É um santo bem esquecido dentro da Igreja Católica, o nosso
São Vicente (há muitos santos Vicente, o nosso é o de Saragoça). Nas Jornadas
Mundiais da Juventude falou-se nele, pois é o padroeiro de Lisboa, a sede do patriarcado
em que se realizaram as jornadas. Mas a net (não estive cá na altura) dá-me informações
pouco substanciais do que foi dito.
Nós próprios o largámos de mão, logo no século XVII, quando o
trocámos por Nossa Senhora como padroeira da nossa igreja. Ele nem padre era,
apenas um diácono (grau anterior à ordenação sacerdotal), quando foi preso,
torturado e morto pelos romanos, por teimar entusiasticamente em proclamar a
sua fé em Cristo (o bispo da sua diocese foi apenas exilado).
Vicente, tal como muitos outros mártires cristãos da Hispânia,
tornou-se logo um símbolo da resistência dos cristãos às perseguições e um
exemplo de fé para os não cristãos (a maioria da população; na região onde
vivemos ainda quase nem chegara o Cristianismo).
O seu culto foi crescendo, tornando-se um dos santos mais
adorados pelos romanos, depois pelos visigodos e, a partir dos inícios do
século VIII, pelos cristãos que persistiram em manter a sua fé cristã, sob
domínio muçulmano (a maioria converteu-se ao Islamismo), os moçárabes. A zona
da nossa freguesia seria um dos locais onde o seu culto era bem forte no
período da Reconquista, sendo por isso que logo se restaurou a povoação ali
existente e lhe foi dado o nome do santo, São Vicente. E durante a Idade Média
havia feira franca em São Vicente da Beira, no dia 22 de janeiro, o dia da sua
festa.
Como acima escrevi, trocámo-lo por Nossa Senhora como divindade
protetora e a sua festa realiza-se agora em conjunto com a de São Sebastião, que
tem poderes de proteger contra as pestes (ontem, à porta da capela, alguém
enrolava uma fita vermelha ao pescoço e dizia que o santo o protegia das
bichas) e promove a partilha cristã, pela realização de bodos para os pobres,
ainda ontem simbolizado pela distribuição de papos-secos, tremoços e filhós
(estavam boas).
Terminada a cerimónia religiosa, o simbolismo do bodo de São
Sebastião prolongou-se por um almoço-convívio na Casa do Povo, que encheu o
salão e se prolongou pela tarde. Obrigado ao Hélder Agostinho que penso ser o
mordomo de São Sebastião e coordenou toda a festa religiosa e profana, obrigado
extensivo à sua família e a todos, muitos, que se fartaram de trabalhar para
proporcionar à nossa comunidade este momento de convívio e partilha.
José Teodoro Prata