Ando a ler o livro Os sertões, do brasileiro Euclides da Cunha (1866-1909), que fez a reportagem jornalística da Guerra dos Canudos (1896-1897) e posteriormente realizou um estudo sobre os sertões do Brasil (este livro), nas vertentes geográfica, humana e político-militar (neste caso, sobre a guerra acima referida).
O arraial dos Canudos
situava-se no interior do estado da Baía e aí se concentraram milhares de
sertanejos em torno de um louco (António Conselheiro, 1830-1897), a viver à
margem da lei e da Administração Central. Esta guerra foi uma catástrofe
humana, pois morreram cerca de 20 mil membros daquela comunidade sócio
religiosa e 5 mil militares.
Sobre o assunto, foi realizado
um filme (A Guerra dos Canudos) e Mário Vargas Llosa escreveu o romance A
Guerra do Fim do Mundo.
Ora, à página 119, o autor
escreveu que as pétalas das flores recém-abertas «…caem, mortas, sobre a terra
imóvel sob o espasmo enervante de um bochorno de 35º, à sombra.»
As campainhas tocaram na minha
cabeça quando li a palavra bochorno. Lembrei-me da expressão dos meus
pais, quando estava um daqueles calores em que até o ar treme: Hoje está um
pechorro! Ou seria pochorro ou bochorro? Ou mais certamente p´chorro
ou b´chorro? Eu(tu), os meus(vossos) pais e as gerações anteriores fomos alterando oralmente
a palavra bochorno, que existe de facto e significa muito quente.
José Teodoro Prata