livro: Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra
Um comentário:
Sem esquecer estes grandes homens que andaram na I Grande Guerra, queria referir-me ainda ao post anterior. Lembrei-me de vos alertar para o facto de que talvez haja na Biblioteca Nacional, pelo nenos um número de todas as edições do "Pelourinho" e do "Vicentino". E isto, tanto quanto me parece, porque era obrigatório enviar para lá um exemplar. Só não sei foi quando se iniciou essa obrigatoriedade.
Abraços, hã!
José Barroso
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