Albano Frade
Albano Frade nasceu na Partida, a 4 de dezembro
de 1892. Era filho de António Frade, jornaleiro, e Maria Freire.
Assentou praça no dia 12 de julho de
1912 e foi incorporado no Regimento de Artilharia de Montanha de Castelo Branco,
em 14 de janeiro de 1913. De acordo com a sua folha de matrícula, era analfabeto
e tinha a profissão de jornaleiro; não foi vacinado, nem apresentava indícios
de ter tido bexigas.
Fez a instrução da recruta em Évora e
ficou pronto em 30 de Maio de 1913. Passou ao quadro permanente por sorteio e
foi destacado para a província de Moçambique, para onde embarcou no dia 11 de
setembro de 1914, a bordo do navio inglês Durban Castle. Fez parte da 1.ª
Expedição enviada para aquele território, cujo objectivo principal era reforçar
a defesa das fronteiras dos ataques alemães.
Após mais de um mês de viagem, o Durban
Castle chegou a Lourenço Marques e daí seguiu viagem para Porto Amélia, a norte
de Moçambique. (Albano refere-se a esta cidade nas notas que deixou, dizendo
que esteve lá durante um ano).
Regressou à Metrópole em 9 de setembro
de 1915 e foi licenciado em 11 de março de 1916. Voltou para a terra, onde
continuou a trabalhar como jornaleiro.
A 17 de fevereiro de 1917 voltou a ser
mobilizado e seguiu novamente para Moçambique, em 2 de julho de 1917.
Integrava, desta vez, um contingente de reforço das tropas da 3.ª Expedição que
se encontravam extenuadas e muito diminuídas, em consequência dos ataques
alemães e das doenças que vitimaram muitos militares.
No dia 4 de abril de 1918, terminado o tempo de mobilização, embarcou em
Mocimba da Praia com destino a Lourenço Marques, onde se domiciliou.
Passou voluntariamente ao serviço do
Ultramar, na província de Moçambique, nos termos do Decreto nº 2609-J, em 21
setembro de 1918. De acordo com este decreto, as praças do exército da
metrópole que tivessem terminado o serviço de destacamento nas províncias
ultramarinas podiam, voluntariamente, ser colocados nas guarnições militares
coloniais.
Condecorações:
·
Recebeu
a medalha de cobre das campanhas do exército português na colónia de
Moçambique.
Família:
Antes de partir para Moçambique, Albano
Frade já namorava com Maria de Jesus, uma linda rapariga, como deixou escrito, sua
prima que vivia em Lisboa. O namoro não era do agrado dos pais da noiva, mas o
amor foi mais forte e, quando Albano decidiu ficar em Moçambique, após ter
cumprido o serviço militar, Maria de Jesus foi ao seu encontro. Chegou a
Lourenço Marques em fevereiro de 1923 e casaram em 5 de junho de 1924. Tiveram
3 filhos:
1.
Adélia Frade, que casou com Joaquim Damas
(Adélia faleceu de parto assim como a criança recém-nascida);
2.
António
Albano Frade, que casou com Prazeres Varanda (não deixaram descendência);
3.
Alice
Frade, que casou com Joaquim Damas, viúvo de Adélia, e tiveram 4 filhos.
Os filhos
Albano Frade trabalhou na Direcção do porto e dos caminhos-de-ferro de Lourenço Marques, como capataz de 1.ª classe. Embora
a folha militar refira que Albano Frade era analfabeto na altura da
incorporação, terá estudado durante o serviço militar, uma vez que o cargo de
capataz que desempenhou lhe exigiria ter habilitações académicas.
Este cargo permitiu-lhe ter uma vida de
algum conforto económico e facilitou contactos sociais importantes. Uma das
pessoas com quem privou e a quem se refere várias vezes nas suas notas
biográficas foi Joaquim Ramalho, natural de São Vicente. Seriam amigos desde há
muito tempo, pois tinham feito a recruta juntos e embarcaram na mesma altura
para Moçambique. Para além de amigos, tornaram-se depois compadres, já que Albano
Frade foi padrinho de um dos filhos mais novos de Joaquim Ramalho (Mário) e
Joaquim foi padrinho de uma das filhas de Albano (Alice).
A felicidade do casal não terá durado
muitos anos, pois Maria de Jesus adoeceu gravemente e, contra a sua vontade, mas
por insistência do marido, teve que regressar à metrópole em Maio de 1930. Ficou
a residir com os filhos na Partida. Faleceu passado pouco tempo, em 16 de outubro
de 1931.
Albano Frade continuou em Moçambique,
dividido, como escreveu, entre a dor da perda da mulher e as saudades e
preocupação pelo futuro dos filhos. Entretanto também ele adoeceu e, em 1933, por
conselho da Junta Nacional de Saúde, regressou à terra. Faleceu pouco tempo
depois, a 28 de fevereiro de 1934. Tinha 41 anos de idade.
Interessante é também o facto de Albano,
nas suas notas, referir o seguinte: «...quando
eu cheguei à terra, como tudo julgava que eu ia rico, mas eu não levava vintém,
então mais se arregou na ideia daquela gente que eu era um grande gastador. Eu
podia ter arranjado duas ou três dúzias de escudos, mas não podia ter arranjado
tanto como aquela gente julgava». De facto tinha razão. Segundo o livro de
registos dos militares que participaram nas várias expedições a África,
consultado no Arquivo Histórico Ultramarino, o pré de um soldado era de 6$00
mensais, nalguns casos ainda menos, cerca de metade daquilo que ganhava um homem
a cortar lenha em 1918.
(Pesquisa feita com a colaboração do
neto Luís Damas)
Maria Libânia Ferreira
Do livro "Os Combatentes de São Vicente da Beira na Grande Guerra"
À venda, em São Vicente, nos Correios e no Lar; em Castelo Branco, na Biblioteca Municipal.
O dinheiro da venda
dos livros em São Vicente reverte para a Santa Casa da Misericórdia.