Muitos nunca ouviram falar deles e quase todos desconhecem a importância que tiveram para S. Vicente, nos meados do século XX.
Eu ainda conheci o Zé Companhia, como era conhecido, por andar sempre acompanhado de um grupo de aprendizes de pedreiro. Um deles foi o meu pai.
Mas nunca ouvira falar do João Engenheiro que, já reformado e doente, morava no n.º 20 da Rua da Costa, cerca de 1950. Com ele e a sua esposa partilharam os meus pais esta habitação: eles viviam na casa das traseiras e os meus pais, recém-casados, na que dá para a rua.
O João Engenheiro, como lhe chamavam, trabalhou em Lisboa, como desenhador, e voltou à sua terra natal, onde era solicitado por muitos a traçar plantas de casas e de outras obras de arte. Por exemplo, a ele se deve a traça da casa n.º 36 da Rua do Convento, propriedade de José Maria dos Santos, recentemente falecido.
Ao Zé Companhia coube o primeiro alargamento da Rua da Igreja, então estreita e em diagonal, da esquina da casa do Visconde da Borralha à esquina do lado oposto, no fundo da rua. Cortaram-se as casas a direito e reconstruíram-se novas fachadas. Da antiga rua, permaneceram a casa em frente à Igreja e a casa no topo da rua, frente à fonte de Santo António, só cortadas na década de 70. E assim se chegou à via que temos hoje.
Mas foi sobretudo juntos que mais se distinguiram. A Junta de Freguesia da época, presidida por Manuel da Silva, pediu ao João Engenheiro que desenhasse uma fonte para a Praça. Ele traçou-a e o Zé Companhia construiu-a. Foi em 1947 e chamaram-lhe Fonte de São João de Brito.
A seguir, a Junta de Freguesia chamou-os para restaurar o brasão que durante séculos encimara a porta de entrada da Câmara Municipal. Perdera-se a coroa por cima do escudo. O João Engenheiro desenhou-a e o Zé Companhia trabalhou a pedra e inseriu o brasão completo na parede da fachada do edifício dos antigos paços do concelho, onde o podemos admirar.
O João Engenheiro, de quem não sei o nome completo, nasceu e foi criado, na casa n.º 26 da Rua do Beco, onde os pais tiveram uma taberna durante muitos anos. A irmã, Maria de Deus, era a esposa do João Jerónimo (dos Arrebotes), donos da taberna na Rua da Igreja, já referida neste blogue.
José Diogo, em fotografia cedida pela neta Cristina Bartolomeu.
O Zé Companhia era o José Diogo, cuja genealogia apresentamos:
1. Agostinho Diogo casou com Maria de São João, ambos de S. Vicente da Beira, onde viveram na passagem do século XIX para o século XX.
2. José Diogo (1902-1977), filho dos anteriores, casou com Maria do Carmo, também natural de S. Vicente da Beira. O casal teve os seguintes filhos:
3. João Diogo Costa, casado com Ilda Caio; Maria das Dores, casada com João Gonçalves; Manuel Diogo, casado com Ana Maria Rodrigues (ambos falecidos); Maria do Patrocínio, casada com José Duarte (falecido); António do Carmo Diogo, casado com Maria da Conceição Nunes Candeias; José Diogo, casado com Chantal Lamblin.
A fonte de São João de Brito avista-se na esquina da Praça, entre o pelourinho e o coreto. Fonte e coreto foram demolidos cerca de 1970, no âmbito de um plano de remodelação da Praça. A casa com varanda, à esquerda, foi onde nasceu o João Engenheiro. Foto do Pedro Gama Inácio.
A fonte de São João de Brito. Foto do Pedro Gama Inácio. A imagem está invertida.
Pormenor da parte da fonte aproveitada, cerca de 1980, para fazer o fontanário existente junto à capela de São Francisco.
Outra parte da fonte, reaproveitada para fazer este marco de água em tanque, nas obras de requalificação da Praça, em 2003-2004. Ao fundo, a esquina onde se situava a fonte de São João de Brito.
Fachada do edíficio da antiga Câmara Municipal, com o brasão ali colocado cerca de 1950. Durante séculos, o brasão esteve por cima da porta de entrada da Câmara.
O brasão manuelino, com a coroa real recuperada pelo João Engenheiro e pelo Zé Companhia. Mesmo na fotografia conseguem-se notar os diferentes tons das pedras utilizadas nas duas partes.