Quando no ano passado o meu cunhado Quim, que comprara uma máquina de varetas, me disse que se colhia com ela muito mais depressa a azeitona, soube que estava lixado. O meu método era (é) arcaico, e consequentemente demorado, e por isso eu não poderia responder aos níveis de exigência cada vez maiores dos lagares, em termos de qualidade da azeitona ali entregue.
Para equacionar mais facilmente a questão, vou-a explanar em dois
tópicos:
- Este ano entreguei azeitona em dois lagares (quantidades
ridículas) e em ambos estive cerca de 5 horas, com filas de dezenas de veículos
a aguardar a sua vez. Primeira conclusão: os lagares não dão resposta ao ritmo
de colha das pessoas.
- No lagar de Vila Velha de Ródão é proibido entregar azeitona
em sacas, norma que eu desconhecia por não ir lá há 3 anos. Uma camioneta carregada
de sacas foi mandada embora e eu fiquei, porque levava pouca, mas toda a
azeitona foi inspecionada e 6 sacas foram recusadas. No Ninho do Açor aceitam
azeitona em sacas, mas com críticas a quem as leva, pois, com o calor que esteve,
a azeitona degrada-se nas sacas em poucas horas. Uma pessoa que levava azeitona
já podre (em sacas) sofreu a pena de a sua produção ser feita à parte (em ambos
os lagares, a azeitona vai para um monte comum e a cada produtor é entregue o
azeite correspondente ao peso de azeitona e ao nível de gordura revelado na análise
realizada no momento da entrega). Segunda conclusão: as sacas de plástico transparente,
tão defendidas há alguns anos, são cada vez menos aceites e de facto contribuem
para a degradação rápida da azeitona, em tempo quente com o que tivemos este
ano, na segunda e terceira semana do mês.
Como perceberam, a falta de resposta dos lagares dificulta a
entrega da azeitona com a melhor qualidade possível. Há lagares que a aceitam
podre, mas eu no ano passado fiquei com azeite de má qualidade porque, num
lagar onde fui, o cliente imediatamente anterior a mim entregou azeitona podre e
a dele e a minha foram feitas juntas, pois eram em pequena quantidade.
O aquecimento global (este ano, os meses de outubro e novembro
bateram recordes) vem agravar este problema, pois na árvore a azeitona vai
sofrer mais com a gafa e, após a colha, a azeitona tenderá a degradar-se depressa.
Para terminar, deixo um apontamento ecológico, sugerindo um
contributo de cada um de nós para mitigar o aumento das temperaturas. Tem a ver
com o que fazer com as ramagens da colheita ou da poda. Portugal vai estar a
arder até lá para março, devido às tradicionais queimas da rama das oliveiras.
As ramagens são carbono. Se ficarem no solo, esse carbono transformar-se-á em
novas ramagens. Se forem queimadas, sobem para a atmosfera na forma de dióxido
de carbono e vão contribuir para o aquecimento global. É verdade que Portugal é
campeão no tráfego aéreo de aviões a jato, é campeão no estacionamento de
navios-cruzeiro (ambos altamente poluentes e restringidos ou proibidos em
alguns países) e está na cauda da Europa em termos de reciclagem (apenas
12% do lixo), mas cada um de nós deve fazer o que está nas suas mãos, para que o
planeta continue a ser habitável para os humanos. Sugestão: amontoar as
ramagens em local onde não estorvem.
José Teodoro Prata